Insetos: nem sempre vilões

Apesar dos prejuízos causados pelos excessos ocasionais de população, abelhas, formigas e até cupins têm um papel importante nos ecossistemas. Foto: Divulgação
Apesar dos prejuízos causados pelos excessos ocasionais de população, abelhas, formigas e até cupins têm um papel importante nos ecossistemas. Foto: Divulgação

De maneira geral, considera-se praga um animal, planta ou micro-organismo que aumenta sua densidade populacional até o ponto de prejudicar a saúde humana ou animal e, principalmente, sistemas agrícolas e florestais. Mas será que essas espécies deveriam ser constantemente denominadas assim?

Conhecidos e temidos nas cidades, os cupins desempenham um papel importantíssimo tanto nas áreas de vegetação aberta, como nas florestas. Junto com as formigas, constituem enorme parte da biomassa nesses ecossistemas, funcionando como consumidores primários e decompositores. Além disso, por meio das atividades de construção de ninhos e galerias junto ao solo, acabam sendo responsáveis pela distribuição de vários nutrientes.

Outras propriedades dos solos também são alteradas pela atividade dos cupins, que podem ter um papel semelhante ao das minhocas na aeração do solo.

Ainda como consumidores primários, alguns insetos são fonte alimentar para vários animais, como formigas e outros artrópodes, peixes, anfíbios, lagartos, aves e mamíferos. Mesmo a broca da cana-de-açúcar (Diatraea saccharalis), que causa prejuízos diretos e indiretos para a cultura quando sua população aumenta desordenadamente, fora dessa condição, é uma espécie que deve ser vista como importante na cadeia alimentar. Nesse contexto, vale a pena salientar que, dentro de um milhão de espécies de insetos descritas, apenas 10% tem o potencial de se tornarem pragas.

 

DIVERSAS FUNÇÕES ECOLÓGICAS

Dentre outros papéis fundamentais dos insetos está sua função polinizadora: estima-se que 80% das plantas com flores dependam da polinização para se reproduzirem. Outra utilidade é a indicação da qualidade ambiental de acordo com sua presença, ausência, distribuição e densidade, sinais que permitem definir a saúde do ecossistema. Desses sinais, pode-se avaliar, especialmente, a presença de contaminantes do ar, solo e água.

Os insetos também podem intervir decisivamente nos ciclos biogeoquímicos, já que sem eles a matéria orgânica levaria muito mais tempo para ser reciclada. Eles são capazes de controlar naturalmente pragas agrícolas e florestais e, além disso, esses organismos prestam seus serviços para produção de mel, cera, alimentação humana e animal, pesca comercial e esportiva, entre outros.

Estas e outras características foram desenvolvidas em, aproximadamente, 400 milhões de anos de existência dos insetos na Terra. Considerando-se que o homem tem apenas dois milhões, observa-se uma vantagem evolutiva de mais ou menos 398 milhões de anos para os primeiros. Como resultado de múltiplas pressões seletivas ocorridas no curso desses milhões de anos, os insetos aperfeiçoaram mecanismos de sobrevivência e reprodução que explicam sua diversidade atual. Dentre as características que permitem essa adequabilidade aos agroecossistemas atuais, destaca-se seu elevado potencial biótico e sua capacidade de adaptação e de dispersão. Deste modo, os insetos podem investir seu potencial energético na reprodução e ocupação de novos ambientes.

 

DIFERENÇAS ENTRE ECOSSISTEMAS

Em condições naturais, populações de insetos não têm potencial de crescimento exponencial, porque existem fatores naturais originados na complexidade do ambiente que regulam suas populações. Entre esses fatores limitantes estão a competição inter e intraespecífica dos insetos, os efeitos do clima (oscilações na temperatura e umidade relativa, pluviosidade, vento, entre outros), a disponibilidade de alimento, a migração e a dispersão e o controle biológico exercido pelos inimigos naturais (predadores, parasitoides e entomopatógenos).

É necessário observar que há diferenças óbvias entre os ecossistemas naturais e artificiais, como cultivos agrícolas, plantações florestais, fazendas de gado etc. Ao se analisar tais fatores, podem ser buscadas as causas do surgimento dos insetos denominados de pragas. Provavelmente, o principal fator a ser destacado seja o cultivo da mesma espécie de planta em uma área ampla e isolada, que favorece aos insetos biomassa vegetal abundante, contínua e muito concentrada fisicamente, enquanto na natureza o alimento é mais escasso e está mais disperso.

Além disso, o processo de simplificação dos ecossistemas naturais é outro fator relevante para compreender o surgimento das pragas. A eliminação da vegetação nativa tem favorecido o aumento da densidade populacional desses indivíduos, já que os ecossistemas naturais são fonte propícia de alimento e refúgio aos inimigos naturais. Certas espécies vegetais também devem ser consideradas como um fator importante nesse contexto, pois ao serem introduzidas em uma nova região (cultivos exóticos) podem ser atacadas por organismos que nunca haviam estado em contato com elas, e que se alimentavam de plantas nativas.

 

ADAPTABILIDADE A AMBIENTES EXÓTICOS

No caso dos insetos, quando espécies são introduzidas em regiões não endêmicas, elas podem se adaptar e se alimentar dos cultivos agrícolas. Essa nova disponibilidade de recursos, aliada à ausência de inimigos naturais, faz com que determinadas espécies de organismos, previamente inofensivos, sejam considerados nocivos.

Os insetos podem ser benéficos e maléficos: o que vai determinar essa condição é o ambiente em que eles estão, a sua densidade populacional e também quem está interagindo com esses organismos. Entretanto, indiferente dessas condições, cabe a nós, humanos, o bom senso de aprender a respeitar e a conviver harmoniosamente com os insetos, uma vez que dependemos muito mais deles do que eles de nós.

 

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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 696/2013

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