O que a Embraer e a Embrapa têm a ensinar à indústria brasileira?

Por * Mauro de Rezende Lopes e Ignez Vidigal Lopes

 

A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), criada em 2011, tem lançado editais de aceitação propostas de projetos de inovação tecnológica na indústria. No Brasil há exemplos de modelos de inovação que podem inspirar projetos na indústria.

A Embraer, associada à sueca Saab – uma das melhores empresas de alta tecnologia –desenvolve o JAS 39 Gripen NG (New Generation), uma parceria estratégica, na fronteira do conhecimento, para competir no mundo. Um dos mais avançados caças, um supersônico Mach 2.2 de alta performance, um irmão mais novo do Draken e do Viggen, duas aeronaves conhecidas no mundo pelo alto poder dissuasório: pela “competência tecnológica”, é capaz de dissuadir uma nação de atacar outra que possua esses jatos.

Já a Embrapa avança na “tecnologia NG” usando engenharia genética e biologia molecular na fronteira da bioeconomia. A agricultura brasileira, apoiada pela Embrapa, deu saltos de competitividade na produção de cereais, grãos, fibras e oleaginosas.

O projeto Gripen NG da SAAB criará indústrias sofisticadas no Brasil. Os seus radares ES-05 Raven poderão ser produzidos no Brasil. Já a pesquisa da Embrapa cria as “indústrias verdes”, que abrem portas para empresas industriais. A biotecnologia moderna leva à gestação de novas indústrias com base biotecnológica.

A agricultura é a indústria do futuro: o seu direcionamento para a produção de materiais e substâncias de alto valor leva ao uso não só alimentar, mas também químico, bioquímico, médico, farmacêutico, nutricional, energético. Este aumento de abrangência, por sua vez, abre portas para uma nova geração de indústrias e empresas no topo da cadeia de valor.

Inauguraremos novas bioindústrias usando as tecnologias que vão extrair subprodutos de matérias-primas agrícolas: a agricultura de biomassa, a química verde, as tecnologias de desconstruir a massa vegetal para destilar produtos em biodestilarias. Entre as principais rotas que a biotecnologia deve abrir está o domínio dos processos metabólicos dos organismos (plantas, animais e micro-organismos) e o seu direcionamento para a produção de materiais e substâncias de valor.

A pesquisa agropecuária desenvolve informação genética que aumentará a competitividade agrícola relacionada não só a alimentos, mas também a energia renovável. Avanços dignos de nota são os ligados ao desenvolvimento da biologia sintética (capacidade de ler, sintetizar e realizar a engenharia de sequências do DNA, de forma rápida e barata).

Com a queda dos custos do sequenciamento de genomas, foi possível criar bancos de recursos genéticos contendo milhões de variantes de muitos genomas; todos estão disponíveis devido aos grandes avanços na capacidade de “ler e escrever” no DNA, utilizando biotecnologia avançada.

A Embrapa e a Embraer são empresas world class que se integram às cadeias globais de valor. Qual o segredo? Não há. É o conhecido capital humano. Ambas as empresas têm cientistas capazes de desenvolver as novas técnicas NG, e que se esforçam para antecipar rupturas tecnológicas.

Além disso, Embraer e Embrapa utilizam a inovação aberta, na qual várias empresas somam competências tecnológicas. Cada uma entra com o que tem de melhor em tecnologia, passando a estudar em conjunto, mais do que produtos, soluções. A Saab agrega competências incrementais de empresas como British Aerospace, GE, Volvo e Ericsson.

A Embrapa tem parcerias com fundações privadas de pesquisa agropecuária. Através da inovação aberta, desenvolveu o sistema da Soja Cultivance, que combina variedades de soja geneticamente modificadas com um herbicida de amplo espectro da BASF, reduzindo custos.

Ambas procuraram empresas de alta tecnologia nos seus ramos de atividade para se associarem – a SAAB e a BASF. A inovação aberta a tecnologias parceiras transformou concorrentes em sócios. O modelo em que a tecnologia de fronteira conecta muitas indústrias leva a produtos e soluções tecnológicas competitivas.

Embraer e Embrapa estão focadas na concorrência no exterior. As duas empresas se desenvolveram em clusters tecnológicos que são “pontos de sigularidade” capazes de gerar “big bangs” de alta energia competitiva – São José dos Campos para a Embraer, e São Carlos para a Embrapa.

Esperamos que as experiências amealhadas por essas duas empresas possam ser emuladas em projetos tecnológicos das empresas industriais brasileiras.

 

* Mauro de Rezende Lopes e Ignez Vidigal Lopes são pesquisadores do Ibra/FGV

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