Primeira variedade de maracujá da Caatinga para cultivo comercial é lançada pela Embrapa

 

BRS Sertão Forte: maracujá nativo da Caatinga recomendado para cultivo comercial – Foto: Fernanda Birolo

Um fruto da natureza combinado com mais de uma década de pesquisa resultou na primeira variedade de maracujá nativo da Caatinga recomendado para cultivo comercial. O BRS Sertão Forte foi lançado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

A cultivar é resultado do melhoramento genético realizado na Embrapa Semiárido (Petrolina, PE), em parceria com a Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), e foi selecionada a partir de diversos acessos de maracujazeiros silvestres (Passiflora cincinnata) coletados em diferentes áreas de Caatinga, no Nordeste brasileiro. Em comparação com as plantas nativas, ela apresenta maior produtividade e maior tamanho e rendimento dos frutos.

O maracujá do mato – ou maracujá da Caatinga, como também é conhecido – tem vantagens em comparação com as cultivares comerciais de maracujá azedo (Passiflora edulis), a exemplo da maior tolerância ao estresse hídrico, já que é naturalmente adaptado às condições do Semiárido. Ele apresenta ainda um ciclo produtivo mais longo, o que significa que a planta vive e produz por mais tempo no campo, e tem maior tolerância à fusariose, uma das principais doenças que ataca o maracujazeiro azedo.

Os frutos do BRS Sertão Forte, quando maduros, têm coloração verde-clara, e pesam de 109 g a 212 g. A polpa é bastante ácida, própria para processamento, de coloração esbranquiçada ou amarelo-clara, com 8 a 13 °Brix. O rendimento da polpa chega a 50% quando extraída em despolpadora rotativa, e em torno de 35% se extraída manualmente com peneira.

“Essa variedade pode ser cultivada com baixo custo tecnológico e com limitação de água. Por isso, é bastante apropriada para a agricultura familiar das áreas dependentes de chuva, com foco principalmente na produção orgânica”, destaca o engenheiro agrônomo da Embrapa Semiárido Francisco Pinheiro de Araújo, responsável pelo desenvolvimento da cultivar.

“É muito fácil cultivar esse maracujá”, confirma a agricultora Maria Luiza de Castro, do Projeto Pontal, em Petrolina-PE, onde foi montada uma área experimental do maracujá. Ela faz parte de uma cooperativa que trabalha desde 2011 com o processamento de umbu, outro fruto nativo da Caatinga. Os agricultores viram no maracujá uma boa alternativa para complementar a renda das famílias, e hoje já comercializam produtos como a geleia, calda e mousse, e ainda vendem o fruto in natura.

Além de indicado para as áreas com restrição hídrica da Caatinga, o BRS Sertão Forte também apresentou bom desempenho em áreas irrigadas. De acordo com as pesquisas, seguindo as mesmas recomendações técnicas para o maracujazeiro azedo comercial, é possível produzir de 14 a 29 toneladas da variedade por ano.

De acordo com Francisco Pinheiro, a cultivar silvestre tem ainda potencial para ser plantada nas bordas dos cultivos de maracujá amarelo. Isso porque suas flores abrem por volta das 5h da manhã, enquanto as das variedades de maracujazeiro azedo abrem no final da manha ou à tarde. Assim, a cultivar silvestre atrai os polinizadores para as primeiras horas do dia e aumenta o tempo e, consequentemente, a eficiência da polinização natural, o que está diretamente ligado ao aumento da produtividade.

Além da sua região nativa, a variedade foi testada também no Cerrado do Distrito Federal, onde apresentou boa produtividade em sistemas de produção em espaldeira e latada. O pesquisador da Embrapa Cerrados Fábio Faleiro avalia que “esta cultivar, desenvolvida a partir de uma rica biodiversidade brasileira, vai ser uma opção a mais para os produtores, tanto para diversificar sua produção quanto para melhorar a eficiência da polinização manual do maracujazeiro azedo, que é uma das práticas que demanda muita mão de obra nos cultivos comerciais”.

A Embrapa já está disponibilizando as sementes do maracujá BRS Sertão Forte para viveiristas interessados na produção e comercialização de mudas, por meio de edital aberto até o dia 30 de junho. Logo após o licenciamento, a Embrapa divulgará os nomes e contatos desses viveiristas para os agricultores interessados na aquisição de mudas.

 

Fonte: Embrapa Semiárido 

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