Volatilidade elevada freia mercado de grãos em 2015

Os cenários mais prováveis projetados para o próximo ano por analistas e consultores sugerem menor contribuição do agronegócio para a balança comercial brasileira. Indica queda ou estagnação das exportações do setor, com retração nos preços médios dos produtos exportados. A equação pressupõe, ainda, que a produção brasileira de grãos seguirá a trajetória antecipada pelos primeiros levantamentos de safra, acrescenta o consultor da MBAgro, José Carlos O’Farrill Vannini Hausknecht. Qualquer frustração pode levar os números mais para baixo.

Geraldo Barros, coordenador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Cepea/Esalq/USP), e Andreia Adami, pesquisadora do centro, avaliam como “característica dominante nos mercados em geral, a elevada volatilidade, decorrente obviamente das questões climáticas, mas também devido a fatores macroeconômicos”. Se de um lado, acrescentam, o quadro macro sugere queda na liquidez e elevação de juros no mercado internacional, com reflexos negativos sobre os preços das commodities, de outro o agronegócio, já naturalmente sujeito a incertezas climáticas, passa a ficar cada vez mais exposto a eventos extremos nesta área, o que tem ocorrido cada vez mais frequentemente.

Por isso, completam os analistas, produtores e exportadores “devem estar preparados para fortes emoções”. Numa avaliação geral sobre os principais produtos da pauta do setor, Barros e Andreia acreditam que os preços em dólares dos grãos e do açúcar, especialmente, “deverão apresentar tendência algo decrescente”, com expectativa de ligeira recuperação para as cotações internacionais do açúcar possivelmente a partir de meados do segundo semestre. Para as carnes, as perspectivas permanecem positivas, o que não deverá ocorrer para a celulose, diante da expectativa de “excedente de oferta, principalmente diante do baixo desempenho econômico e financeiro da economia europeia”.

Nas projeções de Hausknecht, o valor das exportações do setor deverá cair em torno de 3% na comparação com este ano, estimado pela consultoria em alguma coisa ao redor de US$ 99,03 bilhões, quase 1% abaixo do resultado de 2013, quando o agronegócio havia exportado US$ 99,96 bilhões. Provavelmente, “teremos um pouco menos (de exportações) de soja e milho, em receita, e um pouco mais de carnes e café em 2015”.

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Responsável por um terço das vendas externas totais do agronegócio, o complexo soja deverá emplacar novo recorde no próximo ano, ao embarcar algo próximo a 63,2 milhões de toneladas para o exterior, das quais a soja em grão responderá por 48,0 milhões de toneladas, diante de 46,0 milhões esperadas para 2014, na previsão da Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais (Abiove). Em volume, o crescimento esperado será de 5%, respondendo à demanda mundial, que continua aquecida, segundo Fábio Trigueirinho, secretário-geral da Abiove.

Mas a colheita de uma safra histórica nos Estados Unidos, ligeiramente superior a 107,7 milhões de toneladas – “um ponto fora da curva”, na descrição de Trigueirinho – contribuiu para repor os estoques mundiais, pressionando os preços para baixo. Na média prevista para 2015, a cotação do grão, do óleo e do farelo de soja deverá registrar os níveis mais baixos desde 2007, na série histórica do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Essa combinação de fatores levou a Abiove a calibrar sua projeção para as exportações no próximo ano em torno de US$ 23,12 bilhões, queda de quase 25% em relação a 2014 e o valor mais baixo em cinco anos.

A indústria de carnes, ao contrário, espera manter a boa fase, diante de problemas de oferta registrados nos principais concorrentes brasileiros, afetados por questões sanitárias e dificuldades climáticas. Ricardo Santin, vice-presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) para a área de aves, acredita numa expansão entre 3% e 4% nos volumes exportados em 2015. “Será um ano positivo, mas não como em 2014.”

O desempenho das exportações do setor poderá ainda ser potencializado pela crescente demanda por material genético produzido no País – neste ano, diz Santin, as exportações brasileiras de ovos férteis cresceram 56% – e pela multiplicação de episódios de influenza aviária.

Adicionalmente, mais oito plantas estão na reta final para habilitação pela China, sexto maior mercado de destino das aves brasileiras, além das 30 já habilitadas para exportar para aquele mercado. Para o setor de suínos, Rui Saldanha Vargas, vice-presidente da ABPA, aposta em exportações entre 520 mil a 530 mil toneladas de carne suína no próximo ano, frente às 500 mil toneladas previstas para este ano. “O mercado externo tende a repetir o desempenho deste ano, quando problemas sanitários nos EUA e na União Europeia reduziram a oferta mundial, com preços em alta”, avalia Vargas.

 

Fonte: Valor Econômico

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