Programa Soja Plus pode ser passaporte da soja brasileira para o mercado europeu

O seminário reuniu presidentes e representantes de todas as entidades que participam do Projeto Soja Plus
Seminário reúne presidentes e representantes de entidades que participam do Projeto Soja Plus

“Um dos objetivos do Soja Plus é transformar este programa no passaporte da soja brasileira para o mercado europeu. Não sabemos vender o Brasil lá fora, mas isso está mudando,temos que convencer aquele mercado de que o Brasil está fazendo a coisa certa e o Soja Plus pode ser uma grande lição para os europeus”, afirmou Carlo Lovatelli, presidente da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), durante o Seminário Soja Plus 2014, realizado em São Paulo. No evento, que reuniu participantes de 45 instituições, foram apresentados os resultados de quatro anos do programa e os desafios para continuar crescendo no País.

Com foco no médio produtor, o Soja Plus está presente no primeiro Estado produtor nacional de soja, Mato Grosso, no quinto maior, Mato Grosso do Sul, no sexto, Minas Gerais e, no sétimo, Bahia. Instituído em 2011 por meio de uma parceria entre a Abiove e a Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja), o Programa é simples, voluntário e adequado à realidade do produtor nacional, além de todas as atividades e materiais ser gratuitos. Por isso, o programa tem tido boa aceitação. Em quatro anos foram investidos nesses Estados R$ 20 milhões.

No Mato Grosso, a parceria entre a Abiove e a Aprosoja é com o Senar-MT, a Famato e o Instituto Algodão Social (IAS). No Mato Grosso do Sul, os parceiros são Senar-MS, Famasul/Aprosoja MS. Na Bahia, o trabalho com a A Senar-MS, Famasul/Aprosoja MS. Na Bahia, o trabalho com a Abiove é desenvolvido com a Associação de Agricultores e Irrigantes (Aiba). Em Minas Gerais, os coordenadores são o Sistema Faemg e a Universidade Federal de Viçosa.

IDEIA FELIZ

A justificar a criação do programa voltado para a soja e a sua importância, Lovatelli explicou que o Brasil é o segundo maior produtor mundial deste grão e é a sua principal commoditie, gerando no país mãos de 1 milhão de empregos em 17 Estados. “O Soja Plus é um programa inovador em gestão econômica e sócio ambiental. Mostra o caminho a ser seguido e o produtor o segue conforme suas possibilidades e, principalmente, tem de ser ciente de tudo”, detalhou.

Para Carlo Lovatelli, presidente da Abiove, é preciso convencer o mercado europeu de que o Brasil está fazendo a coisa certa. Foto: Divulgação
Para Carlo Lovatelli, presidente da Abiove ao microfone), é preciso convencer o mercado europeu de que o Brasil está fazendo a coisa certa. Foto: Divulgação

Em sua opinião, o Soja Plus foi uma idéia feliz, num momento feliz e absolutamente necessário. E explica o por que: “Houve um momento que um conjunto de entidades e iniciativas, muitas delas internacionais, estavam tentando a certificação da produção da soja brasileira de acordo com alguns critérios e conceitos desenvolvidos lá fora, com quais nós não concordávamos. É necessário que o produtor tenha o mínimo de condições iniciais para poder cumprir com essas regras”.

Segundo ele, a legislação brasileira, trabalhista e ambiental, tem mais de 16 mil regras a serem obedecidas. “Existem critérios, um prazo de implementação totalmente ligado à competência financeira do produtor. Então, resolvemos desenvolver uma coisa nossa, tupiniquim, dentro da possibilidade, da capacidade que cada produtor. Que ele escolha o seu próprio trajeto dentro das suas possibilidades técnicas, financeiras e humanas para chegar à perfeição “, esclarece.

Lovatelli frisa que o projeto foi desenvolvido sobre três alicerces, econômico, social e ambiental.  “O Soja Plus é simplesmente um projeto de ensinamento dos conceitos que interessam ao produtor, que ele sabe que precisa seguir para se adequar à modernidade do mercado internacional, mas dentro das suas possibilidades e da sua demanda. O que ele quer  saber nós vamos ensinar, não vamos impor nada. Começamos no Mato Grosso, já fomos para o Mato Grosso do Sul,Minas e Bahia e vamos cobrir toda a área de soja brasileira na medida do possível . Estamos num país de grandes dimensões  e o programa envolve muitas pessoas, mas também traz resultados espetaculares”, preconiza.

NOS ESTADOS

Ricardo Tomczyk, presidente da Aprososa-Mato Grosso, considera os resultados do projeto em seu Estado excepcionais. “Tivemos um avanço interessante, são 600 propriedades atendidas e, em parceria com Senar, treinamos mais de 1.100 mil produtores. O que mais destaco é a demanda que veio direta do produtor e a sua conscientização sobre a legislação, ambiental, legislação trabalhista principalmente” que é complicada, mas pode ser cumprida”, diz .

Para Tomczyk, o Soja Plus é um programa extremamente importante, porque traz ferramentas e instruções para que o produtor rural possa se adequar corretamente à legislação vigente. “Não traz penalidade, não traz nenhum tipo de acréscimo de custo. Dá condições práticas para cumprir as normas do Brasil, o que não é uma tarefa muito fácil, pois são complexas e muitas vezes são caras de serem implantadas. E estamos conseguindo atender”.

Maurício Saito, presidente Aprosoja-Mato Grosso do Sul ressaltou que seu Estado tem uma estrutura fundiária um pouco diferente de outros, como o seu vizinho Mato Grosso.  Na média, o módulo de área sul-mato-grossense é de 500 hectares, com cerca de 4 mil a 4.500 produtores. Ele considera um número significativo, porque o projeto abrange produtores de área fundiária um pouco maior e atende ao mesmo tempo aqueles com perfil de área menor. A produção de soja e de milho envolve 64 municípios, com 22.575 famílias de produtores, gera 66.5888 empregos e envolve 90 mil pessoas com a atividade.

