ILPF está no currículo de apenas 10% das escolas técnicas e universidades

A complexidade dos sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) exige uma profunda transformação na estrutura dos cursos de ciências agrárias nas universidades e escolas técnicas, além de uma maior inserção do tema ILPF nos currículos. Estas foram as conclusões centrais das diversas discussões sobre o assunto durante o Congresso Mundial sobre Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que ocorreu de 13 a 17 de julho em Brasília.

De acordo com Luiz Antonio Daniel, diretor da Faculdade de Tecnologia de Indaiatuba (Fatec-SP), hoje 21 instituições têm a ILPF em suas grades curriculares. Porém, existem outras 190 que ainda não formalizaram a disciplina. “Temos o desafio de fazer com que o conceito de intensificação sustentável impacte no currículo das escolas. Precisamos de uma reforma curricular nos cursos de ciências agrárias. Não há espaço para o mesmo tipo de ensino do passado”, resumiu o professor.

O diretor-executivo de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, Ladislau Martin Neto, ressalta a importância da multidisciplinariedade. “Não se trata mais de estudar isoladamente uma determinada cultura, um determinado sistema de manejo animal ou vegetal. Precisamos entender tudo isso de forma integrada, o que é um desafio formidável, não só do ponto de vista da pesquisa, mas também do ensino”.

Mais do que um evento científico, o Congresso Mundial foi também um espaço para discussão e troca de experiências em uma frente essencial para o futuro dos sistemas integrados e sustentáveis: as universidades. Foram promovidas diversas sessões especiais voltadas ao ensino, com público principalmente de estudantes e professores. “Os debates foram muito concorridos e atingiram os objetivos de discutir alternativas para incentivar disciplinas de graduação e pós-graduação, além da pesquisa acadêmica e da extensão universitária em sistemas integrados”, afirmou Luiz Daniel.

O Congresso Mundial avançou ainda na proposta de criar um fórum único para discutir disciplinas e organizar academicamente os programas de graduação, pós-graduação e pesquisas acadêmicas, eventos e outros assuntos.

QUEBRA DE PARADIGMAS

Para o presidente da Rede de Fomento à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, Paulo Herrmann, o ensino é uma das principais alavancas da ILPF, a “terceira revolução dos trópicos”. A primeira, segundo ele, foi o plantio direto na palha, seguida da consolidação da safrinha como uma segunda safra.

Em sua palestra no Congresso, Herrmann, que também é presidente da John Deere para operações no Brasil e vice-presidente de marketing e vendas para a América Latina, destacou que a pressão por aumentar a produção de alimentos para abastecer o mundo é muito grande nos trópicos, de forma sustentável. “Tudo isso acontece em nosso quintal e não podemos ser coadjuvantes nesse processo”, afirmou.

Este cenário proporciona uma grande oportunidade para adequar os sistemas de ensino. “É preciso promover a revisão das grades curriculares, a reciclagem e formação do corpo docente, aumentar a oferta de cursos de graduação e pós-graduação na área, bem como de programas de especialização e aperfeiçoamento, além de estimular a realização de trabalhos de conclusão de curso com ênfase em ILPF”, comentou.

Como principais características para os profissionais que desejam atuar nessa área, o presidente da Rede de Fomento à ILPF destacou a capacidade de gerenciar sistemas integrados e complexos, conhecimento multidisciplinar, domínio de tecnologias de última geração, flexibilidade para a quebra de paradigmas, formação preferencial em ciências agrárias, liderança e consciência ambiental.

OESTE PAULISTA

Uma das experiências bem-sucedidas é a da Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), localizada em Presidente Prudente. De acordo com o professor Edemar Mouro, coordenador do curso de especialização em ILPF da instituição, até há pouco tempo havia na região apenas criação de gado e lavouras de cana-de-açúcar.

A ideia de trazer a ILPF surgiu da necessidade de recuperar áreas de pecuária degradadas. Em consequência, a universidade se movimentou para incluir a disciplina nos cursos de graduação e pós-graduação (especialização, mestrado e doutorado) em agronomia. Inúmeras viagens técnicas pelo Brasil também foram feitas para conhecer o sistema. Fazendas que adotaram a ILPF na região se tornaram modelo para difundir o sistema entre os agricultores locais. Fóruns anuais e eventos técnicos também foram realizados para discutir o tema.

O oeste paulista é uma das regiões mais pobres do Estado, com propriedades rurais degradadas após um longo período de tratamento inadequado da terra. De acordo com Mouro, o objetivo do ensino deve ser convencer os jovens de que essa realidade, considerada normal, pode ser transformada. “A universidade tem um papel fundamental na formação de profissionais que possam levar o conhecimento sobre ILPF para o campo”, afirma o professor.

A PESQUISA NAS UNIVERSIDADES

Atualmente o maior grupo de pesquisas sobre ILPF nas instituições de ensino superior no Brasil está na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em parceria com instituições brasileiras e de outros países.

Para o professor Carlos Alexandre Crusciol, da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Botucatu, ainda é preciso estudar a fundo os efeitos do manejo da pastagem sobre a cultura de grãos em regiões tropicais. “São muitas as questões que necessitam ser investigadas no sistema ILPF. A universidade tem um papel importante para resolver esses desafios que não são apenas do nosso País, mas que o mundo também quer saber”.

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