Revista Safra: Milho – segunda safra a caminho

 

Com o plantio do milho safrinha finalizado dentro do mês de março, apesar de alguns atrasos na retirada da safra de verão por conta da umidade das vagens de soja, o produtor aguarda agora pela sorte, que se traduz em um volume de chuvas adequado nos próximos meses. Confirmando as expectativas o resultado será ainda melhor que o previsto no mês passado. Diferentes consultorias projetam produções que variam entre 88,9 milhões de toneladas a 98 milhões de toneladas de milho na primeira e segunda safras, sendo a segunda responsável por quase 60 milhões de toneladas do grão no país.

No Centro-Oeste, que concentra maior parte da produção nacional, a área plantada é estimada em 7,122 milhões de hectares, incremento de 5,6% em relação ao plantio passado. Em Mato Grosso, a semeadura chegou aos 98,74% já na primeira semana de março, mais de seis pontos percentuais acima do cultivado no mesmo período de 2016. Goiás conseguiu cultivar suas lavouras do grão em janela adequada, nos meses de janeiro e fevereiro, restando pouco para os primeiros 20 dias do mês passado, quando foi finalizado o plantio.

No Paraná a safrinha de milho poderia ser maior se não ocorresse o atraso provocado pela colheita da soja, que levou alguns produtores a desistirem do plantio do grão. Da mesma forma ocorreu em Mato Grosso do Sul, sendo que o plantio ocorreu mais rapidamente no sul do Estado, onde a colheita da soja começou primeiro.

Com as boas projeções especialmente destes quatro Estados, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projeta 88,45 milhões de toneladas nas duas safras brasileiras de milho, sendo 58,6 milhões de toneladas oriundos da segunda safra. A Companhia Nacional do Abastecimento (Conab) estima safra de 88,9 milhões de toneladas de milho no Brasil, sendo 29,3 milhões de toneladas na primeira e 59,67 milhões de toneladas na segunda safra, que será colhida de junho a agosto.

Ambos os resultados refletem aumento de área de 2,5% e 6,8% respectivamente, sobre os mesmos períodos da safra passada (2015/2016), mas também representam melhora significativa na expectativa de produtividade na comparação com o ciclo anterior. O incremento de quilos por hectare na primeira safra do cereal é estimado em 10,6% e no da segunda, em 37,3%.

A produção da segunda safra vai ser liderada mais uma vez pelo Estado de Mato Grosso, que deve colher 23,4 milhões de toneladas, seguido pelo Paraná (12,16 milhões de toneladas), Mato Grosso do Sul (8,7 milhões de toneladas) e Goiás (7,18 milhões de toneladas).

Em relação à safra total, a Sociedade Nacional da Agricultura (SNA) prevê 90,5 milhões de toneladas e baseia-se em estudo da Thomson Reuters, que apurou estimativas de 18 consultorias, indicando aumento de 36% em relação à temporada anterior, fortemente prejudicada pelo clima. De acordo com o vice-presidente da entidade, Helio Sirimarco, no início de fevereiro, o levantamento indicava uma safra de 89,6 milhões de toneladas. “Para a safra de milho de inverno, a chamada “safrinha”, a média de 12 estimativas aponta para uma colheita de 60,6 milhões de toneladas”, diz ele.

Já a projeção da consultoria Safras & Mercado, dá conta de uma produção de 97,998 milhões de toneladas na temporada 2016/2017, o que representa alta de 38,5% sobre a safra anterior, de 70,754 milhões de toneladas. O resultado, mais uma vez, se dá por conta da melhora na produtividade. A consultoria projeta elevação de 3,7% na área a ser plantada, que ocuparia 17,39 milhões de hectares. No ano anterior, a semeadura ocupou 16,765 milhões de hectares. O levantamento projeta rendimento médio de 5.635 quilos por hectare, montante acima da temporada anterior, quando a produtividade ficou em 4.220 quilos por hectare.

Ainda segundo o levantamento da Safras& Mercado, a segunda safra terá queda na área plantada, que este ano deverá ficar em 10,697 milhões de hectares de milho contra 11,319 milhões do ciclo anterior (2015/2016). Com rendimento de 5.446 quilos por hectare, a produção da safrinha no Centro-Sul está estimada em 58,264 milhões de toneladas, 30,5% acima do que a obtida em 2015/2016, de 44,659 milhões de toneladas. No Norte e Nordeste, a consultoria indica produção de 6,264 milhões de toneladas para as Regiões Norte e Nordeste, bem acima das 3,393 milhões produzidas no ano anterior.

O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) aumentou a previsão de área planta da em sua última estimativa para a safra 2016/2017. A previsãoé que 4,57milhões de hectares sejam semeados na segunda safra mato-grossense, aumentando assim em 150,26 mil hectares ante a seu último levantamento realizadoem novembro, graças às expectativas de melhores condições climáticas para o ano agrícola e o adiantamento da colheita da soja.

