Mandioca: desafio de atrair produtores continua; oferta deve seguir restrita

A oferta de mandioca para a indústria deve continuar limitada no Centro-Sul do País em 2018, de acordo com pesquisadores do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP. Novas áreas foram cultivadas, com produtores sendo atraídos por preços considerados satisfatórios, mas o impacto não será tão expressivo, segundo levantamentos do Cepea.

Para haver lavouras de mandioca disponíveis no início de 2018, as lavouras deveriam ter sido implantadas pelo menos no segundo semestre de 2016, ou logo no início de 2017, período incomum de plantio. Porém, em 2016, em termos nacionais, houve diminuição de 6,3% na área plantada no Brasil, conforme estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

No entanto, parte das lavouras com dois ciclos já foi colhida no segundo semestre de 2017, diante dos preços atrativos. Além disso, muitos produtores também comercializaram raízes mais novas, em muitos casos com menos de um ano, para fazer caixa ou diante da possibilidade quedas de preços em 2018. Aqueles que deixaram o produto para comercializar neste ano já indicam produtividade menor por conta das condições climáticas desfavoráveis, bem como pelo plantio, que em muitos casos foi tardio.

Quanto ao Paraná, a Secretaria de Agricultura e do Abastecimento (Seab/Deral) estima que a área a ser colhida com mandioca totalize 126.900 hectares neste ano, recuo de 2% frente à do ano passado. No entanto, o órgão considera que a produtividade deve aumentar 9%, chegando a 25,8 toneladas por hectare, o que levaria à produção de 3 milhões de toneladas, 7% maior que a de 2017. Mesmo nesse possível cenário, o total produzido continuaria abaixo da demanda industrial no estado, que é o principal produtor brasileiro de fécula.

De modo geral, as indústrias de fécula e de farinha do Centro-Sul terão menor oferta de mandioca em boa parte de 2018, pois as lavouras implantadas em 2017 devem estar disponíveis apenas no final deste ano ou no início de 2019. Assim, é de se esperar forte disputa pelo produto em cada região produtora, assim como entre as regiões. Dados mais concretos sobre a área disponível para a colheita neste ano, assim como a intensão do produtor em realizar a colheita, devem estar disponíveis até o final de fevereiro, resultado da parceria entre o Cepea e a Abam.

Colaboradores do Cepea no Nordeste apontam que as chuvas foram melhores em 2017 e permitiram o aumento da área plantada com mandioca, com destaque para partes de Pernambuco e Alagoas. Assim, farinheiras devem ter menor dependência pela mandioca dos estados do Centro-Sul, o que seria um fator a menos para sustentar os preços. Agentes do Nordeste já apontam que os atuais preços da mandioca no Paraná e em São Paulo, tradicionais fornecedores, inviabilizam as aquisições, especialmente quando se adicionam os custos com transporte.

Enquanto há restrição de oferta, devido à menor área destinada à cultura, pode-se esperar que a demanda por fécula e amidos em geral seja maior, por conta de uma possível melhora na economia brasileira, como apontam os dados macroeconômicos. Com isso, as fecularias poderão ter maior interesse em processamento de mandioca, fator que levaria a um acirramento na disputa pelo produto.

De um lado, pelo menos por enquanto não há fatores que apontem pressão significativa sobre os valores. Para vendedores dos derivados, é um ambiente que tende a dificultar a ampliação de mercados a serem atendidos, especialmente pela concorrência com o amido de milho.

Já para produtores, a rentabilidade tende a continuar atraente, cenário que pode aumentar a área a ser cultivada na temporada 2018/19. Vale ressaltar que os custos de produção não tiveram alterações expressivas, inclusive de arrendamentos. Deste modo, a oferta poderia ser regularizada em dois anos, a depender das condições climáticas e da fitossanidade.

Mesmo assim, as oscilações de preços e custos ao longo dos anos são fatores que dificultam a entrada de produtores na cultura, assim como de incremento de consumidores. Este é o desafio da cadeia produtiva ao longo dos anos. Produtores estão buscando regiões não tradicionais para o cultivo, com custo menor, especialmente de arrendamento, enquanto indústrias mais preparadas em termos de gestão estão se movimentando no sentido de verticalização, incluindo parcerias mais estruturadas com produtores, visando garantir a constância na oferta e minimizar oscilações de preços.

