Orgânicos: fazer a sociedade entender o campo é o grande desafio do setor

“Temos de repensar a nossa forma de ocupar os espaços” e fazer com que a sociedade entenda os desafios dos alimentos orgânicos no campo, destaca Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, durante palestra no 11° Fórum Internacional de Agricultura Orgânica e Sustentável na Bio Brazil Fair/ Biofach América Latina, em São Paulo. Crédito: Paulo Roque/Sincronismo
“Temos de repensar a nossa forma de ocupar os espaços” e fazer com que a sociedade entenda os desafios dos alimentos orgânicos no campo, destaca Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, durante palestra no 11° Fórum Internacional de Agricultura Orgânica e Sustentável na Bio Brazil Fair/ Biofach América Latina, em São Paulo. Crédito: Paulo Roque/Sincronismo

O crescimento do setor de orgânicos no Brasil é notável a cada ano, tanto na diversificação quanto na qualidade e apresentação dos produtos. Evidente que isso só seria possível com investimento associado à matéria prima. A avaliação foi feita por Rogério Dias, coordenador de Agroecologia do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), na abertura do ciclo de palestras do 11° Fórum Internacional de Agricultura Orgânica e Sustentável, durante a Bio Brazil Fair/Biofach América Latina, em São Paulo.

Segundo Dias, a gama de produtos está crescendo o tempo todo, acompanhado por novos desafios. Por isto, ele chama a atenção para o fato de que a sociedade está cada vez mais urbana e se distancia do que acontece no campo.

“Precisamos fazer com que a população urbana passe a entender a importância da produção de alimentos e a importância do alimento para a saúde humana. Precisamos trabalhar mais o que acontece no campo e resolver os problemas que afetam o setor produtivo ou vamos estar reduzidos a umas seis espécies alimentares para suprir a população”, alerta.

No início de sua palestra, comparou o desenvolvimento do setor de orgânicos com o crescimento do evento. “Antes, tínhamos muito mais produtos in natura e, hoje, mais produtos processados. Isto mostra o crescimento do setor, que está fortalecido, consolidado”, afirmou Dias.

Segundo o coordenador do Mapa, o segmento tornou-se nicho de mercado para uma tendência social e um dos maiores mercados de crescimento internacional. Produtos orgânicos (in natura e processados) agora podem ser encontrados em lojas de produtos agrícolas, lojas de produtos naturais, orgânicos, supermercados, farmácias, restaurantes, clínicas de saúde, beleza e bem estar, entre outros.

Dias destacou que o Ministério da Agricultura já realizou campanha para mostrar “que o produtor orgânico é um parceiro da natureza”.

DESAFIOS PARA O FUTURO

Agora, ressaltou ele, o desafio para o produtor orgânico vai muito além como, por exemplo, a fixação do homem à terra.

“Os jovens não estão querendo dar continuidade às atividades da família. O grande desafio é trabalhar para fortalecer quem ainda está no campo e, principalmente, produzindo de forma diferenciada.”

Segundo o coordenador do Mapa, além de enfatizar a importância do produtor como parceiro da natureza, há a necessidade de mostrar às pessoas, cada vez mais distantes dos desafios do campo, os benefícios dos produtos orgânicos para as pessoas e a terra.

“Vivemos, hoje, desafios complexos porque é difícil fazer o povo da cidade entender isso.”

POLÍTICAS PÚBLICAS

Atualmente, lembrou Dias, “não existe mais aquela sensação de que o orgânico é modismo e vai passar”.

“O orgânico está consolidado no mundo inteiro, mas precisamos de assistência técnica, financiamento, pesquisa e fortalecimento da comercialização. Se não soubermos cobrar políticas públicas não vamos mudar essa realidade.”

Conforme Dias, é preciso fazer as pessoas entenderem que tudo isto também é uma pauta de discussão para sociedade.

“Precisamos de mais clareza e participação de todo mundo na discussão sobre políticas públicas. Depois de muitos anos, conseguimos ter uma política nacional de agroecologia: o Plano Nacional de Agroecologia. A primeira fase deste plano termina no final deste ano e temos o desafio de estendê-lo por mais quatro anos.”

Ele ainda informou que o Ministério da Agricultura tem participação em mais de 400 iniciativas e que a Coordenação de Agroecologia (Coagre), da Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e Cooperativismo (SDC/Mapa), possui uma grande rede de comissões de produção orgânica em cada Estado. Agora, o desafio será colocar no plano pontos que sejam o reflexo das principais demandas da sociedade.

PRIORIDADES

No entendimento do coordenador, “não adianta ficarmos só em Brasília apontando que é ou não importante”.

“Precisamos saber que, às vezes, o que é prioritário para São Paulo não é importante para o Rio Grande do Norte. Temos de mapear isso para que possamos definir melhor em qual área vamos colocar mais esforços e, certamente, este vai ser diferenciado devido a essas características particulares.”

Ele ainda destacou a necessidade de fazer com que os consumidores façam parte deste processo, alegando o fato de que sempre falam que o orgânico é caro.

“Sempre jogam toda a responsabilidade sobre quem está no campo e não veem suas dificuldades. Precisamos encontrar meios para chamar a atenção das pessoas para esta questão de mercado e também fazer um trabalho seríssimo, focando mais na educação, para que as pessoas passem a entender a questão do alimento e sua importância.”

Par Dias, “a expansão urbana vai encurralando cada vez mais os produtores, fazendo com que surjam problemas relacionados à logística, à água, entre outros; por isso, Temos de repensar  nossa forma de ocupar os espaços”.

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