Ministra Izabella Teixeira defende bom senso e diálogo sobre sustentabilidade

Em meio aos presidentes da SNA e da FGV, Antonio Alvarenga (à esquerda) e Carlos Ivan Leal, a ministra Izabella Teixeira diz que é preciso ter “bom senso para tomar decisões hoje, que afetarão o amanhã” o meio ambiente e a sustentabilidade. Foto: Anna Oliveira/FGV
Em meio aos presidentes da SNA e da FGV, Antonio Alvarenga (à esquerda) e Carlos Ivan Leal, a ministra Izabella Teixeira diz que é preciso ter “bom senso para tomar decisões hoje, que afetarão o amanhã” o meio ambiente e a sustentabilidade. Foto: Anna Oliveira/FGV

O Brasil está passando atualmente por uma crise econômica, política, ética e social. E em meio a ela estão dois baluartes: a agricultura e a sustentabilidade. A afirmação foi feita pelo presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antonio Alvarenga, durante a abertura do “Seminário Internacional de Sustentabilidade: Desafios e Oportunidades”, realizado nesta quarta-feira, 27 de agosto, na sede da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro.

“Há 40 anos, o Brasil importava alimentos, hoje exportamos US$ 100 bilhões de produtos do agronegócio. Somos os maiores exportadores de produtos agrícolas e, ao mesmo tempo, campeões em sustentabilidade”, comentou Alvarenga, antes da palestra da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira.

Durante sua exposição, a ministra ressaltou a dificuldade que existe para  definir o que é sustentabilidade: “A própria ONU (Organização das Nações Unidas) tem mais de 168 conceitos”.

O mais importante, segundo Izabella, é ter “bom senso para tomar decisões hoje, que afetarão o amanhã”.

“Lemos com frequência nos jornais os problemas do meio ambiente, mas não vemos soluções. Os cariocas, por exemplo, protestam contra o desmatamento de Amazônia, e isto é bom. Mas não assistimos essas mesmas pessoas questionarem sobre a situação do Rio, que não tem reservação de água. Não vemos as pessoas exigirem dos gestores públicos, o governador, o prefeito soluções sobre o problema da água. Antes de qualquer coisa, é fundamental arrumarmos nossa própria casa”, sugeriu.

PARCERIAS

Para gerenciar a questão ambiental no País e no mundo, ela defende a parceria entre governos, setor privado e sociedade. “As governanças pública e privada não são necessariamente convergentes. Mas em algum momento pode e deve haver consenso.  O problema é que os arranjos estão sendo montados por meio de uma agenda muito mais política do que sustentável. O clima, por exemplo, vem a reboque. É preciso ter métricas de avaliação e buscar soluções globais que envolvam a geopolítica de desenvolvimento de cada nação, aliando agentes econômicos e sociais, sem que a questão ambiental venha a reboque”, disse a ministra.

Para Izabella, em todos os níveis socioeconômicos, é necessário debater o desenvolvimento sustentável,  que “parece ser visto só na casa do vizinho”. “Por que você pode comer alimentos orgânicos, e o pobre não? Que qualidade de desenvolvimento é esta? Ou enxergamos nosso País, em suas mais variadas vertentes, ou não temos como discutir sustentabilidade.”

A ministra ainda ressaltou que “o pior conceito de elite da sociedade é aquele que se autoexclui” dos demais integrantes que também pertencem a ela. “Por isto, é urgente que tenhamos bom senso, análise técnica e transparência para tomarmos decisões”.

Em sua opinião, é necessário que o Brasil passe “a pensar e agir no médio e longo prazo sobre seus próprios conflitos e interesses”, que envolvem a sustentabilidade ambiental. “Qual é a estratégica para sair do volume morto (do sistema Cantareira, em São Paulo)? Contar com a ajuda de São Pedro para mandar chuva, assim como já ouvi de alguns gestores?  Precisamos sair dos guetos dos debates sobre a área ambiental e tratar tais questões, mais efetivamente, incluindo o desenvolvimento da qualidade de vida e do bem estar. È necessário ter maior alinhamento destes atores. Temos de saber a métrica da emissão de carbono, por exemplo, porque ela muda de um ano para outro.”

