Setor produtivo do cacau quer dobrar produção de amêndoas em 10 anos

Presidente da Abag e Academia Nacional de Agricultura da SNA, Caio Carvalho salienta que o Equador ampliou a produção e empatou com o Brasil na sexta posição do ranking dos maiores produtores de cacau, liderado por Costa do Marfim e Gana, na África. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação
Presidente da Abag e da Academia Nacional de Agricultura da SNA, Caio Carvalho salienta que o Equador ampliou a produção e empatou com o Brasil na sexta posição do ranking dos maiores produtores de cacau, liderado por Costa do Marfim e Gana, na África. Fotos: Gildo Mendes/AE/Divulgação

A cadeia produtiva de cacau se mobilizou em torno de um desafio: dobrar a produção de amêndoas em dez anos, passando da média anual de 200 mil toneladas atuais, para 400 mil toneladas. No ano passado, depois de 26 anos, o Brasil voltou a exportar cacau, mas ainda falta produto para atender ao mercado doméstico e à demanda externa.

Mesmo com uma procura menor para a fabricação de chocolate, em 2016, a indústria teve de aumentar a importação da matéria prima em razão da quebra da safra nacional em cerca de 20%.

Presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e da Academia Nacional de Agricultura, da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Luiz Carlos Correa Carvalho, mais conhecido como Caio Carvalho, lembra que, a partir de 1995, o país passou de exportador para importador de cacau.

Segundo ele, essa mudança ocorreu por causa de dois grandes impactos: a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) começou a focar em outras culturas e também por causa da ocorrência da vassoura-de-bruxa, doença fúngica que, praticamente, destruiu as lavouras cacaueiras do Brasil.

Os Estados da Bahia e Pará contribuem com 96% da produção brasileira de cacau. Além de Nova Fronteira, no oeste baiano, outras regiões de pouca tradição estão apostando na cacauicultura, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Sergipe, Ceará e Espírito Santo.

“Costa do Marfim e Gana, na África, são ao maiores produtores de cacau. Já o Brasil, responde por 5% da oferta mundial e está na sexta posição do ranking dos maiores produtores, junto o Equador que ampliou a produção e empatou com o país”, disse Caio Carvalho, na abertura do Fórum Estadão – A Importância do Cacau na Economia Brasileira, realizado dia 10 de novembro, em São Paulo (SP).

“A produção mundial de cacau na safra 2015/16 é estimada em 4,3 milhões de toneladas. Neste ciclo, a Costa do Marfim vai produzir dez vezes mais que o Brasil”, afirmou Eduardo Brito Bastos, diretor da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). “Nosso objetivo, para os próximos dez anos, é ocupar o terceiro lugar do ranking mundial dos produtores com a ampliação da safra para 400 mil toneladas”, acrescentou.

 

“Nosso objetivo, para os próximos dez anos, é ocupar o terceiro lugar do ranking mundial dos produtores com a ampliação da safra de cacau para 400 mil toneladas”, disse Eduardo Brito Bastos, diretor da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC).
“Nosso objetivo, para os próximos dez anos, é ocupar o terceiro lugar do ranking mundial dos produtores com a ampliação da safra de cacau para 400 mil toneladas”, disse Eduardo Brito Bastos, diretor da Associação Nacional das Indústrias Processadoras de Cacau (AIPC). Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação

AMPLIAR A PRODUÇÃO

Segundo Bastos, o primeiro passo para chegar a essa meta é ampliar a produção em 100 mil toneladas, em cinco anos. “Ao agregar 100 mil toneladas, além do benefício econômico, a cultura do cacau também proporcionará um benefício social, ao ampliar a oferta de mão de obra. Considerando uma produção média de 500 quilos de amêndoas por hectare, calcula-se a ocupação de 20 mil famílias em cinco anos”, explicou.

De acordo com o diretor da AIPC, apenas 100 mil toneladas a mais de cacau resultariam em R$ 15 bilhões, em 10 anos, sendo R$ 1 bilhão de renda bruta para o produtor, R$ 2 milhões na indústria esmagadora, R$ 4 bilhões na indústria de chocolate e R$ 8 bilhões no varejo.

“Para alcançar a meta de 400 mil toneladas, precisamos do apoio do governo que deveria incluir no Plano Safra o incentivo ao cacau”, defendeu Francisco Jardim, que representou o ministro Blairo Maggi no Fórum.

 

IMPORTÂNCIA SOCIAL

O Secretário de Desenvolvimento Rural do Governo do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues ressaltou a importância social da cultura do cacau: “95% da produção de cacau saem da agricultura familiar e de assentamentos da reforma agrária”.

 

Secretário de Agricultura da Bahia, Jerônimo Rodrigues ressaltou a importância social da cultura do cacau: “Cerca de 90% da produção de cacau sai da agricultura familiar e de assentamentos da reforma agrária”. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação
Secretário de Desenvolvimento Rural do Governo do Estado da Bahia, Jerônimo Rodrigues ressaltou a importância social da cultura do cacau: “Cerca de 90% da produção de cacau sai da agricultura familiar e de assentamentos da reforma agrária”. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação

“São cerca de 5 milhões de produtores, com média de 3 hectares e produtividade média de 520 quilos por hectare”, salientou Bastos, da AIPC.