Fécula

Possível melhora nas vendas, mas sem ampliar participação no mercado. A recuperação do ambiente econômico no Brasil induz à expectativa de aumento nas vendas de fécula e amidos nativos e modificados de forma geral. Entretanto, a cadeia produtiva de fécula pode deixar de aproveitar estas oportunidades, diante da restrição de matéria-prima. Certamente alguns segmentos podem ser favorecidos, especialmente aqueles com menor concorrência com outros amidos ou mesmo com relação mais direta com o atacado e/ou varejo. Podem ser citadas vendas para o segmento de tapiocas semiprontas, que tiveram crescimento nos últimos anos, assim como retomada das negociações para o setor de frigoríficos, que tiveram recuo expressivo em 2017.

Dados mais recentes do Banco Central do Brasil (Bacen) indicam que o PIB brasileiro crescer 2,7% em 2018. Com recuperação da produção industrial, há expectativa de aumento no consumo de fécula. Ainda segundo o Bacen, a inflação medida pelo IPCA deste ano deve ficar abaixo de 4%, o que influenciaria em retomada das vendas no varejo.

Também neste caso, com oferta restrita e demanda um pouco mais ativa, há mais fatores que apontam para sustentação do que para pressões nos valores. Assim, segue a redução da competitividade da fécula, em termos gerais.

Os estoques de passagem de 2017/2018 ficaram 60% abaixo daqueles de 2017 e, sem aumento da disponibilidade de matéria-prima, em boa parte do ano haverá dificuldades na formação dos estoques. Isto pode ser também um atrativo para a importação da fécula. As importações podem visar o atendimento de segmentos específicos, especialmente modificadoras, uma vez que há restrições técnicas para uso em segmentos como o alimentício. Como a principal fonte para importação é a Ásia, os custos de frete e seguros marítimos podem ser empecilhos.

Com os preços da mandioca e da fécula em patamares considerados altos, as margens da indústria de fécula podem seguir baixas. Com isso, haveria pouca disponibilidade em reduzir preços de venda, assim como há dificuldades em realizar investimentos, o que, para médio e longo prazo, é prejudicial para a sustentabilidade do segmento. Vale ressaltar que a ociosidade da indústria está ao redor de 50%, o que eleva os custos de produção e desestimula possíveis ampliações de investimento.

Farinha

Preços devem influenciar o consumo. Embora haja sinais de recuperação da economia brasileira, com efeitos sobre a produção e o consumo, a demanda pela farinha de mandioca deve ser retomada de forma moderada. Este possível cenário é atribuído aos atuais níveis de preços, que afetam, especialmente, as camadas de baixa renda da população.

Agentes nordestinos que vinham se abastecendo com farinha, e até mesmo raízes de mandioca, no Centro-Sul nos dois últimos anos, devem limitar essas compras. Há, inclusive, a possibilidade de fluxo de farinha de alguns estados do Nordeste para os principais mercados do Sul e do Sudeste, especialmente em momentos de baixa oferta.

Enquanto o consumidor final tem diminuído a demanda por farinha, as empresas menores devem continuar voltadas para atender à demanda das empacotadoras, que têm a possibilidade de comercializar o produto sob a forma de farofas, agregando, assim, valor ao produto e ampliando o mercado. Este mercado se restringe a parcelas de renda mais alta da população.

As farinheiras do Centro-Sul também viraram o ano com baixos estoques e devem continuar nos mesmos níveis, principalmente no primeiro semestre de 2018, por conta da restrição na oferta de matéria-prima. Neste período, poderá haver disputa pelo produto com a indústria de fécula, especialmente nos estados do Paraná e de São Paulo.

Outro ponto a ser destacado é que o governo federal deve ter dificuldades em atuar no mercado nos momentos de preços em ascensão, dada a falta de produto para a elaboração de política agrícola. Em dezembro de 2017, havia 7.800 toneladas de fécula nos estoques públicos, que foram liquidados até outubro.

 

Fonte: Cepea/Esalq

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