Queda do consumo de produtos lácteos reflete na captação do setor de laticínios

o presidente da entidade, Jorge Rubez, a queda do consumo de derivados lácteos foi um dos fatores contribuíram para o aumento menor em comparação ao ano anterior, quando o volume captado cresceu 8,9% sobre 2013. Foto: Divulgação
Presidente da Associação Leite Brasil, Jorge Rubez diz que a queda do consumo de derivados lácteos foi um dos fatores que contribuíram para um aumento menor, em 2015, em relação ao ano anterior, quando o volume captado cresceu 8,9% sobre 2013. Foto: Divulgação

A Associação Leite Brasil divulgou, recentemente, a lista com os 15 maiores laticínios brasileiros de 2015. Segundo o levantamento, o volume total de leite captado por estes grandes players totalizou 9,86 bilhões de litros, um incremento de 1,2% em relação ao ano anterior.

Na opinião do presidente da entidade, Jorge Rubez, a queda do consumo de derivados lácteos foi um dos fatores que contribuíram para um aumento menor, no ano passado, em comparação a 2014, quando o volume captado cresceu 8,9% sobre o ano anterior.

Segundo o estudo, a capacidade instalada de processamento dos 15 laticínios foi estimada e 15,88 bilhões de litros ao ano, o que indica que as empresas trabalharam, em média, com 62,1% da capacidade total (ociosidade de 37,9%). Em 2014, a ociosidade média foi de 33,8%.

“A retração deve-se à queda na produção de leite, em função do baixo consumo, não do leite in natura, mas dos produtos lácteos, que acabou influenciando na produção, que vive na ‘corda bamba’, ou seja, produz aquilo que se consome”, explica Rubez. Ele acrescenta que “o poder de compra do brasileiro caiu vertiginosamente e, como o consumidor não está comprando, não dá para produzir, porque você não tem para quem vender”.

 

CONCORRÊNCIA

Em sua opinião, este problema também ocorre porque o Brasil não é um grande exportador de leite e ainda compete diretamente com os subsídios aos produtores de outros países. “Então, na verdade, houve pouca modificação, nada muito significativo, apesar de achar que poderíamos estar, como em todos os anos, aumentando a produção em 4% a 5%”, observa e lembra que, pela primeira vez, em 10 anos, não houve aumento na produção.

Quanto às perspectivas, para 2016, o presidente da Associação Leite Brasil afirma que tudo depende dos ajustes da política. “Em geral, toda a cadeia produtiva depende muito mais da economia do que da política, mas, infelizmente, em se tratando de Brasil, isso se dá ao contrário. Portanto, o resultado do setor vai depender do andamento das questões que serão definidas nesse cenário político em 2016, pois ninguém quer e nem vai fazer investir em momentos de incerteza”, analisa Rubez.

Segundo ele, existe no Brasil uma incoerência em relação à produção de leite, pois, conforme explica, enquanto os outros países subsidiam, se esforçam e fazem o possível e o impossível para o produtor manter-se vivo, abastecer e exportar, aqui o processo é inverso. “Embora tenha capacidade de ser um grande produtor, o Brasil importa leite. Meu receio é que a gente se torne um grande importador”, alerta.

 

“No segundo semestre de 2015, observamos uma alta nos custos na produção leiteira, o que impediu os pecuaristas de investirem na atividade", diz a zootecnista Juliana Pila, analista de mercado da Scot Consultoria. Foto: Divulgação
“No segundo semestre de 2015, observamos uma alta nos custos na produção leiteira, o que impediu os pecuaristas de investirem na atividade”, diz a zootecnista Juliana Pila, analista de mercado da Scot Consultoria. Foto: Divulgação

ALTOS CUSTOS

Zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria, Juliana Pila aponta outros fatores decisivos para a retração do setor. “No segundo semestre de 2015, observamos uma alta nos custos na produção leiteira, o que impediu os pecuaristas de investirem na atividade. Além disso, tivemos problemas climáticos que também afetaram um pouco a produção, então os laticínios captaram menos leite em função disso”, informa Juliana.