Vice-presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado da Bahia (Faeb), Guilherme Moura comentou que, além da perda de receita, os focos de vassoura-de-bruxa resultaram em 250 mil pessoas desempregadas, afetando o equilíbrio social.

Na opinião do secretário de Agricultura da Bahia, os principais entraves à cacauicultura são os problemas de gestão, a doença vassoura-de-bruxa e o clima.

“Não temos desafios nos aspectos tecnológicos, mas também enfrentamos gargalos em relação ao financiamento, à assistência técnica e ao relacionamento com as cadeias das indústrias”, apontou Rodrigues. “Precisamos resgatar o lugar do cacau.”

“Temos de lançar um novo olhar sobre a cadeia do cacau, trabalhar de forma articulada a Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira (Ceplac)  e outros órgãos e atrair financiamentos para o setor”, reivindicou Moura, da Faeb.

 

Vice-presidente da Faeb, Guilherme Moura diz que “temos de lançar um novo olhar sobre a cadeia do cacau, trabalhar de forma articulada a Ceplac e outros órgãos e atrair financiamentos para o setor”. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação
Vice-presidente da Faeb, Guilherme Moura diz que “temos de lançar um novo olhar sobre a cadeia do cacau, trabalhar de forma articulada a Ceplac e outros órgãos e atrair financiamentos para o setor”. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação

TENDÊNCIAS

Dentre as tendências da cacauicultura, Sérgio Murilo Correia Menezes, diretor da Ceplac, mencionou a mecanização, os sistemas agroflorestais (SAF), o monocultivo com irrigação, a clonagem e o surgimento de novas fronteiras em Jequié, Eunápolis e Bom Jesus da Lapa, na Bahia.

Menezes apresentou os resultados da Fazenda Tucumirim, do produtor Thiago Feitosa, Em Valença, BA, que saiu de 50 arrobas por hectare para 250 arrobas opor hectare com cacau clonado em consórcio.

“Uma novidade, na propriedade, é a secagem das amêndoas do cacau em estufas solares, substituindo as estufas a lenha”, relatou.

 

Dentre as tendências da cacauicultura brasileira, o diretor da Ceplac Sérgio Murilo Correia Menezes cita a mecanização, os sistemas agroflorestais (SAF), monocultivo com irrigação, a clonagem e o surgimento de novas fronteiras. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação
Dentre as tendências da cacauicultura brasileira, o diretor da Ceplac Sérgio Murilo Correia Menezes cita a mecanização, os sistemas agroflorestais (SAF), monocultivo com irrigação, a clonagem e o surgimento de novas fronteiras. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação

Patrícia Moles, da Agrícola Conduru, começou há 13 anos na indústria de moageira de cacau e, em 2014, virou produtora. Atualmente, possui 800 hectares de cacau Cabruca (plantio de cacau sob a sombra de árvores nativas).

“O Brasil é o único país do mundo que produz, processa, comercializa e consome”, destacou Patricia que citou como tendências mundiais de consumo os seguintes apelos: mercado artesanal, luxo, Premium, saudável e preço justo.

 

EXPANSÃO DA CULTURA NO PARÁ

A cadeia produtiva do cacau do Estado do Pará está em expansão e representa uma economia circulante de R$ 600 milhões, através dos municípios e dos produtores, segundo o secretário de Desenvolvimento Agropecuário do Pará, Hildegardo Nunes.

“Além do aspecto econômico, vale destacar o serviço ambiental proporcionado pelo cacau, seja em sistemas florestais e seja em plantio solteiro para a recomposição de áreas de reserva legal”, afirmou e acrescentou: “Precisamos transformar o cacau em estratégia nacional”.

 

Secretário de Desenvolvimento Agropecuário do Pará, Hildegardo Nunes destacou, além do aspecto econômico, o serviço ambiental proporcionado pelo cacau, seja em sistemas florestais e seja plantio solteiro para a recomposição de áreas de reserva legal. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação
Secretário de Desenvolvimento Agropecuário do Pará, Hildegardo Nunes destacou, além do aspecto econômico, o serviço ambiental proporcionado pelo cacau, seja em sistemas florestais e seja plantio solteiro para a recomposição de áreas de reserva legal. Foto: Gildo Mendes/AE/Divulgação

Pelas estimativas da Ceplac-Pará, em 2015/2016, a safra de cacau do estado deve alcançar 115 mil toneladas em uma área plantada de 150 mil hectares. “Saltamos de 60 mil toneladas, em 2011, para 115 mil toneladas em 2016”, afirmou Nunes.

“Conforme dados da Ceplac, a produtividade do Pará supera a média de 900 quilos de amêndoas por hectare”, informou o secretário de Desenvolvimento Agropecuário do Pará, destacando que o Estado está trabalhando para alcançar 240 mil toneladas de amêndoas secas.

 

Por equipe SNA/SP

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