Para Roberto Rodrigues, cooperativismo pode garantir a democracia no mundo

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Roberto Rodrigues propõe o cooperativismo como instrumento de garantia da democracia

 

Ao falar sobre a importância do cooperativismo para um público formado por estudantes, advogados, desembargadores e ministros de Tribunais Superiores, durante o Congresso Internacional do Direito do Agronegócio, realizado em São Paulo, o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, demonstrou preocupação com a falta de líderes no mundo moderno para dar rumos à humanidade que, “sob a égide da economia globalizada, vai avançando erraticamente através dos anos”. Segundo ele, “talvez tenha chegado a hora de mudar a forma de liderança, criando um poder formal através das redes sociais.”

Em sua opinião, “teria que ser um movimento profundamente lastreado em valores e princípios aceitos em todos os quadrantes, e que construíssem a base doutrinária que garantisse a perenidade da democracia – inclusive a econômica –, preservados os direitos individuais, a transparência, a honestidade, a solidariedade entre as pessoas e os povos, a igualdade entre todos, o capital social e compromisso com o bem estar coletivo.”

Em outras palavras, explicou Rodrigues, que também é coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente da Academia Brasileira de Agricultura e embaixador da ONU para o Cooperativismo no Brasil, “uma doutrina com tais valores apontaria as soluções para todo e qualquer problema de pessoas, sociedades e países. Educação, saúde, segurança, mobilidade, acesso aos fatores de produção, justiça plena, segurança alimentar, defesa do meio ambiente, cooperação, tudo estaria colocado na agenda, via redes sociais. E por que não o cooperativismo?”

 

DEFENDER A DEMOCRACIA

Relembrou Churchill, Stalin, Kennedy, Mao TseTung, Adenauer, Hitler, Charles de Gaulle, “figuras de presença global, que mostravam a seus milhares de seguidores a direção a seguir e, em sua opinião, “talvez não haja mais espaço para este tipo de liderança carismática e dominante, em função de diversos fatores”. E esclareceu: “O primeiro deles é o melhor nível de informação e educação em todos os países do mundo. Com isso, as pessoas querem ter maior participação na governança de seus destinos, com reflexo em maior cobrança dos governantes. O segundo é o poder impressionante das redes sociais, cuja atuação nos últimos anos mostra resultados inimagináveis há 10 anos: a queda do ditador egípcio Mubarak, do líbio Gaddafi, a primavera árabe de maneira geral, o Occupy Wall Street, as manifestações de rua de junho do ano passado em todo o Brasil, entre outros eventos notáveis.”

Para o coordenado da GVAgro, é preciso discutir em profundidade este tema, “porque por trás de tudo está a dramática necessidade de defender a democracia, em seu conceito mais amplo. Os efeitos da economia globalizada e do forte liberalismo comercial restringido por protecionismos gigantescos, levam os governos de cada país a perder a condição de resolver todos os problemas de seus cidadãos: a vaso-comunicância entre economias das diferentes sociedades, com demandas e exigências crescentes pelas camadas sociais ascendentes, e o complicado emaranhado burocrático das instituições das Nações Unidas vão tirando dos governos seu poder de decisão sobre temas internos.”

Outro problema apontado pelo ex-ministro é a “insatisfação da sociedade com os resultados do governo de plantão, que leva as pessoas a votarem e elegerem as oposições. Estas, por sua vez, premidas pelas mesmas circunstâncias, também não resolvem as questões centrais e terminam escorraçadas na eleição seguinte. Se o fenômeno se repete ao longo dos anos, o conceito de democracia vai se erodindo, ainda que apenas no subconsciente dos cidadãos de bem, que, por sua vez, querem participar cada vez mais da governança, exigindo mudanças. E pior, enxergando países não democráticos terem crescimento econômico e avanços sociais muito maiores que nas democracias, ficam imaginando se um choque de gestão não passaria por um endurecimento relativo: seria um desejo inconfessável de poder arbitrário?”

E questionou: “Ora, como compatibilizar esta crescente demanda por participação democrática com a incapacidade dos líderes mundiais de darem rumos ao planeta? Como conseguir que este imenso poder potencial concentrado nas redes sociais seja direcionado de forma definida para o bem estar universal, mantida a democracia?”

 

MOVIMENTO FORTE

Ao defender o cooperativismo como instrumento de defesa da estabilidade democrática, afirmou que os princípios da doutrina cooperativista são aceitos por todos os países do mundo, independente de seus regimes políticos, econômicos ou religiosos e, “assim se transforma em um movimento forte, com poderosa ênfase na defesa da democracia.”

Atualmente, um bilhão de pessoas está filiado a algum tipo de cooperativa. “Se cada associado destes tiver três dependentes, este gigantesco contingente de pessoas chega a quatro bilhões, mais da metade da população da Terra”, contabiliza Roberto Rodrigues, acrescentando que o movimento “está organizado em todos os países e, internacionalmente, tem uma poderosa cúpula representada pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI), guardiã da doutrina, considerada como instituição assessora da ONU na luta pela paz e pelos direitos humanos.”

Porém, acentua, isso implica alguns pontos bastante complexos. “Em primeiro lugar, é preciso que a Aliança Cooperativa Internacional assuma a responsabilidade de coordenar este projeto e faça um gigantesco esforço para convencer aos membros filiados em todo o mundo deste seu papel na história contemporânea. Superada esta fase, é preciso convencer do valor das cooperativas aos demais seguimentos sociais alheios ao movimento e, eventualmente, até aqueles que consideram as cooperativas como adversárias. Claro que tal procedimento demanda monumental esforço de comunicação na direção correta.”

Para Roberto Rodrigues é um sonho, mas alguma coisa já se caminhou nesta agenda desde que a ONU declarou o ano de 2012 como o Ano Internacional das Cooperativas, a partir do que a ACI elaborou um amplo programa de ação para a Década seguinte, durante a qual espera ampliar o número de cooperativas e de cooperados em todos os países, novas legislações nacionais aprovando o movimento e a criação e fundos financiadores da cooperação.

Segundo ele, “basta incluir neste glossário um novo projeto, o da assunção de um modelo global de liderança e governança. Talvez, para dar maior visibilidade a este tema, fosse indispensável conseguir o Prêmio Nobel da Paz para o Cooperativismo. Isto será um formidável ponto de partida para cooptar gente para este projeto, inclusive jovens, sempre idealistas e em busca de um mundo melhor para toda gente.”

 

Por equipe SNA/SP

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