MAIS DEBATES

Durante sua palestra, Izabella ressaltou também que o Brasil, voluntariamente, tem reduzido as emissões de gases de efeito estufa. “O clima está na pauta do mundo por causa da Conferência do Clima – COP21, a ser realizada em Paris, de 30 de novembro a 11 de dezembro. E o clima é uma ameaça para as indicações de pobreza no planeta. Nosso País tem feito a sua parte, com a introdução da agricultura de baixo carbono.”

A ministra defendeu o diálogo comum baseado no bom senso e bem estar, levando em conta as diferenças regionais de cada nação, especialmente as do Brasil. Há dez anos, por exemplo, o Congresso vinha adiando a votação do Código Florestal, que foi aprovado no ano passado. Se algo não está dando certo, vamos corrigir logo, mas sempre associando a política ambiental à agrícola.”

Izabella ainda destacou ter sido a primeira ministra da sua pasta a visitar a Embrapa e ver de perto seus trabalhos e suas necessidades. “Kátia Abreu (ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), Maurício Lopes (presidente da Embrapa) e eu temos nossas diferenças de pensamentos, que são normais, mas temos muitas convergências. Então, vamos debatê-las em conjunto.”

Ela ainda defendeu maior participação da sociedade. “É importante que o brasileiro acabe com os achismos, aprenda a debater, construir suas próprias conclusões. Precisamos defender uma agenda que trate da inclusão política, social e ambiental, pois construir este novo Brasil depende de nós mesmos.”

A PALAVRA DA FGV

Antes da palestra da ministra, o presidente da FGV, Carlos Ivan Simonsen Leal, comentou que falar em sustentabilidade “parece ter virado uma palavra mágica” para muitos.

“Estamos fazendo com a sustentabilidade mais ou menos o que foi feito com o déficit público no Brasil” que, no passado, não era considerado fundamental para a economia do País.

“Vários políticos e especialistas chegavam a dizer que ele não era importante (o déficit público), mas um dia alguém reduziu o deficit e nossos níveis de inflação caíram. Estamos em evolução e devemos olhar agora a qualidade das nossas despesas, assim como devemos tratar o fenômeno da sustentabilidade com mais precisão”, ressaltou Leal.

Em sua visão, para colocar em prática ações sustentáveis é necessário observar a demografia brasileira e debater as práticas mais concretas. “Estamos em uma fase de tentativas, de operar alguns instrumentos, que não estão completos, que só têm servido para apagar incêndios.”

Isto porque, para Leal, o País “não tem tido a capacidade de desenvolver estratégias de longo prazo, levando em conta a sustentabilidade e o meio ambiente”. “Ainda precisamos investir mais em estrutura, pesquisa, controle e incentivos” , destaca o presidente da FGV.

O EVENTO

O “Seminário Internacional de Sustentabilidade: Desafios e Oportunidades” contou com a participação de várias personalidades ligadas ao setor, além da ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e do presidente da SNA, Antonio Alvarenga. Também participaram do encontro da FGV, no Rio, o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Maurício Lopes; o pró-reitor da FGV e também diretor da SNA, Antonio Freitas; Steven Cohen, professor e diretor executivo da Earth Institute – Columbia University, que palestrou por meio de conferência direto de Nova York (EUA); Lauro Silva, general comandante do Exército Brasileiro, responsável pelo setor de Sustentabilidade; entre outros.

Na ocasião, foram debatidos os papéis da política pública na promoção da sustentabilidade, a sustentabilidade na Amazônia, a gestão e o financiamento da sustentabilidade e os rumos das soluções sustentáveis. Como continuidade do mesmo evento realizado no Rio, Belém (PA) sedia nesta quinta-feira, 27 de agosto, o “Seminário sobre Sustentabilidade na Amazônia”; e nesta sexta, 28, realiza um workshop com pesquisadores do Instituto Goeldi, dentro de um barco no Rio Amazonas.

Por equipe SNA/RJ

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