Nova cevada cervejeira é importante e vantajosa para a indústria de malte

A cultivar BRS Itanema é o lançamento da Embrapa Trigo e da Malteria do Vale para atender à demanda de cevada cervejeira nos cultivos irrigados de SP, GO, MG e DF. No Brasil, a área de cevada deverá crescer 15%, ultrapassando os 120 mil hectares. Foto: Divulgação

A cevada cervejeira BRS Itanema tem ciclo precoce e maior tamanho de grãos, além de potencial de rendimento superior a 7.000 kg/ha. É adaptada às principais regiões irrigadas de SP, GO, DF e MG. Seus grãos alcançam classificação média superior a 85% de Classe 1 e o malte apresenta perfil de qualidade que atende às especificações da indústria cervejeira.

Com ciclo de uma semana a dez dias mais curto que as demais alternativas em cultivo — BRS Sampa e BRS Manduri — a BRS Itanema será alternativa importante e vantajosa para o mix de cultivares praticado pela indústria de malte. A cultivar é fruto da parceria entre a Embrapa Trigo e a Malteria do Vale.

 

CRESCIMENTO

A área de cevada no Brasil cresce pelo terceiro ano consecutivo, apesar das frustrações com o clima, que levaram à quebra de 30% na última safra. A previsão é chegar aos 123 mil hectares neste ano, distribuídos no RS (63 mil ha), PR (53 mil ha), SC (4 mil ha) e SP (3 mil ha). O rendimento médio projetado é de 3 mil kg/ha. O período de semeadura se estende até meados de julho.

No estado de São Paulo, a cevada é cultivada em sistema irrigado há seis anos, período em que a área aumentou 43% e a produção praticamente duplicou. A principal empresa do ramo é a Malteria do Vale, de Taubaté (SP), que fomenta 3 mil ha junto a 60 produtores. De acordo com o engenheiro agrônomo da Malteria, Emílio Gotti Filho, a principal dificuldade da cevada é a competição do espaço irrigado com culturas mais rentáveis, como batata e feijão.

A estratégia da empresa foi antecipar o início da semeadura para o mês de abril, permitindo colher a cevada com cerca de 110 dias e depois ainda fazer o plantio do feijão. “São duas excelentes safras, considerando que a cevada tem produzido rendimentos médios próximos a 5 mil kg/ha. A antecipação do plantio também diminui os riscos de chuvas de primavera na colheita”, explica Gotti.

No Paraná, o fomento da cevada é realizado pela Cooperativa Agrária, que administra a maltaria Agromalte, em Entre Rios. O cultivo existe desde 1973 e, atualmente, envolve 180 famílias numa área que varia de 30 a 35 mil hectares. A cevada é a principal cultura de inverno e está gradativamente roubando espaço do trigo na região centro-sul do Paraná.

Na safra 2011/2012, mais de 4 mil hectares migraram do trigo para a cevada. Desde 2006, a área de cevada dobrou, com produtividades sempre acima de 3 mil kg/ha. Além do rendimento, cerca de 1 mil kg/ha superior ao trigo, a cevada tem o ciclo mais curto, o que permite a entrada da soja mais cedo na lavoura. Segundo dados de pesquisa da FAPA/Agrária, a soja plantada na resteva da cevada pode resultar em ganho de até cinco sacos por hectare, quando comparado ao resultado após trigo.

 

CEVADA DO BRASIL

Para o pesquisador da AmBev, Mauri Botini, “a cevada do Brasil não fica devendo para qualquer cevada do mundo. Nós temos excelente produtividade, qualidade e produção de malte. O grande limitador é o clima. Gostaríamos de não precisar importar cevada da Europa e sim gerar divisas aqui, na América Latina”, afirma Mauri, lembrando que o clima frustrou a produção nos três principais países produtores na América Latina — Brasil, Argentina e Uruguai — responsáveis por 70% da produção de malte da AmBev.

A expectativa da empresa, líder mundial no segmento de cervejas, é crescer 20% ao ano na área de cevada cervejeira no Brasil, especialmente nas regiões onde a qualidade dos grãos é mais estável. Somente em 2012, o número de produtores ligados à empresa aumentou 33%, localizados em grande maioria no Rio Grande do Sul.

Estudo apresentando pelo pesquisador da Cooperativa Agrária, Noemir Antoniazzi, avaliou que, desde a década de 1970, quando iniciaram as pesquisas com melhoramento de cevada no Brasil, o rendimento médio das lavouras passou de 1.700 kg/ha para 4 mil kg/ha. O teor de proteínas, indicativo de qualidade para a indústria, reduziu de 14% para 10% e o extrato de malte passou de 80% para 84%, avaliação conforme das sete cultivares mais plantadas no estado do Paraná no período 1973-2012.

“O esforço da pesquisa possibilitou aumentar a competitividade da cevada brasileira frente a concorrência externa”, afirma Antoniazzi.

 

SISTEMA BRASILEIRO DE PRODUÇÃO

Apesar de a Austrália estar posicionada como o 6º maior produtor mundial de cevada em 2012, as variações do clima ainda causam grandes oscilações na produção. Em anos chuvosos, produtores cultivam oleaginosas como a canola e, em anos secos, é a vez da cevada e do trigo.

O sistema brasileiro de produção de cevada e, principalmente, a organização da cadeia produtiva, chamaram a atenção do pesquisador Jason Eglinton, da Universidade de Adelaide, na Austrália, que visitou o país em meados do ano e ficou impressionado com os resultados apresentados pela pesquisa.

“Na média, nossos rendimentos são de 2 mil kg/ha — a metade do que tem-se obtido aqui no Brasil. E a forma como pequenos grupos orientam a produção também é um exemplo para garantir maior liquidez na venda dos grãos, padronizando a qualidade do malte brasileiro”, avaliou Eglinton.

“Hoje nós atingimos um patamar, sob o ponto de vista genético, competitivo em qualidade e também em rendimento, mas precisamos produzir cultivares que tenham melhor perfil de resistência a doenças, tanto para reduzir os custos de produção, quanto para gerar uma produção mais limpa, com menos agroquímicos na lavoura”, conclui o pesquisador da Embrapa Trigo, Euclydes Minella, lembrando que, atualmente, o oídio é um grande problema na cevada brasileira, além da giberela, que é um problema mundial nos cereais.

 

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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 699/2014

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