‘Nova laranja’ será mais resistente a duas doenças que atacam cultura no país

“O plantio foi possível porque, em outubro de 2013, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou uma norma de biossegurança para experimentos de campo com laranjas transgênicas”, informa gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Fundecitrus, Juliano Ayres
Plantio de laranja transgênica foi possível graças à aprovação de norma de biossegurança para estes experimentos de campo, conta Juliano Ayres, gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Fundecitrus

 

Pesquisadores do Fundo de Defesa da Citricultura (Fundecitrus) estão desenvolvendo uma variedade de laranja, geneticamente modificada (GM), resistente à pinta preta e ao cancro cítrico, as duas doenças que mais causam prejuízos à cultura no Brasil. Somente este mercado é responsável por aproximadamente US$ 6,5 bilhões anuais no Produto Interno Bruto (PIB) agrícola.

Para ampliar o estudo, cerca de 650 mudas derivadas de laranja doce da Espanha foram plantadas na cidade de Ibaté (SP). No entanto, o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Fundecitrus, Antonio Juliano Ayres, adianta que outros pomares transgênicos serão cultivados ainda em 2014, na região sul de São Paulo e norte do Paraná. “Em dois anos e meio, as plantas vão começar a produzir”, planeja.

O experimento com laranjeiras geneticamente modificadas do Fundecitrus é o único no Brasil no momento.

“O plantio foi possível porque, em outubro de 2013, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou uma norma de biossegurança para experimentos de campo com laranjas transgênicas”, informa.

“Mas este não é o primeiro plantio de mudas de laranja GM. Em 2010, um experimento foi a campo, mas não tinha autorização para florescer e frutificar. Por isso, foi erradicado após dois anos. O estudo de agora é o primeiro experimento que irá avaliar o ciclo completo de uma muda GM e a previsão é de que esta fase do experimento avalie cinco safras e demore sete anos e meio”, ressalta Ayres.

De acordo com o gerente, algumas universidades e centros de pesquisa do país já contam com material transgênico de citros em laboratório e estufas. “São plantas com potencial de resistência a doenças, pragas e seca”, salienta.

A proposta

A proposta do experimento da “nova laranja” realizado pelo Fundecitrus é avaliar a resistência das plantas à doença “pinta preta” e a não atratividade à mosca das frutas. Após o período de experimento, novos estudos e testes devem ser realizados, segundo Ayres, para observar a possibilidade de estas plantas serem cultivadas em escala comercial, com objetivo de chegarem à mesa do consumidor.

A pesquisa, que gerou o material plantado no município de Ibaté (SP), pode começar graças à parceria com o Instituto Valenciano de Investigaciones Agrarias (IVIA), da Espanha, por meio do pesquisador Leandro Peña, um dos pioneiros e referência mundial em transformação genética de citros.

“Por meio da manipulação genética, Peña reduziu a produção de limoneno – composto do óleo essencial presente na casca de citros –, o que resultou em frutos menos atraentes à mosca das frutas Ceratitis capitata”, explica. “O gene que produz o limoneno foi ‘desligado’. A modificação não altera as demais funções da planta e do fruto, e suas vantagens são muitas para a citricultura. No decorrer dos estudos, a equipe de pesquisa espanhola observou que a modificação do gene também tornava as plantas mais tolerantes ao ‘cancro cítrico’ (outra praga que ataca as laranjas comuns)”, destaca Ayres.

De acordo com o gerente, por incentivo do Fundecitrus, as plantas também foram testadas em relação à “pinta preta”. “No caso das duas doenças, as plantas GMs apresentavam menos sintomas do que as não modificadas”, ressalta. Para avaliar as plantas nas condições brasileiras, o Fundecitrus importou do IVIA cinco genótipos geneticamente modificados da variedade “Pineapple” e cinco da variedade “Navelina”.

“Por ser um material vegetal geneticamente modificado, foi necessária a autorização da CTNBio e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para o transporte das borbulhas da Espanha. As plantas permaneceram durante um ano em quarentena, antes de serem transferidas para a sede do Fundecitrus, em Araraquara (SP), onde foram multiplicadas e testadas em laboratório”, informa Ayres.

Segundo ele, a área experimental é constituída por 650 mudas cítricas GMs que, seguindo os procedimentos aprovados pela CTNBio, estão cercadas por uma bordadura formada por 1.989 mudas não-GMs de três variedades diferentes.

 

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Imagem mostra laranja comum sendo atacada pela praga “pinta preta dos citros”, que causas prejuízos à citricultura no país

 

Dados da citricultura no Brasil

Baseado em dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), ligada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, o gerente de Pesquisa e Desenvolvimento do Fundecitrus, Antonio Juliano Ayres, ressalta que a cadeia citrícola brasileira paga US$ 378,4 milhões em salários e arrecada US$ 189 milhões em impostos. “A cadeia produtiva de citros está presente em mais da metade dos municípios do Estado de São Paulo, gerando 230 mil empregos diretos. A região produz mais de 70% da laranja plantada no país.”

Ele ainda informa que a citricultura é importante também em outros estados brasileiros, como Bahia, Sergipe, Paraná e Minas Gerais. “De cada cinco copos de laranja consumidos no mundo, três têm como origem os pomares brasileiros. A citricultura ocupa 1,2% da área plantada no país.”

Ayres defende o estudo do Fundecitrus ressaltando que, para o bom desenvolvimento da citricultura, as plantas com potencial de resistência a doenças, pragas e seca representam um avanço para a sanidade dos pomares e diminuição da necessidade do uso de defensivos agrícolas para o controle das pragas. “Isto resulta em menos custo de produção para o citricultor e em benefício ambiental, tornando a cultura mais sustentável.”

Por equipe SNA/RJ

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