A analista afirma que nos últimos 12 meses o custo de produção aumentou 30%, puxado pela alimentação mais cara, concentrados e suplementação animal. “Soma-se a isso a alternância do clima, principalmente na Região Sul, que é a grande produtora de leite, onde ocorreram problemas com geadas e períodos de chuva que atrapalharam o desenvolvimento de grãos para a produção de silagem”, diz.

Segundo a analista da Scot Consultoria, o volume captado e a produção de leite em 2016 serão ainda menores do que no ano passado. “Nossa projeção, feita até maio de 2016, indica que a produção está caindo mês a mês em relação ao mesmo período do ano passado; portanto, a perspectiva para 2016 é que o volume realmente seja menor”, prevê.

 

Zootecnista e analista de mercado da Scot Consultoria, Juliana Pila credita a retração do setor leiteiro ao aumento do custo de produção e a problemas climáticos na região Sul do País. Foto: Divulgação
Na opinião do analista técnico da OCB Pedro Silveira, o cenário negativo para a cadeia leiteira, observado no ano passado, está se refletindo neste primeiro semestre de 2016, com piora na relação de troca, com desestímulo na produção de leite de forma generalizada. Foto: Divulgação

CAPACIDADE OCIOSA

Analista técnico e econômico da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB),Pedro Silveira destaca a diminuição do ritmo de crescimento em comparação aos anos anteriores, principalmente em relação à pesquisa anterior, bem como o aumento da capacidade ociosa. “Sabemos que a capacidade ociosa dentro de uma indústria reflete diretamente no aumento de custos”, salienta.

Para Silveira, 2015 talvez tenha sido um dos anos mais difíceis da última década para o setor lácteo do país. “Tivemos, preços internacionais mais baixos, atingindo níveis de baixa históricos, e pelo lado do mercado interno, em função da crise econômica, houve uma retração no consumo”, menciona lembrando que a indústria de lácteos brasileira é muito dependente do mercado doméstico, em razão do baixo volume de exportações.

Silveira também cita, além destes fatores, problemas climáticos em algumas regiões produtoras, agravados pelo aumento do custo dos principais insumos, como o milho, por exemplo. “Os problemas no campo e o cenário interno fizeram com que a produção nacional tivesse um desempenho muito fraco comparado aos anteriores, culminando com decréscimo na captação e que, consequentemente, vai refletir em uma queda de produção em 2016”, ressalta.

Na opinião do analista da OCB, o cenário negativo do ano passado está se refletindo nesse primeiro semestre de 2016, com piora na relação de troca e com o desestímulo na produção de leite de forma generalizada.

”Se, por um lado, a escassez de matéria prima resultou na correção de preços ao produtor no campo, quando analisamos o consumo, alguns produtos ainda estão com os preços nos patamares de 2013”, observa.

Segundo Silveira, embora os preços do leite estejam maiores, o aumento do custo de produção não tem permitido ao produtor alcançar a renda necessária para aumentar a produtividade. “A indústria, por sua vez, tem que pagar mais pelo produto, em razão da escassez, mas não consegue repassar esses custos ao mercado, então, você tem uma perda de renda em toda a cadeia produtiva”, avalia.

Silveira destaca a contribuição do cooperativismo para o setor lácteo nacional que. Segundo estudo da OCB, o setor participa com cerca de 40% da captação de leite nacional.

 

VOLUME

No ano passado, o Brasil captou 24 bilhões de litros de leite, de acordo com a Pesquisa Trimestral do Leite do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que inclui o volume captado e industrializado pelos estabelecimentos com inspeção municipal, estadual e/ou federal.

Em 2015, a Nestlé se manteve na primeira posição do ranking, com 1,77 bilhão de litros captados, seguida pela Lactalis do Brasil, com 1,59 bilhão de litros. Vale lembrar que essa companhia iniciou as operações no país no fim de 2013. (veja gráfico).

Participaram do levantamento a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL), a Organização das Cooperativas Brasileira (OCB) e a Embrapa Gado de Leite.

 

Por equipe SNA/SP

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