Mercado importador chinês exige eficiência e diversificação, destaca ex-embaixador em Pequim

Para o ex-embaixador Brasil em Pequina (China) Clodoaldo Hugueney, o Brasil tem de estar preparado para competir de forma cada vez mais eficiente nos mercados asiáticos. Foto: Divulgação
Para o ex-embaixador Brasil em Pequina (China) Clodoaldo Hugueney, o Brasil tem de estar preparado para competir de forma cada vez mais eficiente nos mercados asiáticos. Foto: Divulgação

Diversificar, conhecer melhor e realizar parcerias, principalmente na área de ciência, tecnologia e inovação, são fatores fundamentais para que o Brasil continue a manter e até melhorar os índices de exportações de produtos agropecuários para China. A opinião é do ex-embaixador do Brasil em Pequim Clodoaldo Hugueney.

A China foi o país que mais importou produtos agropecuários do Brasil durante o ano passado. De acordo com levantamento realizado pelo Sistema de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro (AgroStat), as importações chinesas somaram US$ 22,07 bilhões.

O complexo soja foi o destaque e atingiu a cifra de US$ 17,01 bilhões, sendo que US$ 16,62 bilhões foram de soja em grãos, e produtos florestais, com o montante de US$ 1,89 bilhão, destacando-se a celulose, que somou US$ 1,71 bilhão.

No ranking dos países importadores, em segundo lugar estão os Estados Unidos, seguidos pelos Países Baixos, Rússia e Alemanha que, juntamente com a China, somaram US$ 42,32 bilhões, o que representa 43,7% do valor total importado.

Segundo Hugueney, o continente asiático em geral é de grande importância para o comércio exterior brasileiro, principalmente no que se refere à demanda por produtos do setor agrícola. Em vários países da Ásia, explica o embaixador, existem limites à expansão da agropecuária e o processo de urbanização, que está ocorrendo de forma acelerada na China, está levando a uma demanda cada vez maior de alimentos, inclusive de melhor qualidade.

Ele salienta que também está em curso um processo de diversificação do consumo de produtos industrializados como, por exemplo, do setor lácteo e carne. “Acho que isso é uma tendência que vai continuar”, afirma.

COMPETIÇÃO

Hugueney, porém, alerta para o fato de que o Brasil tem de estar preparado para competir de forma cada vez mais eficiente nesses mercados com grandes produtores agrícolas, que estão na região asiática, como Austrália, Nova Zelândia e EUA, maior exportador mundial de produtos agrícolas e com uma presença muito grande naquele continente.

“São competidores em vários segmentos como soja e carne. Temos de estar preparados para ocupar espaço nesses mercados. Isso envolve acompanhar o desenvolvimento econômico do país importador, como está evoluindo a agricultura desse país e a possibilidade de aumento da produção local em alguns segmentos”, aconselha o ex-embaixador, lembrando a necessidade de o Brasil se envolver e manter permanentes contatos com empresas chinesas e de outros países da região asiática, além de desenvolver estudos e trabalhos sobre a agricultura chinesa.

Ele cita o exemplo da Austrália, que realizou estudo conjunto com a China, para comparar a agricultura dos dois países, visando a intensificação de oportunidades.

“Eles estudam e identificam duas grandes áreas, por exemplo, de cooperação crescente, para investimentos. Os australianos estão abrindo o país a investimentos chineses em propriedades agrícolas, além de trabalharem, em parceria, nas áreas de ciência, tecnologia e inovação. No que se refere à Academia, o Brasil, tanto governo quanto setor privado, precisa desenvolver um esforço muito grande e passar a entender e incrementar trabalhos sobre sua relação com a China na área agrícola. Isso é fundamental.”

DIVERSIFICAÇÃO

Outro ponto importante destacado por Hugueney é a necessidade de o Brasil diversificar suas exportações para a China que, hoje, estão concentradas um número muito pequeno de produtos básicos, cenário em que a soja tem um papel extremamente importante.

Uma das formas “é exportar óleo de soja, farelo de soja, promover o esmagamento da soja no Brasil e exportar não só grãos, mas também soja industrializada. Exportar carne industrializada, etc. Há um espaço muito grande para a diversificação na área agrícola”.

De acordo com  o ex-embaixador, a economia da China está passando por um processo de ajuste e um processo de transformação em que a taxa de crescimento da sua economia vai seguir subindo.

“Esse processo de transformação vai provocar um impacto sobre o comércio exterior chinês e o Brasil tem de estar presente e fazer parte disso. Essas reformas, bem sucedidas, vão garantir um crescimento a longo prazo da China e vão criar mais oportunidades para países que tenham uma relação comercial e de investimentos importantes com os chineses, como é o caso do Brasil”, destaca.

RANKING

No ranking dos países importadores de produtos agropecuários do Brasil, indica o Sistema de Estatísticas de Comércio Exterior do Agronegócio Brasileiro (AgroStat), em segundo colocado estão os Estados Unidos, com o montante de US$ 7 bilhões em importações do Brasil. Os produtos florestais ficaram em primeiro lugar nas importações do país, com US$ 2,15 bilhões, sendo que US$ 974 milhões foram de celulose. Em seguida, veio o café, com a soma de US$ 1,30 bilhão.

Os Países Baixos ocuparam a terceira posição no ranking, com US$ 6,13 bilhões em importações. Deste valor, o complexo soja foi responsável por US$ 2,90 bilhões, com destaque para o farelo de soja, que alcançou a cifra de US$ 1,89 bilhão. O segundo setor que mais exportou para o país foi o de produtos florestais, com a soma de US$ 968 milhões, sendo US$ 906 milhões de celulose.

A Rússia ficou em quarto lugar, com importações que atingiram o montante de US$ 3,65 bilhões. O setor de carnes foi destaque e somou US$ 2,44 bilhões. Deste valor, US$ 1,31 bilhão foi de carne bovina, US$ 811 milhões de carne suína e US$ 303 milhões de carne de frango. O complexo sucroalcooleiro foi responsável por US$ 540 milhões das importações do país.

Com a cifra de US$ 3,48 bilhões, a Alemanha ficou com a quinta posição no ranking. O produto mais importado por esse país, no ano passado, foi o café, com a soma de US$ 1,30 bilhão. Em segundo lugar verificou-se o complexo soja, com US$ 1,12 bilhão, dos quais US$ 795 milhões são relativos ao farelo de soja.

Por equipe SNA/SP

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