Pesquisadores identificam sete novas espécies de ‘bactérias do bem’

Raiz de soja inoculada com bactéria
Raiz de soja inoculada com bactéria

 

Pesquisadores da Embrapa acabaram de descrever sete novas espécies de bactérias benéficas à agricultura brasileira. Elas são o que os especialistas da área denominam de “promotoras do crescimento” das plantas. As novas espécies (Rhizobium e Bradyrhizobium) trazem benefícios às culturas da soja, do feijoeiro, do feijão-caupi e da leucena, com importância para a alimentação humana, animal, como adubo verde e com potencial para reflorestamento.

Além de agronômica, as bactérias têm importância ambiental e econômica, uma vez que são capazes de captar o nitrogênio (N2) presente no ar (representando 78% dos gases da atmosfera) e transformá-lo em uma forma de nitrogênio assimilável pelas plantas. São, portanto, capazes de suprir as necessidades das plantas em nitrogênio, dispensando a adubação nitrogenada. O processo é chamado de fixação biológica de nitrogênio, considerado o mais importante processo biológico do planeta, depois da fotossíntese.

Mariangela Hungria, pesquisadora da Embrapa Soja (Londrina, PR), Jerry Zilli, da Embrapa Agrobiologia (Rio de Janeiro, RJ) e Krisle da Silva, da Embrapa Roraima (Boa Vista, RR) integram a equipe de taxonomistas brasileiros que vêm se destacando em pesquisas na área de identificação e descrição de bactérias benéficas à agricultura.

Segundo Jerry Zilli, a Embrapa detém um rico acervo genético desses microrganismos. Estabelecer expertise em taxonomia de microrganismos é muito importante, não só porque amplia o conhecimento sobre a rica biodiversidade brasileira, no caso deste grupo de microrganismos do solo, como também protege o patrimônio genético e viabiliza o registro de patentes, produtos e outros ativos biotecnológicos com base microbiana.

A descrição dessas novas espécies é resultado do investimento no treinamento de pesquisadores em taxonomia. Em três anos, o grupo conseguiu alcançar o dobro de espécies de bactérias descritas em mais de 40 anos, além de aprimorar as metodologias que garantem a identificação correta de estirpes benéficas à agricultura, por exemplo, aquelas utilizadas em inoculantes comerciais para a cultura da soja. Além disso, segundo os pesquisadores, “à medida que as espécies são conhecidas, abrem-se possibilidades de trabalhar no desenvolvimento de inoculantes, no estudo de processos microbianos, na geração de novos produtos e de novos contatos, por meio de licenciamento ou de parcerias”.

RETORNO ECONÔMICO

Conhecer a utilidade de cada bactéria existente na natureza e os mecanismos capazes de beneficiar culturas pode trazer retornos significativos ao País, enfatiza Mariangela. A pesquisadora fez uma estimativa de benefícios econômicos que a utilização dessas bactérias pode trazer às culturas da soja, do feijoeiro e do feijão-caupi, cerca de 18 bilhões de dólares anuais, que deixam de ser gastos com fertilizantes nitrogenados nessas culturas. Além disso, existe o grande benefício na mitigação de gases de efeito estufa, com uma estimativa equivalente a mais de 45 milhões de toneladas equivalentes de CO2.

NOVAS ESPÉCIES DESCRITAS

•Rhizobium leucaenae, que fixa nitrogênio com o feijoeiro e leucena, explicando o nome leucaenae;
•Rhizobium freirei, que também fixa nitrogênio com o feijoeiro. O nome foi dado em homenagem a um grande pesquisador brasileiro que trabalhava com FBN, prof. João Ruy Jardim Freire;
•Rhizobium paranaense, também simbionte do feijoeiro e nome dado em homenagem ao Paraná;
•Bradyrhizobium diazoefficiens, que nodula a soja de modo muito eficiente;
•Bradyrhizobium manausense isolada de feijão-caupi e o nome se refere ao fato de que foi isolada na Amazônia, em Manaus;
•Microvirga vignae isolada de feijão-caupi na região do semiárido brasileiro;
Bradyrhizobium ingae, que nodula ingá (Inga laurina), uma árvore conhecida pelos frutos doces e com potencial para reflorestamento e foi isolada em Roraima.

TECNOLOGIA DA COINOCULAÇÃO

Outra conquista da pesquisa brasileira na utilização das bactérias benéficas para a fixação biológica do nitrogênio e promoção do crescimento das plantas em soja e no feijoeiro é a tecnologia de coinoculação, que consiste em combinar uma prática já bem conhecida dos produtores – a inoculação das sementes com bactérias de Bradyrhizobium para a soja, ou Rhizobium para o feijoeiro, com a inoculação com Azospirillum, uma bactéria até então conhecida no Brasil por sua ação promotora de crescimento de gramíneas (milho, trigo, arroz).

Fonte: Embrapa

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