IAC busca redução de tempo no desenvolvimento de cultivares de cafés especiais

O Brasil pode produzir grãos de qualidade igual ou melhor à dos países produtores de cafés especiais. Foto: Divulgação IAC
Brasil pode produzir grãos de qualidade igual ou melhor à dos países produtores de cafés especiais. Foto: Divulgação IAC

Quando o Instituto Agronômico de Campinas (IAC) lançou, em 2011, o Programa de Cafés Especiais criou uma grande expectativa no mercado e, principalmente, no que se refere à data de lançamento de novas cultivares. Segundo o coordenador da pesquisa de cafés especiais da entidade, Gerson Silva Giomo, o desenvolvimento de uma cultivar pode levar de 30 ou mais anos.

“O que pretendemos é encurtar esse tempo – de 15 a 12 anos -, por meio de técnicas diferentes de propagação. Temos de estudar ainda a validação da nova cultivar até chegar a uma variedade pronta para uso, Isso demora algum tempo, não é assim tão rápido”, esclarece o pesquisador.

Os cafés especiais se diferenciam dos comuns por ter uma qualidade de bebida melhor. Este conceito, destaca Giomo, começou a ser trabalhado pelos norte-americanos na década de 1980 e “significa um café que foi muito bem produzido, mais elaborado, não tem nenhum tipo de defeito que desabone sua qualidade na xícara”.

Além de ser bom para se beber, garante o especialista, é um café que foi produzido com todo um controle de qualidade,  que envolve controles do ambiente e do processamento, a variedade que está se plantando e a região onde se produz. Isto quer dizer que “foi produzido com todo um rigor necessário e é um café diferenciado”.

MELHORAMENTO GENÉTICO

Pensando exatamente no mercado de cafés especiais, o cerne da pesquisa do IAC, que faz parte da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, é tentar fazer a diferença na qualidade da bebida pela cultivar.

“São três elementos principais que determinam a qualidade do café: o fator genético, a planta, a variedade e é onde estamos trabalhando com maior intensidade; segundo, vem o ambiente de produção, onde o café está sendo produzido; e o terceiro elemento é o fator tecnológico, qual o tipo de processamento na hora da colheita do café, o que está sendo feito naquele café – o processamento também interfere na definição da qualidade”, especifica Giomo.

É exatamente no fator genético que o IAC está concentrando os seus esforços de pesquisa, porque “a partir da planta, consegue-se determinar qual o tipo de café vai ser produzido para qual ambiente e para qual tipo de processamento. O que melhor define a qualidade da bebida desenvolvida é a planta, a variedade”.

O Instituto Agronômico de Campinas é a instituição pioneira na área de melhoramento genético do café, tendo iniciado suas pesquisas na década de 1930, quando lançou variedades para atender à demanda das lavouras do país. A partir daí, a cafeicultura brasileira passou a trabalhar embasada com o uso de duas cultivares em grande escala – a Mundo Novo e a Catuaí – que juntas ocupam mais de 80% da área plantada de café arábica no Brasil.

Pesquisador do IAC Gerson Silva Giomo durante teste com cafés em laboratório. Foto: Divulgação
Pesquisador do IAC Gerson Silva Giomo durante teste com cafés em laboratório. Foto: Divulgação

QUALIDADE

Usando somente duas variedades ou talvez outras poucas que existem, como a Icatu e a Bourbon, por exemplo, torna-se difícil obter diferença na qualidade.

“Sendo as variedades muito parecidas, as poucas diferenças que vão aparecer na qualidade ficam muito dependentes do ambiente ou do processamento,sendo que  o fator genético não é muito aproveitado.”

“Nossa interpretação foi a seguinte: a partir do momento em que a cafeicultura se especializou em plantar somente duas variedades, ela perdeu a oportunidade de aproveitar a qualidade genética que existe naturalmente no café que foi introduzido no Brasil. Se a hipótese está correta, se realmente há uma restrição em função das duas variedades, nós criamos essa proposta de trabalho exatamente para tentar  trazer aquilo que estávamos encontrando na pesquisa para verificar se tem potencial de uso para produção de cafés especiais”, salienta Giomo.

O pesquisador esclarece ainda que existem no Brasil 120 cultivares para uso comercial. E como essas plantas são muito parecidas geneticamente, não vão conseguir fazer diferença em aroma e sabor porque estão voltadas para a produtividade.

“Estamos trabalhando com outras variedades não comerciais. Em nosso Banco de Germoplasma encontramos cafés parecidos com os produzidos na Etiópia, no Quênia. Isto significa que a planta tem essa característica, agora é preciso trabalhar.”

IMAGEM

Giomo ressalta que o café brasileiro está perdendo aquela imagem de produto de má qualidade. “Realmente,  o Brasil ficou parado no tempo, só visando a produção de café commodity, mas hoje já existem associações, como a Brasileira de  Cafés Especiais, que estão divulgando nosso café no exterior, mostrando um café mais requintado, no Japão, nos Estados Unidos, na Europa. Assim que conseguirem consolidar a imagem de que o Brasil realmente não produz só aquele café tipo exportação via Santos, aumentará a demanda e teremos que fornecer novas variedades. Vamos ter que plantar para atender estes mercados.”

Em sua opinião, o Brasil agora está exportando qualidade, o que já fez no passado e acredita que se realmente tiver outras variedades com potencial diferente, isso vai ajudar o Brasil a fazer a diferença no mercado internacional.

“Podemos ter qualidade igual ou melhor em relação a países produtores de cafés especiais,  alguns da América Central, muitos da África, onde estão os principais  que são Etiópia, Quênia, Tanzânia, entre outros, se usarmos variedades adequadas para cada ambiente”, garante o pesquisar.

Ele ressalta que o trabalho do IAC, dentro do Programa de Cafés Especiais, extrapola o melhoramento genético, “quer dizer, é o melhoramento genético aplicado a cada ambiente, porque tem de ser testado para cada local ou para cada região de produção quais as variedades que teriam chance de produzir aquele café”.

“Não vamos simplesmente selecionar cultivares e lançá-los, temos de ter um trabalho integrado de genética, ambiente e processamento. Esse é o nosso grande diferencial, porque as demais instituições que trabalham com melhoramento não estão trabalhando ainda com este tripé. Trabalham uma coisa ou outra”, afirma Giomo.

Por equipe SNA/SP

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