Setor de carnes traz oportunidades de negócios com a China

Painel sobre setor de carnes reúne especialistas e representantes das empresas mais importantes do mercado. Foto: Luis Prado/CEBC
Painel sobre setor de carnes reúne especialistas e representantes das empresas mais importantes do mercado. Foto: Luis Prado/CEBC

O mercado de proteínas animais apresenta grande potencial de investimentos brasileiros na China, conforme estudo de oportunidades no país asiático, divulgado recentemente e que analisou oito setores ligados ao agronegócio: carnes (suína, bovina e de frango), suco de laranja, calçados, celulose, soja e café.

Segundo a Agência de Brasileira de Promoção das Exportações (Apex-Brasil) e o Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC), que apresentaram a pesquisa “Oportunidade de Comércio de Investimento na China”, durante encontro em São Paulo,  o consumidor chinês acredita que o produto importado é de melhor qualidade.

Cláudio Frischtak, da consultoria Inter.B e consultor do CEBC, afirmou que o processo de transição da economia chinesa abre oportunidades de consumo, uma das prioridades das famílias, junto com a segurança alimentar.

“Além de ter uma população numerosa, há uma classe média concentrada nas áreas urbanas que está ocidentalizando hábitos”, disse. Ele considera a China um parceiro cada vez mais importante para o Brasil no setor de carnes.

Dentre as proteínas de origem animal, a suína é a preferida, com 64% do consumo, seguida pela carne de frango (21%) e bovina (8%). A expansão de redes de fast food é um dos motores da exportação de carne brasileira para a China, segundo o estudo que ressaltou o potencial para os produtos do Brasil no mercado chinês.

 

Cláudio Frischtak, consultor do CEBC, afirma que, além de ter uma população numerosa, há uma classe média concentrada nas áreas urbanas que está ocidentalizando hábitos na China. Foto: Luis Prado/CEBC
Cláudio Frischtak, consultor do CEBC, afirma que, além de ter uma população numerosa, há uma classe média concentrada nas áreas urbanas que está ocidentalizando hábitos na China. Foto: Luis Prado/CEBC

 

“A expansão das redes de fast food é um reflexo da urbanização chinesa e de sua abertura de mercado”, observou Clara Santos, representante da Apex-Brasil, durante painel sobre o setor de carnes.

“A China é complementar a outros mercados, por consumir partes pouco comuns em outros locais”, ressaltou ela, destacando  que a carne de frango, como substituta da suína, é a que possui maior estabilidade-preço.

“O crescimento das cadeias fast food especializadas em frango (KFC) favorece o aumento do consumo e acena com possível oportunidade para restaurantes brasileiros estilo galeto”, anunciou Clara.

De acordo com o estudo, o consumo per capita chinês saltou de 4,6 quilos por pessoa, em 2000, para dez quilos em 2013. Até 2018, a expectativa é chegar a 12,3 quilos de carne de frango.
BOVINOS

“Precisamos melhorar o acesso à China, que é o grande mercado para o produto brasileiro de alto valor”, sugeriu Wilson Mello Neto, diretor de Relações Institucionais e Comunicação Externa do Grupo JBS.

Em sua opinião, o País deve reduzir as exportações para o mercado chinês, via Hong Kong. “Acessar diretamente a China é o grande desafio brasileiro. Estamos perdendo preço”, justificou.

A JBS tem as três proteínas (suína, bovina e de aves) produzidas em diferentes lugares, em todos os países exportadores, de acordo com o executivo.

“É no boi que existe a maior oportunidade, porém, falta estratégia brasileira no sentido de melhorar a performance e chegar ao consumidor final com um produto de valor agregado e com marca”, salientou Mello Neto, acrescentando que a o desafio é acessar o mercado com qualidade.

Na avaliação de Fernando Sampaio, diretor executivo da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec),  a China será o grande mercado brasileiro de carne bovina no futuro.

