Produtores de sementes e mudas nativas terão apoio em Mato Grosso

“Será um desafio muito grande trabalhar com produtores rurais mato-grossenses, em um momento que a sociedade cobra a recomposição das reservas legais”, diz Rozalvo Andrigueto, coordenador do projeto “Semeando o Bioma Cerrado” da Rede de Sementes do Cerrado
Rozalvo Andrigueto, coordenador do ‘Semeando o Bioma Cerrado’: projeto estimula produtores a adotar sistemas de iLPF com espécies florestais nativas

 

A Rede de Sementes do Cerrado, em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Agrossilvipastoril, iniciou um projeto de incentivo às práticas de coleta de sementes e produção de mudas de espécies nativas no Estado de Mato Grosso, mais precisamente no município de Sinop e cidades do entorno.

Segundo Rozalvo Andrigueto, coordenador do projeto “Semeando o Bioma Cerrado”, da Rede, o objetivo é levar suporte técnico e materiais aos produtores rurais para que possam implantar os sistemas de integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) com espécies florestais nativas. Como consequência, oferecerá alternativas de renda para as reservas legais do Centro-Norte matogrossense, possibilitando chegar a regiões de transição entre os biomas da Amazônia e do Cerrado.

“Inicialmente, as atividades da Rede estavam concentradas somente no Distrito Federal e em algumas cidades do Estado de Goiás, como Alto Paraíso, Cavalcanti, Goiânia e Pirenópolis. Por meio do edital da Petrobras (pelo programa Petrobras Ambiental), tivemos nosso projeto aprovado e agora nós estamos expandido para Mato Grosso, em parceria com a Embrapa”, ressalta Andrigueto.

De acordo com o coordenador, os produtores matogrossenses geralmente compravam sementes e mudas nativas de outros produtores, principalmente de São Paulo.

“Agora, poderão produzir sementes georreferenciadas, que contemplam a legislação brasileira por meio da Instrução Normativa (IN) nº 56 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.”

Publicada no Diário Oficial da União na data de 9 de dezembro de 2011, sob aprovação do Mapa, a IN n° 56 objetiva regulamentar a produção, a comercialização e a utilização de sementes e mudas de espécies florestais, nativas e exóticas, visando garantir sua procedência, identidade e qualidade no Brasil.

 

AUXÍLIO TÉCNICO

Segundo Andrigueto, na fase inicial em MT, serão trabalhadas 40 espécies nativas da região.

“Contemplaremos 20 áreas de coletas de sementes, em aproximadamente 200 hectares de terras nos municípios de Sinop, Sorriso, Lucas do Rio Verde, ou seja, nas regiões próximas, em um raio de 200 quilômetros.”

Para auxiliar os produtores rurais daquele Estado, será realizada uma série de cursos (leia abaixo) a partir de 15 de julho, com conclusão prevista até dezembro de 2015.

“Os cursos vão capacitá-los na produção e comercialização de sementes e mudas nativas, que serão ministrados pela Embrapa Agrossilvipastoril”, explica.

Em parceria com a Embrapa e com a Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) – campus Sinop, será ministrado um total de cinco cursos: o primeiro sobre “Identificação de árvores e madeiras do Bioma Cerrado”; o segundo, “Seleção e marcação de árvores matrizes”; depois, “Coleta, manejo e beneficiamento de sementes”; o quarto será sobre “Viveiros e produção de mudas florestais nativas”; e o último, “Comercialização de sementes e mudas florestais”.

Andrigueto destaca que o trabalho da Rede também será ampliado para produtores que vivem em assentamentos do Estado de Mato Grosso. “Queremos oferecer outra fonte de renda para pequenos produtores”, resume.

De acordo com o coordenador, a primeira fase do projeto, que contemplou o Distrito Federal e cidades de Goiás, atingiu 550 hectares de terra com 212 espécies nativas, disponibilizando 3.369 matrizes.

“Na segunda fase, a partir de agosto (após o início dos cursos, em 15 de julho), serão mais 600 hectares, sendo 200 em Mato Grosso.”