Todos os associados da Aprosoja-MS, em torno de 500, estão aderindo ao Soja Plus. Saito destacou, ainda, a importância de a propriedade ter, em sua entrada, a placa de participação do “Soja Plus, “um motivo de orgulho para o produtor rural poder mostrar que está produzindo dentro das normas  de sustentabilidade”. As ações do Soja Plus foram iniciadas no Mato Grosso do Sul no segundo semestre de 2013, com 8 instrutores capacitados e já foram realizados sete cursos em sete municípios, atingindo 135 produtores. A meta para 2015 é atender 200 produtores, com contratação de novos técnicos e apoio total aos produtores sobre o CAR.

Ivanir Maia, diretor de Relações Institucionais da Aiba, ressaltou que o produtor rural, muitas vezes, não recebe consultoria à altura sobre como se adequar à legislação, de como cuidar de pequenos detalhes.  “O Soja Plus veio justamente para permitir, de forma gratuita, ao produtor essas orientações. Então, o resumo é orientação gratuita de como adequar-se social, ambientalmente e economicamente.”

O programa chegou à Bahia este ano e já foram desenvolvidas ações de orientação na área trabalhista. Para 2015 serão fortalecidas ações na área ambiental e, em 2016, o foco maior será na área de gestão. O Estado da conta com 800 a mil produtores e 200 já foram capacitados pelo SojaPlus, em ação conjunta com a AIBA.

Em Minas Gerais, o Soja Plus foi implantado em agosto deste ano e as atividades já realizadas foram três seminários, um workshop, três dias de campo para 28 alunos da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e um curso de 16 horas para os futuros profissionais que prestarão assistência técnica às fazendas.

Aziz Galvão da Silva, professor e diretor do Departamento de Economia rural da Universidade Federal de Viçosa/MG, destacou que desde a criação do Soja Plus a UFV viu a possibilidade de capacitar profissionais.

“Percebemos que o currículo dos cursos de agronomia é antigo, as coisas mudaram muito recentemente, como as questões das leis trabalhistas, ambientais, etc. Então a idéia é colocar à disposição do estudante essas atualização, formando profissionais capacitados e dar apoio ao Soja Plus na melhoria da sustentabilidade nas propriedades”. Mas o mais importante no programa Soja Plus, destaca o professor Aziz, “é que ele vai servir de modelo para outras cadeias, pois todas enfrentam os mesmo problemas”.

A soja, em Minas, está localizada na região do Noroeste, Alto Paranaíba e Triângulo Mineiro e, segundo Claudionor Nunes de Morais, da Comissão de Grãos da Federação da Agricultura de Minas Gerais (FAEMG), o Estado, ainda não tem tanto a inovação quanto o Mato Grosso, mas são produtores que, como os outros, estão sofrendo a pressão e estão se adequando às normas para atender o mercado. Para ele, o projeto tem tudo para dar certo, mas depende das pessoas envolvidas e lembrou que as propriedades são mais antigas e o produtor mineiro é mais conservador. “Porém, quando vemos a legislação existente, sentimos que não há outro caminho”, acrescenta.

BRASIL X EUA

O Soja Plus, além de oferecer capacitação gratuita nas fazendas para melhorar a gestão por intermédio de assistência técnica in loco, disponibiliza para o produtor rural um conjunto de ferramentas para auxiliá-lo nos trabalhos de rotina da fazenda. Exemplo: manual de compilação de legislação; kit de primeiros socorros; vídeos sobre diálogo diário de segurança; manual de procedimentos seguros em oficinas mecânicas; manual de construções rurais; manual sobre o novo Código Florestal; plano de emergência da propriedade; kit com placas de sinalização de saúde e segurança; blocos de controle de entrega de EPI e documentos.

Ricardo Arioli, um dos fundadores do Soja Plus, é um entusiasta do programa: “acertamos a mão ao criá-lo. Há países que não chegam ao nível em que estamos. Isso impressiona positivamente os nossos visitantes estrangeiros”, diz. Habituado a visitar propriedades rurais nos EUA, principal concorrente do Brasil na sojicultura, ele compara: “o Brasil está à frente em quesitos referentes à segurança no trabalho rural e à proteção do meio ambiente”.

Três produtores que participam do Soja Plus receberam homenagens durante o seminário. Foram  premiados pela excelência em gestão de suas propriedades: Eloíza Zucanelli, da Fazenda Sulina, em Diamantino (MT), Antonio Carlos de Siqueira Junior, da Fazenda Buriti da Peraputanga, no município de Campo Verde (MT) , e Gilberto Eberhardt, da Fazenda Recanto, Lucas do Rio Verde (MT).

Produtores premiados pela excelência em gestão de suas propriedades,todas localizadas no: Eloíza grssoZucanelli, Fazenda Sulina, Diamantino; o técnico do Soja Plus que representou o produtor Antonio Carlos de Siqueira Junior, Fazenda Buriti da Peraputanga, Campo Verde; e Gilberto Eberhardt, Fazenda Recanto, Lucas do Rio Verde
Produtores premiados pela excelência em gestão de suas propriedades, todas localizadas no Mato Grosso: Eloíza Zucanelli, da Fazenda Sulina, em Diamantino; Antonio Carlos de Siqueira Junior, da Fazenda Buriti da Peraputanga, no município de Campo Verde; e Gilberto Eberhardt, da Fazenda Recanto, Lucas do Rio Verde

Por equipe SNA/SP

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