Setor e governo divergem sobre mais etanol na gasolina

A presidente da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, declarou que uma das “medidas emergenciais” para auxílio na crise do segmento é o aumento de 25% para 27% no percentual de etanol na gasolina. A legislação atual permite mistura entre 17% e 25% nos combustíveis e uma modificação legal está em discussão com Ministério da Agricultura, para que se cheguem aos 27%. Porém, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, adiantou a jornalistas que esta hipótese é possível, mas não está sendo cogitada pelo governo.

As declarações da presidente da Unica foram dadas durante a apresentação das projeções para a safra 2014/15 do setor sucroenergético para o Centro-Sul, realizada ontem (23), e Mantega falou após participar de um evento na Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O presidente da Frente Parlamentar de Agricultura e Pecuária, deputado federal Luís Carlos Heinze (PP-RS) disse ao DCI que o setor tem feito uma pressão sobre o governo para a mudança na legislação que aumenta o etanol na gasolina, posicionamento apoiado pelos parlamentares.

A crise no setor sucroalcooleiro segue preocupante. De acordo com a Unica, estima-se que pelo menos dez unidades produtoras confirmem paralisação das atividades na safra 2014/2015. O diretor técnico da organização, Antonio de Padua Rodrigues, lembra que já existem cerca de 30 unidades em processo de recuperação judicial e outras em condições financeiras “delicadas”.

Farina destaca que o segmento está imerso a uma conjuntura de problemas que partem desde a política macroeconômica em geral, “que não é contra o setor, mas gera efeitos diretos”, diz.

“Há uma interlocução constante com o governo, eles têm acompanhado o que está acontecendo”, enfatiza a presidente. Para Farina, algumas medidas a curto prazo que poderiam ser tomadas para auxiliar na minimização da crise são: “finalizar a implantação das desonerações de PIS e Cofins; facilitação nas exigências de crédito do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico], mudança na concepção dos instrumentos de controle inflacionário e o aumento de etanol na mistura com a gasolina, que viria como um socorro ao setor”, argumenta a presidente.

Farina avalia que o controle de preços para combate à inflação tem gerado efeitos muito negativos sobre a oferta do biocombustível. Para ela, a questão principal não é despertar a demanda, mas sim o investimento neste nicho do setor, afetado pela falta de perspectivas sobre o rumo da política nacional de combustíveis.

Representantes do setor sucroalcooleiro apostam no etanol como o principal destino da produção, por questões mercadológicas. “Queremos mais anidro, mais hidratado e menos açúcar, porque o biocombustível remunera melhor”, explica o diretor técnico da Unica.

Na última safra, o preço pago ao produtor pelo etanol hidratado teve alta, ficou em R$ 1,21 por litro, ante R$ 1,12 por litros pagos em 2012/2013. Já o anidro remunerou R$ 1,37 por litro contra R$ 1,26 por litro, no mesmo período.

Na contramão, Mantega aposta na queda dos preços do biocombustível para auxiliar no combate à inflação. “Agora estamos no período em que o etanol aumenta sua produção. Quando entrar a safra, vai reduzir o preço do etanol e também dos combustíveis. Isso vai acontecer entre maio e junho”, estima.

Expectativas

Projeções da entidade indicam que, para a safra 2014/2015, 56,44% da cana-de-açúcar processada seja destinada à produção de etanol, um avanço de 1,66 ponto percentual em relação ao registrado na safra 2013/2014.

Neste cenário, espera-se que o biocombustível atinja 25,87 bilhões de litros – leve alta de 1,20% quando comparado aos 25,57 bilhões da última safra – sendo 14,63 bilhões de hidratado e 11,25 bilhões do anidro.

A moagem de cana-de-açúcar deve atingir 580 milhões de toneladas contra as 596,94 milhões de toneladas na última safra, em função de uma possível quebra de até 15% na produção. O volume de processamento deve ficar 2,84% abaixo do verificado na safra 2013/2014.

Houve um aumento de 5% na área plantada, mas a estiagem prejudicou os níveis de produção e a produtividade da cana. Segundo a entidade, o rendimento da área a ser colhida na safra 2014/2015 deve cair em 8% quando comparado a 2013.

De acordo com o gerente-geral de produtos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), Luiz Antonio Dias Paes, as estimativas foram realizadas considerando a possibilidade do fenômeno El Niño no próximo semestre, com aumento de chuvas a partir de agosto e intensificação em setembro.

“Apesar da redução nas perspectivas, isto não se deve ao El Niño. Neste ano, o fenômeno pode trazer efeitos mais positivos do que negativos, a menos que as chuvas venham por longos períodos sem intervalos. Os prejuízos possíveis estariam na colheita e na redução dos níveis de ATR [Açúcar Total Recuperável]”, conclui Paes.

Fonte: DCI

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