Para Andrigueto, “será um desafio muito grande trabalhar com produtores rurais matogrossenses, num momento em que a sociedade cobra a recomposição das reservas legais”.

“A vantagem é que serão produzidas sementes e mudas nativas da região para a própria região, ou seja, os custos ficarão menores para os agricultores.”

 

“O trabalho da Rede de Sementes de Cerrado chega a Mato Grosso para reforçar as atividades exercidas por outras redes - como a do Xingu e Portal da Amazônia”, destaca o biólogo Ingo Isernhagen, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril.
Ingo Isernhagen, pesquisador da Embrapa: há carência de informações ecológicas e operacionais para solucionar problemas de áreas degradadas

 

ÁREAS DE COLETA

De acordo com a Embrapa Agrossilvipastoril, no início de junho, uma equipe técnica da Rede visitou o município de Sinop com o intuito de alinhar os próximos passos do projeto. Para tanto, foram feitos o reconhecimento e a definição das áreas de coletas de sementes. Dois funcionários da Rede vão ficar na sede da estatal, em Mato Grosso, durante o desenvolvimento deste trabalho.

Os cinco primeiros locais delimitados para coleta serão duas partes da área de preservação permanente (APP) da Embrapa Agrossilvipastoril; um espaço no parque florestal de Sinop; outra área no campus da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT); e o quinto local será em uma fazenda na saída para o município de Itaúba.

Parte da utilização destas áreas será para fins didáticos e científicos.

“As sementes e mudas nativas cultivadas na área da Embrapa serão destinadas à capacitação de pessoas que já realizam tais atividades, de técnicos das prefeituras e, mais tarde, para consultores de outros Estados”, informa o biólogo Ingo Isernhagen, pesquisador da Embrapa Agrossilvipastoril.

Segundo ele, o objetivo é observar a formação e crescimento de sementes e mudas com a finalidade de observar sua conservação, métodos de coleta, de plantio e de cultivo.

“O trabalho da Rede de Sementes de Cerrado chega a Mato Grosso para reforçar as atividades exercidas por outras redes – como a do Xingu e Portal da Amazônia”, destaca Isernhagen.

De acordo com ele, o trabalho servirá para firmar compromisso com a recomposição de Áreas de Preservação Permanente (APPs) e reservas legais, conforme prevê o Código Florestal brasileiro.

“Há uma carência de informações ecológicas e operacionais para resolver esses passivos em áreas degradadas da região. Daí ter se tornado prioridade oferecer informações, de acordo com a legislação, para capacitandos, especialmente àqueles que ainda atuam na informalidade.”

 

A REDE

Registrada atualmente como OSCIP (Organização Social de Interesse Público), a Rede de Sementes do Cerrado incentiva e promove a conservação e recuperação do Cerrado; a prestação de serviços referentes à conservação, promoção e exploração sustentada de plantas nativas do Cerrado; estudos e pesquisas referentes às plantas nativas do Cerrado; a divulgação de informações técnicas e científicas e a execução direta e indireta de projetos, programas e planos de ação pertinentes.

De acordo com a Rede, o projeto de estruturação da entidade contou, no início, com o apoio do Fundo Nacional do Meio Ambiente/Ministério do Meio Ambiente (FNMA/MMA), por meio de um edital da Petrobras. Por seu intermédio, em 2001, foram criadas oito Redes em diversas regiões do Brasil (Amazônia, Caatinga, Mata Atlântica, e Pantanal, além do Cerrado). Terminado o convênio com o FNMA/MMA, a Rede se organizou como uma OSCIP.

Qualquer pessoa, instituição, associação ou empresa interessada em propagação, cultivo, preservação, plantio ou fornecimento de sementes de plantas nativas do Cerrado poderá se tornar um sócio.

De acordo com o Ministério da Agricultura, o primeiro passo para quem deseja produzir, exportar, importar, ou realizar qualquer atividade relacionada com sementes e mudas no Brasil é procurar a orientação do Setor de Sementes e Mudas da Superintendência Federal de Agricultura (SFA). Mais informações, acesse os sites www.agricultura.gov.br e www.rededesementesdocerrado.org.br.

 

Por equipe SNA/RJ

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