“Depois do fim do embargo chinês ao produto brasileiro, ocorrido no ano passado, as atenções se concentraram no estabelecimento de um protocolo sanitário”, disse. “O Brasil está fora do mercado mundial, devido a barreiras comerciais. Precisamos trabalhar a nossa imagem”, acrescentou.

Allysson Navarro, diretor de Atacado e Exportação do Grupo Marfrig, conta a empresa mira as companhias de fast food. “O mercado chinês é o foco principal do grupo, tanto que fazemos investimentos constantes e temos participação no Mc Donald’s”, relatou. “Se a China aumentar o consumo de carne bovina em 1 quilo per capita (1,5 milhão de toneladas), o equivalente a toda exportação do Brasil em 2014”, completou.

Atualmente, o consumo per capita chinês de carne bovina é de cinco quilos por ano, ante 38 quilos no Brasil e 62 a 63 quilos na Argentina e no Uruguai.

ACESSO

Marcos Jank, diretor global de Assuntos Corporativos da Brasil Foods (BRF), também destacou a forte complementaridade chinesa no agronegócio e ressaltou que, apesar do potencial do mercado, somente 10% da população do país tem acesso livre à carne brasileira.

“Faz falta um maior relacionamento com os países asiáticos, especialmente com a China. As oportunidades de parcerias são imensas, temos de tentar construí-las”, observou.

Jank também ressaltou o potencial do Brasil, “que tem recurso natural combinado com alta tecnologia”, e teceu críticas à logística, baseada no  modal rodoviário.

Embora tenha o menor consumo per capita que as demais proteínas de origem animal, o estudo revela que a carne bovina é a que apresenta maior potencial de crescimento. Além das redes de fast food, cita a oportunidade para ingresso de churrascarias brasileiras, como os estabelecimentos coreanos e steakhouses norte-americanas que funcionam naquele país.

O diretor da BRF, no entanto, mencionou problemas na exportação direta ao mercado chinês como fator limitante ao trabalho de imagem e ao posicionamento da carne brasileira como produto de alta qualidade.

Marcos Jank, da BRF: “Faz falta um maior relacionamento com os países asiáticos, especialmente com a China. As oportunidades de parcerias são imensas, temos de tentar construí-las”. Foto: Luis Prado/CEBC
Marcos Jank, da BRF: “Faz falta um maior relacionamento com os países asiáticos, especialmente com a China. As oportunidades de parcerias são imensas, temos de tentar construí-las”. Foto: Luis Prado/CEBC


SUÍNOS

Jurandi Soares Machado, diretor executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), lembrou que em 2017 o mercado chinês deve ser o maior importador de carne suína do mundo.

“O governo brasileiro precisa avançar nos seus acordos. Se não fornecermos a garantia sanitária, não vamos aproveitar essa oportunidade de mercado”, alertou.

O vice-presidente da ABPA, Ricardo Santin, mencionou as exportações de pés de frango para a China, iguaria presente na culinária do país asiático.

“Enquanto a tonelada de pé de frango é vendida para a China, por US$ 2.500, no mercado brasileiro seria comercializada por US$ 500 por tonelada”, compara para mostrar o valor agregado de um produto que não é apreciado no Brasil.

Jurandi Soares Machado e Ricardo Santin, respectivamente, diretor executivo e vice-presidente da ABPA, destacam potencial para carne suína com garantia sanitária. Foto: Luis Prado/CEBC
Jurandi Soares Machado e Ricardo Santin, respectivamente, diretor executivo e vice-presidente da ABPA, destacam potencial para carne suína com garantia sanitária. Foto: Luis Prado/CEBC

De acordo com o estudo, o setor de suínos está em fase de consolidação na China, um movimento relacionado à pressão por maior controle sanitário. O setor é bastante fechado a investidores estrangeiros, mas, segundo o levantamento, a processadora de carne suína Smithfield Foods deve ter acesso facilitado com a aquisição pelo WH Group.
Por equipe SNA/SP

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