Metodologia Balde Cheio mais que dobra produção de leite

Criado pela Embrapa Pecuária Sudeste, o programa Balde Cheio oferece oportunidade de ganhos com redução de custos/despesas e elevação do número de rebanho, sem a necessidade de aumentar a área da propriedade rural. Foto: Divulgação

Um pequeno pecuarista do município de Caçu, na região Sudoeste de Goiás, viu a produção leiteira de sua propriedade de 46 hectares mais que dobrar de um ano para o outro. Antes, 13 vacas produziam 60 litros ao dia e, agora, os 50 animais disponíveis fornecem mais de 300 litros diários, um aumento de 250%, sem a necessidade de ampliar a área produtiva. O resultado veio após aderir ao programa “Goiás Mais Leite – Metodologia Balde Cheio”.

Para elevar sua produção, que não contou somente com o aumento do número de cabeças de gado, o pecuarista apostou na realização de um mapeamento do solo e passou a utilizar o capim Mombaça, apontado como mais viável para a região, o que impulsionou a produtividade de leite com o melhoramento do pasto.

Desenvolvido desde 2010 no Estado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar Goiás) e pela Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Goiás (Faeg), o programa oferece oportunidade de ganhos a partir da redução de custos/despesas e da elevação do número de rebanho, sem a necessidade de aumentar a área da propriedade rural. Atualmente, o “Goiás Mais Leite” atende a cerca de 600 produtores e envolve aproximadamente 60 técnicos rurais.

Consultor técnico do Senar-GO, Carlos Eduardo Carvalho informa que os resultados do programa no Estado se apresentam em três áreas: ambiental, social e econômica.

“Na área ambiental, trabalhamos ao máximo o potencial das plantas tropicais, por meio do aumento da fertilidade do solo feito de maneira orgânica ou mineral e das lavouras de milho ou cana para a época seca do ano. Conseguimos obter elevadas taxas de lotação nas propriedades assistidas, fazendo com que haja diminuição da pressão nas áreas de reserva legal e preservação permanente”, ressalta Carvalho, comentando que a taxa de lotação média é de 10UA (Unidade Animal) por hectare, “portanto, mesmo quando a propriedade é pequena, consegue-se viabilizá-la sem agredir o meio ambiente”.

Ele cita que na área social qualquer produtor pode fazer parte deste trabalho, até porque é recomendável utilizar poucos recursos no início.

“Desta maneira, pequenos produtores também podem aderir à metodologia. No atual cenário, muitos deles estão deixando as classes econômicas D e E passando para C e B, no que diz respeito à geração de renda rural.”

Na área econômica, ressalta Carvalho, “trabalhamos a qualidade do nosso alimento volumoso de maneira impecável, seguindo rigorosamente os conceitos zootécnicos, como a estrutura de rebanho adequada com 65% de vacas e 35% de recria”. “Com isso, conseguimos fazer com que a maioria dos produtores assistidos suporte bem as crises enfrentadas pela atividade, como vimos o preço do leite despencar no final do ano passado e início deste”, observa ele.

O assessor técnico do Senar Goiás ainda destaca que “a média de porcentagem da receita comprometida com as despesas de custeio está em 65%, ou seja, o produtor tem 35% da receita para queimar com investimentos, depreciação de máquinas e equipamentos, além de uma gordura quando o preço do produto sofre queda, como observamos no último ano”.

IMPLANTAÇÃO

Criado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Pecuária Sudeste, o programa, hoje presente em quase todo o território nacional, leva conhecimento técnico aos produtores por meio da promoção do desenvolvimento sustentável da pecuária leiteira via transferência de tecnologia.

De acordo com a Embrapa, a propriedade leiteira de cunho familiar serve como “sala de aula prática” com o objetivo de “reciclar o conhecimento de todos os envolvidos: pesquisadores, extensionistas e produtores e, ao mesmo tempo, apresentar essa propriedade como exemplo de desenvolvimento sustentável da atividade leiteira em todos os aspectos: técnico, econômico, social e ambiental”.

Para implantar o Balde Cheio em determinada região, um extensionista treinado pela Embrapa seleciona uma propriedade por município que sirva como base de referência aos demais produtores. A propriedade “sala de aula” deve ter, preferencialmente, as seguintes características: pequeno porte (a partir de 0,5 hectare) e atividade leiteira como principal fonte de renda familiar, para que não haja interferência no aprendizado das pessoas envolvidas.

Após a propriedade ser selecionada e aprovada pela equipe do projeto, o dono do espaço deve responder a um questionário que identificará, além do sistema de produção, aspectos relacionados à situação socioeconômica da família, bem como questões referentes ao ambiente.

A partir daí, deve ser realizada a visita de um instrutor credenciado pelo programa, que ocorrerá a cada quatro meses por quatro anos (tempo do projeto), totalizando 12 visitas de acompanhamento. Nestas visitas, além do instrutor credenciado, devem estar presentes o extensionista responsável pela Unidade Demonstrativa (UD) e o produtor. As presenças de mais pessoas – ou seja, de outros técnicos e produtores de leite da região – podem ser incentivadas.

VISITAS

De acordo com a Embrapa, o extensionista responsável deve ir à Unidade Demonstrativa, pelo menos, uma vez por mês. Já o pecuarista de leite que aceitar ser uma UD terá o direito de ser assistido pelos técnicos do programa, desde que cumpra com as seguintes obrigações: realizar de imediato exames para detecção de brucelose e tuberculose, descartando animais positivos; e permitir que sua propriedade seja visitada por outros produtores e outros técnicos.

Ele também deve fazer sempre o que for combinado entre os envolvidos, além de passar a registrar os controles básicos relativos ao clima (chuvas e temperaturas máxima e mínima), às finanças (despesas e receitas com a atividade leiteira) e ao rebanho (parições, coberturas, pesagens mensais de fêmeas em crescimento e controles leiteiros, que nada mais são do que as pesagens ou medições, uma vez ao mês, do leite produzido por cada uma das vacas em lactação).

Segundo a entidade, técnicas adequadas a cada propriedade serão propostas e discutidas por todas as pessoas presentes na visita quadrimestral. “Com isto, possivelmente a solução mais viável será encontrada e a cada visita os problemas vão sendo solucionados e novas perspectivas acabam sendo vislumbradas.”

Balde Cheio utiliza, além de gerenciais, as tecnologias agropecuárias tais como o uso intensivo de pastagens, em sistema de pastejo rotacionado. Foto: Divulgação

TECNOLOGIAS

O projeto Balde Cheio utiliza tanto tecnologias agropecuárias quanto ambientais e gerenciais na hora de implantá-lo em determinada região. Nas tecnologias de campo, são empregados o uso intensivo de pastagens em sistema de pastejo rotacionado; uso de sistemas de irrigação; sobre-semeadura de aveia ou de azevém em pastagens tropicais durante o período da seca; fornecimento de cana-de-açúcar com ureia como suplementação alimentar no período da seca; controle reprodutivo; controle sanitário no rebanho; e uso de técnicas de melhoria do conforto e do bem-estar dos animais.

Nas tecnologias ambientais são empregadas a recuperação e conservação da fertilidade do solo; plantio de árvores para formação ou renovação de matas ciliares; preservação de áreas de proteção permanente; controle de efluentes e ações de melhoria da qualidade da água. Nas gerenciais, são realizados o controle zootécnico do rebanho, a análise econômica da produção e o acompanhamento contábil das propriedades participantes.

Por equipe SNA/RJ

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp