‘Importar feijão ameniza, mas não resolve abastecimento’, afirma presidente do Ibrafe

A decisão de autorizar a importação de feijão, anunciada pelo governo, ajuda a amenizar a atual situação de oferta e demanda do produto, mas parece mais uma resposta política para a população do que uma decisão de mercado. É o que afirma o presidente do Instituto Brasileiro do Feijão (Ibrafe), Marcelo Lüders, que concedeu entrevista, por telefone, ao Globo Rural.

“Não há muito o que fazer neste momento simplesmente porque não tem feijão. Não há estoques, faltou apoio ao produtor. Mas o governo precisa dar uma resposta para a população”, disse Lüders.

Na quarta-feira (22/6), o governo federal informou que estuda como possibilitar a importação do grão de países como México e China, além das remessas da Bolívia, Argentina e Paraguai. A decisão foi tomada em meio aos altos preços no mercado interno, em função de problemas climáticos que afetaram a produção no País.

Marcelo Lüders explica que será dada ênfase à compra de feijão preto, sem prejuízos para o produtor brasileiro, que planta o carioca. Segundo ele, no caso da China, seria reduzida a tarifa de 10% na importação do produto.

“O Brasil já traz feijão preto da China. Tem produto no mar neste momento”, afirma, acrescentando que, de navio, o transporte leva, em média, 45 dias.

No caso do México, a situação do mercado brasileiro abre espaço para acelerar acordo sanitário bilateral que envolve as culturas de arroz e feijão. No ano passado, o Brasil apresentou a liberação do feijão preto mexicano como contrapartida para a abertura do país para o arroz brasileiro.

“Não há uma grande quantidade de feijão do México agora. A safra deles vai ser colhida só em setembro e não temos certeza de como será a nossa primeira safra. Mas é preciso ter o país como uma alternativa”, disse.

Além de reforçar a oferta interna, a importação de feijão preto chinês e mexicano também criaria concorrência para a Argentina, de onde o Brasil já importa. Com isso, o país vizinho não aumentaria o preço de forma tão acelerada.

“O preço do feijão argentino aumentou mais de 30% em um mês. Mas é preciso sinalizar uma concorrência, mesmo que essa alternativa leve mais de 40 dias de navio para chegar porque freia o ímpeto de aumento de preço. Paraguai e Bolívia não têm muita oferta para vender ao Brasil”, defende.

A Argentina respondeu por 80% do feijão importado pelo Brasil nos cinco primeiro meses deste ano. O total das importações cresceu 55% para 69.000 toneladas.

Já as compras do produto argentino aumentaram 128% em relação ao intervalo de janeiro a maio do ano passado. Outros fornecedores foram Bolívia (6,8%) e China (13,2%). Veja a balança comercial do feijão no quadro abaixo.

Diversificação

Para o presidente do Ibrafe, a atual situação do mercado reforça a necessidade de diversificar as variedades produzidas no Brasil. Marcelo Lüders reconhece que o desenvolvimento do feijão carioca foi importante para garantir o abastecimento, mas colocou o país no que chama de “beco sem saída”.

Como é tipicamente nacional, quando há escassez interna, não tem de onde importar e quando há um grande excedente, não há mercados para exportar.

A diversificação, com maior participação de feijões como o vermelho ou o branco, reduzir a sensibilidade do mercado interno ao carioca. E melhoraria a comercialização do produto brasileiro.

“Estamos aprendendo na dor que isso deve ser trabalhado a partir de agora. O consumidor descobriu que não tem só o carioca”, disse ele.

 

tab

 

 

Fonte: Globo Rural

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp