Mudanças climáticas: planejamento e conhecimento técnico são estratégias para produzir com eficiência

Pesquisador Daniel Guimarães fala sobre tecnologias capazes de amenizar efeitos das mudanças climáticas. Foto: Guilherme Viana/Embrapa
Pesquisador Daniel Guimarães fala sobre tecnologias capazes de amenizar efeitos das mudanças climáticas. Foto: Guilherme Viana/Embrapa

O cenário vivenciado principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, onde os períodos de estiagem e as altas temperaturas estão mais frequentes, tem provocado severos impactos no meio urbano. O aumento das tarifas de energia elétrica, por exemplo, é um dos reflexos da falta de chuva dos últimos anos. No agronegócio, o desafio de conviver e produzir com as mudanças climáticas é ainda maior.

“Temos estações pouco definidas, a falta de água é uma constante e os custos de produção aumentam a cada dia”, resume o presidente da Coopersete (Cooperativa Regional dos Produtores Rurais de Sete Lagoas) Marcelo Candiotto, ao descrever a situação vivida pelos agricultores desde 2010 na região Central de Minas Gerais.

Segundo ele, as alternativas para os agricultores é estabelecer um planejamento bem feito, focado em três pilares: assistência técnica, recuperação de áreas degradadas e produção eficiente de volumosos, como a cana-de-açúcar, o sorgo e a capineira, para abastecerem o gado no período de seca.

No caso da cultura do sorgo, Candiotto afirma que o cereal é uma grande alternativa para enfrentar as situações de estresse hídrico. “Parou de chover, ele (o sorgo) também para seu crescimento. Voltou a chover, consegui colher após 130 dias com um rendimento de 40 toneladas por hectare”, diz, se referindo à safra 2013/2014.

O presidente da cooperativa é um dos entusiastas da cultura. “É um produto rústico, possui boa amplitude de plantio, apresenta alta capacidade produtiva e baixo custo de produção. Não precisa exagerar na adubação”, resume.

“A estratégia de optar por culturas alternativas e com maior resistência à seca – como o sorgo e o milheto – associada à adoção de técnicas de conservação de água, como o plantio direto, a construção de barraginhas e a proteção de nascentes e matas ciliares, deve ser prática comum em toda propriedade”, defende.

As barraginhas e os lagos de múltiplo uso, técnicas coordenadas pelo engenheiro agrônomo da Embrapa Milho e Sorgo (Sete Lagoas-MG) Luciano Cordoval de Barros, têm possibilitado a revitalização de nascentes e que agricultores de regiões áridas de Minas consigam produzir. É o caso do produtor de leite e queijo artesanal Warley Braga Souza, dono de uma propriedade de pouco mais de cinco hectares em Janaúba.

“Há quatro anos sofremos com a falta de chuva. Pretendo construir mais barraginhas na minha propriedade e tentar aumentar a produção de leite”, diz.

Osmar Antunes Neto, coordenador regional da Emater-MG em Janaúba, afirma que 1.400 barraginhas vêm sendo construídas em quatro municípios do Norte de Minas em parceria com a Embrapa.

“São tecnologias importantes que têm que ser difundidas para que consigamos sobreviver à seca”, diz o técnico.

ILHAS DE CALOR

O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo Daniel Guimarães reforça também que o uso de cultivares de milho com maior tolerância ao estresse hídrico deve ser uma tecnologia acessível a agricultores de baixa renda. Além dessas técnicas para tentar vencer os efeitos das mudanças climáticas e produzir com eficiência nesse ambiente, o pesquisador explica que as queimadas devem ser evitadas ao máximo.

“As ilhas de calor provocam alterações de temperatura que chegam até às áreas urbanas, provocando tempestades, alagamentos e outras catástrofes”, explica.

A adoção de tecnologias como a integração lavoura-pecuária, a integração lavoura-pecuária-floresta e o plantio direto também deve ser estimulada, na visão do pesquisador.

“A instabilidade causada pelas mudanças climáticas é o maior problema que o produtor enfrenta nos dias de hoje e os impactos são sentidos diariamente pela sociedade. O que recomendamos é que o agricultor seja também um produtor de água. O solo deve ter uma reserva hídrica”, recomenda.

Minas terá mapa de vulnerabilidade para a seca

Para Andrea Brandão Andrade, analista da Feam (Fundação Estadual do Meio Ambiente de Minas Gerais), as consequências que as mudanças climáticas podem ocasionar no Estado são a retração do PIB, a diminuição das áreas de cultivo agrícola, a pressão migratória para as cidades e uma redução da geração de energia elétrica. Segundo ela, está em elaboração um estudo de vulnerabilidade de cada município de Minas Gerais frente às mudanças do clima.

“Os resultados preliminares indicam que a capacidade de adaptação de cada município é muito baixa. Isso é um dado preocupante. Produtores localizados em regiões que já sofrem com esse tipo de problema (como o Norte de Minas e Jequitinhonha/Mucuri) já têm expertise para conviver com a seca. Nosso objetivo é construir ferramentas que possam ser adotadas em processos de tomada de decisão”, antecipa.

O tema foi apresentado durante o seminário “Mudanças climáticas e seus impactos na agropecuária regional”, realizado na 8ª SIT (Semana de Integração Tecnológica), evento anual promovido pela Embrapa Milho e Sorgo e parceiros. Veja os possíveis impactos das mudanças climáticas em Minas Gerais elencados pela Feam caso os cenários se confirmem nos próximos anos.

Aumento das temperaturas: todas as regiões podem ser atingidas;

Diminuição das precipitações: porção mais ao norte do Território, potencialmente também em Rio Doce e Zona da Mata;

Aumento das precipitações: porção mais ao sul do Território;

Diminuição do PIB: porção mais ao norte, Triângulo e Sul de Minas;

Diminuição das zonas de cultivo agrícola: principalmente Jequitinhonha, Rio Doce, Noroeste, Alto Paranaíba e Zona da Mata. O impacto para a região Norte toma em conta a extensão da área agrícola desta região;

Diminuição da silvicultura: Norte, Noroeste e Rio Doce;

Redução da geração hidrelétrica: a redução da produção é forte nas bacias hidrográficas do Norte e Noroeste. Porém, o impacto territorial é global dada a centralização da distribuição de energia elétrica no Brasil;

Pressão migratória: nas grandes zonas urbanas, principalmente região Central;

Impactos sobre a saúde humana: forte impacto esperado, mas sem dados conclusivos regionalizados para todo o Estado;

Impactos sobre a biodiversidade: forte impacto esperado, mas sem dados conclusivos regionalizados para todo o Estado;

Processo de desertificação: regiões Norte e Jequitinhonha.

Fonte: Feam (Palestra apresentada durante a 8ª Semana de Integração Tecnológica na Embrapa Milho e Sorgo)

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