Persiste temor dos agricultores em relação ao combate à broca do café

A recomendação para os produtores é que tenham nesta colheita o máximo de cuidado para deixar um volume mínimo de grãos no chão, já que são eles que atraem o besouro que ataca as lavouras, diz Silas Brasileiro, presidente do CNC.
Broca do café: besouro fêmea coloca ovos que se transformam em larvas e consomem a semente do café, provocando perda de peso e de qualidade dos frutos

 

Persiste a preocupação dos produtores brasileiros com o combate à broca do café. Após publicação, em julho, pelo Ministério da Agricultura, da portaria que definiu o manejo e a importação de agrotóxicos que tenham como ingrediente ativo a molécula Ciantraniliprole por cafeicultores de Minas Gerais (maior Estado produtor da commodity do país), agora as lideranças do segmento temem não ter produtos à disposição a tempo de combater a praga no período recomendado, em janeiro.

A autorização para as importações mineiras foi concedida em caráter emergencial e temporário. A Portaria 711/2014 do ministério é um desdobramento de uma outra portaria (188/2014) que foi publicada em março, na qual o órgão já havia declarado estado de emergência fitossanitária em Minas, por um ano, por causa do risco iminente de surto pela infestação da praga Hypothenemus Hampei (broca) nas plantações de café.

A medida atendeu a uma demanda apresentada pelo setor produtivo em 2012, conforme informações do Conselho Nacional do Café (CNC), que representa agricultores e cooperativas. A comercialização de endossulfam, único produto com princípio ativo efetivo no combate à broca do café à disposição no mercado brasileiro, foi oficialmente proibida no país em agosto do ano passado.

Com a publicação da portaria, o governo autorizou para esse fim o uso de inseticidas à base de Ciantraniliprole, de baixa toxicidade e princípio já registrado nos EUA, na União Europeia, no Canadá e no Japão, com aprovação da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) – e previamente autorizado pelos órgãos de saúde e ambiente brasileiros, conforme o CNC.

A expectativa é que esse inseticida, fabricado pela multinacional americana DuPont, seja registrado no Brasil até o fim do ano. Mas o CNC lembra que a medida emergencial foi direcionada apenas para os cafezais de Minas Gerais e orienta outros Estados a também fazerem seus estudos para, se for o caso, declararem emergência sanitária para a broca. A praga é um besouro cuja fêmea coloca ovos que se transformam em larvas e consomem a semente do café, provocando perda de peso e de qualidade para os frutos, o que deprecia o produto no mercado.

Silas Brasileiro, presidente do CNC, disse ao Valor que, no início deste ano, o controle da broca foi realizado com produtos alternativos, sem eficácia. Assim, haverá maior volume de café “brocado nesta safra”, já afetada pela seca e pelo calor dos primeiros meses do ano. Essas intempéries já serviram para reduzir o peso dos grãos em diversas regiões produtivas do Centro-Sul.

A recomendação para os produtores é que tenham nesta colheita o máximo de cuidado para deixar um volume mínimo de grãos no chão, já que são eles que atraem o besouro que ataca as lavouras, diz Brasileiro.

O CNC acrescenta que não há resultados específicos que comprovem a eficácia do inseticida à base de Ciantraniliprole. Além disso, o CNC lembra que, por enquanto, não haverá produto concorrente no mercado. Duas empresas haviam solicitado registro ao Ministério da Agricultura para seus ingredientes ativos: DuPont (Ciantraniliprole) e a suíça Syngenta (Chlorantraniliprole/Abamectin).

As lideranças da cafeicultura temem que a indústria poderá não ter tempo hábil para produzir inseticidas e colocá-los à venda, visto que a broca ataca nos meses de janeiro e fevereiro. Se de fato isso acontecer, haverá perdas na safra 2015/16.

Apesar da autorização para importar o Ciantraniliprole, um parágrafo da mesma portaria que estabelece todos os critérios para a compra do produto do exterior afirma que é necessário, ainda, um registro ou uma autorização de importação por parte Ministério da Agricultura, observa uma fonte do segmento.

A fonte diz que esse documento já foi encaminhado pela DuPont no mês passado, mas que ele ainda precisa ser avaliado pela Coordenação Geral de Agrotóxicos e Afins do ministério, que depois o encaminhará para a diretoria de Sanidade Vegetal. Depois desse parecer, será solicitada a aprovação da Secretaria de Defesa Agropecuária. Apenas após todos esses trâmites a importação poderá ser iniciada.

E, mesmo depois que o produto for importação, será preciso solicitar o cadastro estadual do produto junto ao Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). A partir daí, então, é que a comercialização do defensivo será efetivamente iniciada.

Para Júlio Sérgio de Britto, coordenador geral de agrotóxicos e afins do Ministério da Agricultura, o defensivo da DuPont contra a broca do café estará disponível a tempo para o combate à broca. Durante evento em São Paulo nesta semana, ele afirmou ao Valor que a empresa já avançou com os documentos que permitirão a importação. “A autorização emergencial já está em vias de ser emitida e aí a importação já poderá ser feita. Acho que dará tempo de chegar até o fim de dezembro ou início de janeiro”.

 

Fonte: Valor Econômico

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