Óleos essenciais: uma fonte de divisas a ser mais explorada no Brasil

As oportunidades de mercado de óleos essenciais existem e o Brasil se favorece pela biodiversidade dos recursos naturais, uma economia estável e centros de pesquisa especializados. Foto: Divulgação A Lavoura

O Brasil tem lugar de destaque na produção de óleos essenciais e, ao lado da Índia, China e Indonésia, é considerado um dos quatro grandes produtores mundiais. A posição do Brasil deve-se, basicamente, aos óleos essenciais cítricos, obtidos como subprodutos da indústria de sucos. É o que publicou a Revista A Lavoura, na edição nº 699/2013 (páginas 48 a 53) portanto, todos os dados e informações abaixo se referem ao ano de 2013.

O País, no entanto, sofre problemas crônicos como falta de padrão de qualidade, representatividade e baixos investimentos no setor. As oportunidades de mercado existem e o Brasil se favorece pela biodiversidade dos recursos naturais, uma economia estável e centros de pesquisa especializados. Falta uma orquestração efetiva entre governo, instituições de pesquisa, universidades e iniciativa privada, para obtenção de produtos com qualidade e preços capazes de disputar mercado.

Há, pelo menos, 300 óleos essenciais de interesse comercial no mundo e, entre os 18 mais importantes, o Brasil lidera a produção de dois: laranja (Citrus sinensis) e lima destilada (Citrus aurantifolia).

De acordo com dados da Comtrade (United Nations Commodity Trade Statistics Database), os maiores consumidores de óleos essenciais no mundo são os EUA (40%) e a União Europeia (30%), sendo a França o país líder em importações.

O mercado mundial movimenta US$ 15 bilhões por ano, apresentando crescimento aproximado de 11% por ano. Até 2004, o Brasil aparecia entre os principais fornecedores de óleos cítricos, tendo contribuído com 5% do total de óleos importados.

RENDIMENTO DOS CRÍTICOS

O óleo essencial de laranja é extraído do pericarpo do fruto e tem sido empregado na perfumaria, em produtos farmacêuticos, alimentícios e em materiais de limpeza. O rendimento máximo de extração de óleos cítricos é de 0,4%, ou seja, para cada tonelada de fruta processada, são obtidos quatro quilos de óleo.

Entre janeiro a outubro de 2013, o Brasil exportou aproximadamente 26,6 mil toneladas de óleos cítricos, conforme dados da época, divulgados pela base Aliceweb do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.

Mas o país pode muito mais. Uma extensa análise do potencial de fontes alternativas de óleos essenciais foi realizada pelo grupo do professor Otto Richard Gottlieb ao longo dos anos 1970. Estes trabalhos foram continuados mais tarde por pesquisadores da Universidade do Pará, liderados pelo professor José Guilherme Soares Maia, e são fonte importante de pesquisa que precisa ser melhor explorada, transformando conhecimento em riqueza.

EXPLORAÇÃO PREDATÓRIA

Vale ressaltar, no entanto, que a exploração predatória de recursos naturais tem conduzido à escassez de matérias-primas, incluindo óleos essenciais. Um caso representativo é a obtenção do óleo essencial rico em safrol, base para a síntese de butóxido de piperonila, um importante insumo para a indústria de inseticidas piretroides. As fontes originais – árvores de grande porte – já se esgotaram nos EUA e no Brasil.

Atualmente, a China é o maior exportador mundial deste óleo. Seu processo de obtenção, entretanto, é também baseado em extrativismo. A descoberta de fontes sustentáveis para a produção desta matéria-prima é extremamente relevante, principalmente considerada a tendência de aumento de consumo dos inseticidas piretroides.

Durante estudos com óleos essenciais de espécies amazônicas, o grupo do professor Maia encontrou uma nova fonte de safrol, nativa da região, a pimenta longa (Piper hispidinervum). Posteriormente, pesquisas agronômicas conduzidas na Embrapa Acre, nos anos 1990, resultaram em protocolos para o manejo e cultivo sustentável desta espécie, cujo óleo essencial apresentou teores de safrol acima de 90%.

BIODIVERSIDADE BRASILEIRA

Por conta desse histórico e numa visão perspectiva, podemos afirmar que o Brasil sai em vantagem na disputa por mercados. A biodiversidade brasileira e as fontes renováveis de produção, dão opções para novos produtos.

A Embrapa Agroindústria de Alimentos, por exemplo, tem trabalho em parceria com outras unidades da empresa, bem como com universidades, para a prospecção, avaliação da composição e o desenvolvimento de novas aplicações para os óleos essenciais da biodiversidade brasileira, cuidando para que novas fontes de matérias-primas sejam estabelecidas em modelos de produção sustentável.

Existem outros exemplos: recentemente, a Embrapa Recursos Genéticos introduziu 29 variedades de menta no país, cujo desenvolvimento está sendo avaliado em três biomas distintos. Experimentos agronômicos e o estabelecimento de práticas de manejo são necessários para que as espécies introduzidas possam ser cultivadas em escala comercial.

INVESTIMENTO

O investimento na seleção de matrizes, irrigação e mecanização de culturas são práticas que têm sido aplicadas com sucesso no Nordeste do país. A empresa Raros é um exemplo disso na produção de óleos essenciais como o vetiver e o patchouli.

Este panorama demonstra que a produção de óleos essenciais no Brasil é, não somente viável, mas rentável. É importante ressaltar que, além dos incentivos governamentais — necessários, mas não suficientes —, a formalização de parcerias entre centros de pesquisa, universidades e iniciativa privada, é fundamental para que técnicas modernas de cultivo, seleção e melhoramento de plantas, sejam desenvolvidas e aplicadas.

O mesmo vale para os processos agroindustriais, como forma de encontrar padrões de qualidade e preços competitivos. A produção brasileira tem potencial para conquistar mercados, mas seus atores precisam agir de forma mais estruturada e estratégica.

Leia esta e outras reportagens, gratuitamente, na edição nº 699/2013 da Revista A Lavoura,

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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 699/2013

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