Grande parte das áreas destinadas ao milho foi semeada dentro da janela ideal, com boas perspectivas climáticas, exceto na região oeste do Estado, onde o excesso de chuvas diminuiu a expectativa. A previsão do instituto é de 96,6 sacas por hectare na média de Mato Grosso. Isso representa um aumento de 2,65% ou 2,5 sacas por hectare quando comparada a estimativa realizada em novembro de 2016.

Dessa forma, o Imea estima que serão produzidos 26,51 milhões de toneladas de milho na safra 2016/2017 em Mato Grosso, aumentando assim cerca de 5,85% ante a estimativa de novembro, quando apresentava 25,04 milhões de toneladas.

No Paraná, o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab) informou que o plantio de 89% da área prevista para milho segunda safra já havia sido concluído na primeira quinzena de março e 100% das lavouras se desenvolviam em boa condição.

O produtor goiano também conseguiu plantar praticamente toda a segunda safra de milho dentro da janela ideal, entre os meses de janeiro e fevereiro. O Estado, quarto maior produtor nacional do grão, deve colher 7,186 milhões de toneladas nesta segunda safra 2016/2017, o que representa um avanço de 59,4% sobre o ciclo anterior, que fechou em 4,5 milhões de toneladas. O resultado é reflexo de melhora substancial esperada para a produtividade, de 3.537 quilos por hectare na segunda safra de 2015/2016 para 5.700 quilos por hectare na atual, alta de 61,2%.

Pontos positivos

Clima e solo são pontos positivos, segundo o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), Bartolomeu Braz Pereira. Ele diz que o volume de chuvas está regular e o produtor tem feito coberturas e manejo dentro da normalidade. A preocupação vem de pragas como a cigarrinha-do-milho, vetor de vírus e mollicutes (bactérias). O controle dessa praga está ficando caro, segundo Pereira.

“Ela transmite um vírus que, sem controle, causa perda de 80% da lavoura. Esse controle tem exigido até oito aplicações (de inseticidas)”, explica o presidente da Aprosoja-GO. Além da cigarrinha, o presidente da Aprosoja-GO informa a incidência de outras pragas como a mosca branca e percevejo, provenientes das lavouras da safra de soja.

O empresário rural dos municípios de Joviânia e Bela Vista de Goiás Johnny Eduardo de Paula confirma que a cigarrinha é uma das preocupações nesta safrinha, mas não é a única. Ele reduziu a área de milho segunda safra para 105 hectares contra 520 hectares no ano passado, safra em que teve perda de mais de 90% por conta do clima. O prejuízo só não foi maior porque o produtor havia plantado feijão sob pivô.

Com a disparada do preço deste grão no ano passado, quando a saca de 60 quilos chegou a R$ 370, bem acima da média que varia entre R$ 120 a R$ 170, de Paula conseguiu quitar parte das dívidas da lavoura de milho. Este ano, ele vai cultivar mais sorgo, ampliando a área de 70 hectares plantados no ano passado para 220 hectares agora.

Com receio e precavido após os prejuízos da segunda safra 2015/2016, ele comercializou apenas 20% do total esperado para este ano a preços de R$ 23 a saca de 60 quilos de milho e a R$ 19 a saca de 60 quilos de sorgo.

Sorgo é destaque

Mas a segunda safra não é apenas milho. Além deste grão, segundo relatório do IBGE, várias culturas apresentam variação porcentual positiva na estimativa de produção em relação ao ano anterior no Brasil: algodão herbáceo em caroço deve apresentar alta de 8,2%, amendoim em casca (35,7%), arroz em casca (11,1%), batata-inglesa (3,6%), cacau em amêndoa (28,4%), café em grão-canephora (15,3%), cebola (0,2%), feijão em grão (37,8%), mamona em baga (18,4%), sorgo em grão (62,4%) e triticale em grão (11,9%).

Em Goiás, o sorgo é destaque nesta segunda safra e deve ter aumento de 15% na área, especialmente nos locais onde foram cultivadas variedades de soja de ciclo tardio na safra de verão. Espera-se uma área plantada de 240 mil hectares – incremento de 19,4% sobre a safra 2015/2016 – e uma produção de 772,1 mil toneladas ante 341,7 toneladas na safra anterior – aumento de 126%.

Estimativas mais precisas da área de sorgo são dependentes do desempenho da colheita da soja no estado e do interesse, ou não, dos produtores pelo milho safrinha. “É uma cultura mais rústica, que suporta mais pragas e não precisa de tanta chuva como o milho. Vai bem com baixa tecnologia de fertilizantes”, diz o presidente da Aprosoja-GO.

