Sistema de produção bem manejado suporta mais as condições adversas

O Painel “Sistemas Sustentáveis de Produção”, realizado no Estande da Embrapa, fez sucesso com o público do Showtec 2015, em Maracaju (MS). Participaram cerca de 150 pessoas no auditório da Embrapa, das 9 às 12h nos dias 22 e 23 de janeiro.

Quatro assuntos foram apresentados e debatidos entre técnicos, pesquisadores e produtores rurais de vários municípios de Mato Grosso do Sul: Manejo Integrado de Pragas (MIP) em áreas de lavoura vizinhas (pesquisador Crébio José Ávila); Manejo Integrado de Pragas e resistência a herbicidas (pesquisador Germani Concenço), Ajuste Fitotécnico para a realidade de cada região (pesquisador Rodrigo Arroyo), e Integração Lavoura-Pecuária (ILP) e Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) (pesquisadores Júlio Cesar Salton e Ademir Hugo Zimmer).

Os temas foram apresentados em 15 minutos por cada pesquisador e, em seguida, começou o debate entre o público presente, os pesquisadores e os convidados para serem os debatedores: o produtor rural Élvio Rodrigues; o presidente da Agraer Enelvo Felini, e o presidente da AASTEC-MS Ângelo Ximenez.

MIP em lavouras vizinhas
O primeiro alerta do pesquisador Crébio Ávila, da Embrapa Agropecuária Oeste: “O produtor rural, o técnico precisam ter a visão holística do sistema integrado para que seja sustentável. Temos que buscar o equilíbrio biológico, o monitoramento – se não fizer amostragem, por exemplo, não tem como fazer a tomada de decisão –, o uso de produtos seletivos, a tecnologia de aplicação adequada, o manejo concomitante em áreas contíguas”.

Quando se realiza o manejo integrado entre fazendas vizinhas, maximizam-se as estratégias, tornando o controle de pragas mais efetivo com a redução da densidade das populações das principais pragas na soja, evitando os surtos frequentes, diminuindo pragas secundárias e outras vantagens.

Em experimentos da Embrapa Agropecuária Oeste com a Fundação MS na Fazenda Janaína, em Laguna Carapã, e na Fazenda Esperança, em Amambai, MS.

“Em Amambai, em 300 hectares da Fazenda Esperança, duas safras atrás, foi feito manejo e dessecação da forma correta – usamos a soja convencional. Quando aconteceu o pico de lagarta-da-soja, uma aplicação de inseticida foi suficiente para o controle”, contou o pesquisador.

Na área da Fazenda Janaína, em Laguna, os resultados também foram positivos: somente duas aplicações contra percevejo, e os predadores das pragas foram mantidos com a redução do inseticida. Segundo Ávila, contra a ferrugem asiática da soja foi necessária uma aplicação e de forma preventiva.

Alguns problemas detectados na safra 2014/15, foram a ausência de monitoramento e excessivo número de aplicações contra percevejo, o que acarretou a ineficiência de produtos considerados efetivos. “Teve um produtor que fez 11 aplicções de inseticidas, o que é totalmente inaceitável”, disse Ávila, indignado. “Quando se faz o manejo correto, não tem esse problema. E o custo de produção diminui bastante”.

Aplicativo – A grande demanda – por parte de produtores e profissionais da Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) – para reconhecimento das principais pragas da soja, resultou na criação de um aplicativo para dispositivos móveis com 15 pragas da soja. A elaboração do site e do programa de computador foi resultado da parceria das áreas de Pesquisa, Comunicação e Tecnologia da Informação da Embrapa Agropecuária Oeste. Durante o Showtec 2015, os visitantes da Feira puderam acessar o site por meio do QR Code no material gráfico da Embrapa.

Supressão de plantas invasoras
Excesso de buva em lavouras com sucessão de soja e milho solteiro tem sido observado em diversas áreas em propriedades de Mato Grosso do Sul. “A proliferação da buva aparece principalmente onde não há palha no sistema”, explicou Germani Concenço, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste.

Essa planta daninha exige processo de luz para iniciar o processo vegetativo. Dependendo da altura da planta, nem mesmo muitas aplicações de inseticida consegue controlar a proliferação. “A supressão depende do cuidado do produtor”, reforça Concenço.

Um dos motivos apontados para a alta ocorrência de buva – e há algumas safras, o capim-amargoso – é que um dos princípios do Sistema Plantio Direto (SPD) não tem sido seguido: o não-revolvimento do solo (além desse, é necessária a diversificação de culturas; pelo menos dois cultivos por ano e manutenção da palha no solo).

“O produtor que faz SPD da forma correta não tem problema com buva. Se tiver problema, pode ter certeza que existe alguma deficiência no manejo”, afirma Concenço. Entre os sistemas sustentáveis de produção eficientes no controle das invasoras estão o milho com braquiária e a integração lavoura-pecuária.

Ajuste fitotécnico
Cada Região do Brasil tem suas particularidades na agropecuária. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o pesquisador Rodrigo Arroyo aponta que existem diversos sistemas de produção como canavieiro, florestal, cultivo de algodão, de mandioca, pecuária extensiva, diversificação de outras espécies, mas, muitos desses sistemas produtivos são extremamente segmentados. “Existe heterogeneidade, o que é bom, mas não são integrados”.

Outro entrave apontado é a ausência da diversificação de cultivares e épocas de plantio. “O produtor planta uma ou duas cultivares no menor intervalo de tempo possível. Esse modelo é extremamente suscetível, principalmente ao estresse hídrico”, alerta Garcia.

A recomendação é que o produtor diversifique as espécies de cultivo, incluindo no sistema cultivo de milho verão, forrageiras, algodão, aveia, crotalária, entre outras, não esquecendo as condições de clima e solo de cada região e o potencial das espécies. E o ajuste fitotécnico possibilita que o produtor rural explore o potencial da região, adapte o sistema produtivo de acordo com as mudanças e reduza problemas de pragas, doenças, plantas invasoras com manejo integrado.

ILP e ILPF
Os sistemas que integram lavoura, pecuária e floresta proporcionam a formação de raízes das plantas com capacidade espetacular de melhorar a qualidade solo – física e quimicamente.

De acordo com estudos publicados pelos pesquisadores da Embrapa Agropecuária Oeste Júlio Salton e Michely Tomazi, no Comunicado Técnico Sistema Radicular de Plantas e Qualidade do Solo, “o sistema radicular das braquiárias é bastante eficiente em promover a estruturação adequada do solo, com de agregados estáveis, macroporosidade e canais, o que promove ambiente favorável para o crescimento do sistema radicular da cultura subsequente, como a soja”.

Salton também falou da importância da manutenção da palha que ocorrem na ILP e ILPF. Por meio de uma simples planilha, o pesquisador mostra como calcular em reais quanto valeria a palha por hectare, já que a palhada proporciona a agregação de nutrientes e matéria orgânica que são liberados no solo e economizados. “Dependendo da situação, chegamos a valores que surpreendem”, afirma.

Sílvia Zoche Borges, Embrapa Agropecuária Oeste

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