Indicação Geográfica – Norte Pioneiro do Paraná: ‘Café com identidade própria’

Cultivo de cafés especiais no Norte Pioneiro do Paraná é favorecido por condições de clima e solo que proporcionam o ciclo completo de maturação da fruta e, posteriormente, dos grãos. Foto: Divulgação A Lavoura nº 711/2015

O café especial do Norte Pioneiro do Paraná foi o primeiro produto produzido naquele Estado a receber certificação de Indicação Geográfica (IG). Seu cultivo, de acordo com publicação da Revista A Lavoura – Edição nº 711/2015 (páginas 52 a 54), é favorecido por condições de clima e solo que proporcionam o ciclo completo de maturação da fruta e, posteriormente, dos grãos, fatores que, conferem atributos especiais e qualidades sensoriais ao café da região.

O Norte Pioneiro do Paraná abrange 46 municípios e 7,5 mil cafeicultores (dados de 2015), que produzem aproximadamente 2,2 milhões de sacas por ano. A meta dos produtores é manter a organização e buscar mais tecnologias para que a região possa explorar melhor suas potencialidades. Os produtores estão reunidos em duas cooperativas que, além da região Norte Pioneiro, inclui também o Norte do Paraná.

O café do Norte Pioneiro já é exportado há cinco anos e, atualmente, a capacidade e a tecnologia de produção e colheita estão sendo aprimoradas com o objetivo de aumentar qualidade, agregar valor e atender a demanda em constante crescimento.

GARANTIA DA ORIGEM

A IG atribui identidade própria ao produto ao garantir a origem, os processos de produção e algumas características sensoriais do café produzido na região, de acordo com as normas estabelecidas para a concessão do selo de qualidade pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi).

Também representa o reconhecimento das qualidades particulares do produto, agregando valor no mercado nacional e internacional, e visibilidade e projeção da região no mundo. Além disso, permite proteção do produto (reduzindo as falsificações) e de sua variedade e imagem, da renda do produtor, dos direitos do consumidor, da riqueza e do desenvolvimento, do território, da cultura e da tradição da região.

VALOR AGREGADO

Com a conquista da Indicação de Procedência (IP), os produtores passaram a receber valor 25% superior pela e saca de café. Os órgãos públicos de apoio e fomento pretendem reforçar o quadro de funcionários da assistência técnica, a fim de ajudar os cafeicultores a elevar a produtividade que, em média, é de 23 sacas por hectare, para 40 sacas por hectare.

Outro objetivo é formar especialistas em degustação para conferir a qualidade da bebida e a instalação de 330 unidades demonstrativas para o reconhecimento do processo de produção, ações que deverão valorizar entre 30% e 35% o café especial em relação ao preço do mercado.

A certificação do Norte Pioneiro do Paraná como região produtora de cafés especiais é fruto de um trabalho intenso realizado por várias instituições representantes e parceiras da cadeia produtiva do café na região, que formam o Consórcio Pesquisa Café.

Entre as instituições diretamente envolvidas estão o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), o Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), e a Embrapa Café, que coordena o programa de pesquisa, e a Cooperativa de Cafés Especiais Certificados do Norte Pioneiro do Paraná (Coenpp), entre outras.

Há mais de 15 anos, o trabalho conjunto entre produtores, pesquisa, ensino, extensão, indústria e governo iniciou a busca por melhorar a qualidade do café produzido na região.

Os produtores, por sua vez, precisaram rever suas concepções sobre técnicas de cultivo e manuseio do café e foram capacitados em boas práticas, como aquisição de mudas de qualidade, adoção de técnicas de proteção do solo, adubação, adensamento, redução de agrotóxicos nas lavouras e rastreabilidade da produção, entre outras.

CONDIÇÕES FAVORÁVEIS

O Programa de Cafés Especiais também deu origem, em 2014, ao Programa 100% Qualidade, que promove a capacitação dos agricultores voltada para certificação, gestão da propriedade, aproveitamento de resíduos e técnica de manejo de café cereja descascado.

100% DE QUALIDADE

O Projeto de Cafés Especiais, lançado em 2006, mostrou o potencial de mercado desses grãos e revelou aos agricultores um novo modelo de produção. Especialistas do Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) realizaram testes visando embasar as avaliações das características regionais do café, além da análise bioquímica e sensorial.

As condições climáticas da região são ideais para a produção de cafés finos. As temperaturas médias anuais entre 19 e 22°C, a altitude entre 500m e 900m, as qualidades da “terra roxa” e a precipitação pluviométrica, que permite o cultivo sem irrigação, ou com irrigação complementar, são determinantes para a bebida.

Tais características também favorecem a fixação mais intensa dos atributos e conferem excelente caracterização da bebida, como doçura intensa, suavidade, corpo equilibrado, acidez cítrica agradável e marcante sabor residual, com sabor e aroma oscilando entre chocolate, caramelo, floral cítrico e frutado.

HISTÓRIA E TRADIÇÃO

O Norte Pioneiro do Paraná foi a porta de entrada para a colonização de toda a região norte paranaense. Quando os cafeicultores iniciaram a subida do curso do rio Paraíba, eles identificaram o planalto de São Paulo como ideal para suas plantações, local onde começa a convergência do cultivo para as terras roxas do oeste paulista.

São Paulo, consequentemente, passou a ser o principal produtor de café do Brasil e o principal fornecedor para o mercado externo. No entanto, implementada a cobrança de impostos por novos pés de café, para conter o avanço da cafeicultura, os fazendeiros do sudeste de São Paulo se sentiram motivados a fazer novas plantações e escolheram as terras roxas e férteis do Paraná.

O cultivo itinerante do café determinou a vinda de diversos tipos de imigrantes, gerou construções de ferrovias e estabeleceu as relações econômicas da região. Mais de 200 cidades surgiram na metade do século 20, tais como Jacarezinho, Cornélio Procópio, Londrina e Maringá. Tradicionais famílias vivem na região, com mais de cem anos de rica história ligada à produção de café.

PROGRAMA MUNDIAL DE PESQUISAS

O parque cafeeiro paranaense chegou a representar aproximadamente 40% da área cultivada e 50% da produção nacional de café até meados de 1975, quando a geada quase dizimou as plantações. Atualmente, a região do Norte Pioneiro responde por cerca de 50% do café paranaense, que produz de 1,6 milhão a dois milhões de sacas por ano.

O Brasil desenvolve o maior programa mundial de pesquisas em café, que reúne mais de 700 pesquisadores, de cerca de 40 instituições, envolvidos em 74 projetos dos quais fazem parte 355 Planos de ação. A interação entre as instituições e a união de recursos humanos, físicos, financeiros e materiais, permitem elaborar projetos inovadores.

Esse arranjo institucional atua em todos os segmentos da cadeia produtiva, tendo por base a sustentabilidade, a qualidade, a produtividade, a preservação ambiental, o desenvolvimento e o incentivo a pequenos e grandes produtores.

Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 711/2015

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