Além do sorgo, o milheto, a braquiária e a crotalária devem ser cultivados no estado. A braquiária é grande fonte de palha e raízes que ajudam a desbloquear o solo e melhorar o arejamento. A leguminosa crotalária é usada para controle de nematoides e é muito eficiente na descompactação do solo, controle de erosão e fixação de nitrogênio.

Preços em queda desaminam

Apesar de um ritmo de negócios não muito maior que o normal, as cotações do milho no mercado interno à vista continuam em queda pressionadas pelo aumento da oferta criado pela colheita da safra de verão. Dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP) já apontavam essa queda no final da primeira quinzena de março. Em Campinas (SP), base do Indicador Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq)/BM&FBovespa, a desvalorização foi de 3,67% de 1º a 17 de março, fechando a R$ 34,64 a saca de 60 quilos.

De acordo com o vice-presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Helio Sirimarco, os preços seguem fracos no Brasil. A exemplo do mercado gaúcho, que fechou a segunda semana de março com a saca cotada a R$ 25,25. “Nas demais praças nacionais os preços oscilaram entre R$ 22/saca em Sapezal (MT) e R$ 29,50/saca em Videira (SC)”, informa.

O presidente da SNA, Antônio Alvarenga, observa que na safra passada o país sofreu uma queda de produção por conta de problemas climáticos. “A safra recorde deste ano, com destaque para o milho (com esperado aumento de 30% em relação ao ano anterior) demonstra que os produtores não se abateram, aumentaram a área plantada e adotaram moderna tecnologia”, diz ele.

Alvarenga pontua ainda os efeitos dessa grande produção na economia como um todo. “Beneficiará os demais setores da economia, movimentando a indústria, o comércio e serviços, e garantirá o bom desempenho de nossa balança comercial”.

Mas ele cobra mecanismos do governo para proteção do produtor rural brasileiro. “Espero que o governo reconheça, cada vez mais, o valor do agronegócio com medidas efetivas para estabelecimento de novos instrumentos de financiamento ao setor, melhoria de nossa deficiente infraestrutura e abertura de novos mercados para exportação”, diz o presidente da SNA.

Salto na produção de soja

A safra 2016/2017 de grãos é estimada em 222,9 milhões de toneladas, com um aumento de 19,5% ou 36,3 milhões de toneladas frente as 186,6 milhões de toneladas da safra anterior, segundo dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

O crescimento, segundo o vice-presidente da Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), Helio Sirimarco, se deve à recuperação da produtividade média das culturas, agora livres da influência das más condições climáticas da safra passada, e ao aumento de área. A previsão é de ampliação de 2,8% na área total em relação à safra anterior, podendo chegar a 60 milhões de hectares. Esse prognóstico de área inclui as culturas de segunda safra.

Para a soja projeta-se crescimento de 12,8% na produção, devendo atingir 107,6 milhões de toneladas, com aumento de 12,2 milhões de toneladas em relação à safra anterior e ampliação de 1,9% na área, que deve chegar a 33,9 milhões de hectares.

Em Mato Grosso a previsão de área de soja manteve-se inalterada em 9,39 milhões de hectares, o que corresponde a um incremento de 85 mil hectares ou 0,91% em relação a área consolidada via satélite na safra 2015/2016. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), a produtividade apresentou alteração, saindo de 54,05 sacas por hectare na estimativa de novembro de 2016 para a média de 55,06 sacas por hectare em março.

Em Goiás, o ritmo da colheita da safra de soja está caminhando para a finalização. Até a penúltima semana de março, o sudoeste já havia colhido tanto soja quanto milho da safra de verão. No sul e leste, na região da Estrada de Ferro, e também no entorno do Distrito Federal, a colheita ainda estava sendo finalizada.

O empresário rural dos municípios de Joviânia e Bela Vista de Goiás, sul e centro goiano, Johnny Eduardo de Paula comemora boa produtividade de 68 a 70 sacas por hectare. Ele só finalizou sua colheita, de variedades tardias, no fim do mês passado. No norte do Estado, só no final da primeira quinzena de março que foi alcançado um patamar de 50% colhidos, restando ainda parte da safra para ser colhida neste início de abril.

De acordo com o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Goiás (Aprosoja-GO), Bartolomeu Braz Pereira, a produção tem se mostrado satisfatória. “O produtor fez seu dever de casa e fez uma grande safra, com plantio na hora adequada, manejo correto e controles fitossanitários no momento certo”.

O transporte continua sendo uma das deficiências do estado. “O transporte é um gargalo muito forte. Ele tira a competitividade. Assim, temos de fazer muito bem feito dentro da porteira para compensar as outras dificuldades que temos. O produtor tem de ter cautela nesse momento de comercialização. Tem de ver se compensa segurar o grão, arcando com os custos e montar estratégia de vendas de acordo com sua necessidade”, explica Pereira. (André Passos)

 

Fonte: Revista Safra, edição 194 – abril/2017

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