Setor agrícola adere a protestos em favor do impeachment

Entidades e produtores rurais de Mato Grosso, principal Estado produtor de grãos do país, juntam-se às manifestações a favor do impeachment e contra a corrupção.

No final da tarde desta quinta-feira (17), havia manifestações em cinco trechos das rodovias BR-163 e BR-364: Rondonópolis, Cuiabá, Nova Mutum, Lucas do Rio Verde e Sorriso.

Os participantes das manifestações formavam um público bem variado, que ia de produtores rurais a caminhoneiros, passando por maçons e apoiadores da redução de tributos.

E outras manifestações virão na próxima semana. Na avaliação de entidades e produtores, há necessidade de mudanças urgentes na direção política e econômica do país.

Mas há um problema, segundo eles: o histórico dos que estão na fila para eventuais substituições dos que saem.

Endrigo Dalcin, presidente da Aprosoja (Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso), diz que é necessária a mudança do governo porque “não existe a possibilidade de reversão da situação atual”. As coisas pioram na política e complicam ainda mais a economia, segundo ele.

O agronegócio já começa a ser afetado por essa instabilidade. Dalcin elenca dificuldades de crédito, custos elevados de produção e incertezas do câmbio entre os principias problemas no campo.

“As indecisões políticas levam às incertezas econômicas. Todo esse governo precisa ser trocado”, diz ele.

ELEIÇÕES

O presidente da Aprosoja diz que a saída é a realização de novas eleições, o que daria confiança ao mercado.

Rui Prado, presidente do Sistema Famato/Senar, também concorda sobre a necessidade de novas eleições. Afirma, no entanto, que “o povo brasileiro precisa das decisões dos políticos”.

A Famato está convocando uma reunião, em Cuiabá, para a próxima segunda-feira (21) a fim de discutir impeachment e corrupção. Entre os convidados estão políticos de vários partidos.

“Será uma reunião suprapartidária, e os políticos precisam ouvir o que a classe empresarial tem a dizer”, afirma.

Nílton José de Macedo, presidente da Fetagri (Federação de Trabalhadores da Agricultura e Pecuária), uma entidade que congrega 500 mil trabalhadores da agricultura familiar e assalariados no campo em Mato Grosso, também participará da reunião de segunda-feira.

Diz, no entanto, que vai discutir a questão rural nessa conjuntura política, não se posicionando a respeito do impeachment.

“Hoje até que não está ruim para a agricultura familiar, mas há sinais de uma piora, principalmente na área de previdência”, diz ele.

A situação econômica do país é ruim, mas a política é pior ainda, segundo Macedo.

“A única saída é um plano para tirar o país dessa crise, mas está difícil acreditar em políticos”, acrescenta.

Dalcin concorda em que o cenário não é muito bom, tendo em vista os políticos que estão na fila para substituir os que devem sair. “Até o PSDB já está contaminado pela Lava Jato”, diz ele.

Mesmo sendo o setor ainda menos afetado pela crise econômica, Dalcin diz que os produtores já abandonaram os investimentos em máquinas, silos e abertura de novas áreas.

“Vamos apenas utilizar as áreas mais produtivas para obter o máximo de produção. Os custos estão altos demais.”

DANÇA DAS CADEIRAS

Para elucidar o momento difícil do pais, Dalcin diz que “há uma cadeira com 40 políticos rodando em volta. Quando a música parar, não se tem a mínima ideia de quem vai ocupar o assento”, diz ele.

Glauber Silveira, presidente da Associação de Reflorestadores e da Câmara Setorial da Soja, diz que realmente está difícil uma solução para o país.

O problema passa não só pelo Congresso Nacional mas também pelo Judiciário.

Com relação aos políticos, ele acredita que deveriam ser convocadas novas eleições para todo o sistema brasileiro.

Quanto ao Judiciário, afirma que parte do STF (Supremo Tribunal Federal) está impregnada por interesses políticos.

E a falta de instituições sérias coloca em perigo até o agronegócio, que ainda sobressai em relação a essa crise.

Um dos exemplos, segundo ele, é a tentativa atual de colocar impostos sobre o setor.

 

Fonte: Folha de S.Paulo

 

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