‘Gigantes do leite’ pisam no freio e oferta cresce menos

As cem maiores fazendas de leite do Brasil reduziram o ritmo de crescimento da produção em 2015, reflexo do cenário mais adverso para a atividade. No ano que passou, a produção média dessas cem fazendas foi de 15.486 litros de leite por dia, 2,2% acima da produção média das 100 maiores de 2014, mostra Levantamento Top 100 MilkPoint. O incremento é o menor em cinco anos.

Em sua 15ª edição, a pesquisa obteve informações dos 100 maiores produtores de leite do Brasil sobre o desempenho de 2015, comparando-as com as do ano precedente.

Marcelo Pereira de Carvalho, coordenador do levantamento da consultoria, observa que, embora tenha havido desaceleração no crescimento, o dado ainda é positivo já que tudo “indica que a produção no Brasil caiu entre 3% e 4%” em 2015 sobre o ano anterior.

A Fazenda Colorado, da família do empresário Lair Antônio de Souza (falecido em fevereiro de 2015), seguiu em primeiro no ranking, com uma produção diária de 60.729 litros, apesar do recuo de 3,4% em relação a 2014, quando havia produzido 62.851 litros por dia.

Há várias razões para a redução do ritmo de crescimento entre as 100 maiores, elenca Carvalho. Ele lembra que a produção nessas fazendas cresceu a uma taxa de 10% em 2014, quando a produção formal do Brasil subiu 5,1%, para 24.747 bilhões de litros, conforme dados do IBGE.

Desde o fim de 2014, porém, com os juros mais altos ficou “mais complicado” acessar crédito para os investimentos, diz Carvalho. Além disso, os preços baixos do leite no mercado internacional e a alta dos custos de produção em decorrência das cotações mais elevadas dos grãos também afetaram a disposição dos pecuaristas para ampliar a produção no mesmo ritmo anterior.

“Houve ainda a valorização do dólar, que levou ao aumento de custo de produção do leite sem que o setor fosse beneficiado pelas exportações, já que os preços internacionais estavam em queda”, argumenta o analista.

Esse cenário desfavorável explica um dos resultados da pesquisa: 58% dos produtores que forneceram informações consideraram a rentabilidade em 2015 pior que a média de outros anos; 34% afirmaram que a rentabilidade esteve na média e apenas 8% a consideraram acima da média.

“Mais da metade dos produtores disse que tiveram rentabilidade pior que a média. Com isso, houve redução de investimentos, mas não dá para dizer que estão em crise”, pondera.

Como um dos reflexos da alta dos grãos, os custos operacionais de produção subiram 10,5% entre os produtores do ranking. Conforme observa o relatório da MilkPoint, a alta é semelhante à da inflação em 2015. Ainda segundo a pesquisa, 55% das propriedades tiveram custo operacional médio acima de R$ 1,00 por litro.

Sinal de que não se pode falar em crise entre os 100 maiores produtores de leite do país é que grande parte deles planeja continuar ampliando a produção nos próximos anos, diz Carvalho. “São produtores com grande rendimento, que recebem preços diferenciados, sentem menos a crise”.

Diante disso, afirma, dificilmente cancelam um plano de crescimento por questões de momento. Assim, quando indagados sobre a intenção de ampliar a produção nos próximos três anos, apenas 8% responderam que não pretendem expandir. Entre os 100 do ranking, 22 disseram ter a intenção de elevar em mais de 50% a produção.

Outros 29 afirmaram que pretendem ampliar a produção entre 20% e 50% e 41 responderam que planejam aumentar em até 20% seu volume produzido.

Marcelo Carvalho observa que as mesmas razões que levaram à desaceleração do ritmo de crescimento dos 100 maiores do País explicam a queda na produção entre pecuaristas de menor porte no País. “Mas os produtores médios (com produção de cerca de 250 litros por dia) sentem muito mais. O efeito da crise é pior para esses produtores.”

O levantamento da MilkPoint também questionou os produtores sobre o que consideram ser os maiores desafios do setor. Entre os principais estão custos, mão de obra e preços. Uma fatia de 27,7% dos entrevistados citou os custos de produção como um dos maiores desafios. Outros 14,2% citaram a mão de obra, “devido à necessidade de qualificação de trabalhadores rurais que saibam lidar com informática e tecnologias mais complexas”. O preço do leite foi mencionado por 8,8% dos produtores, que apontaram o fato de essa variável não ter acompanhado a ” dos custos de produção.

Para este ano, a perspectiva é de que a produção dos 100 maiores cresça num ritmo semelhante ao visto em 2015, avalia Carvalho. “Os fundamentos são iguais, os preços são um pouco melhores, mas custos são altos. Além disso, as incertezas políticas continuam.” Ele observa ainda que há produtores elevando a produção, mas que outros podem deixar a atividade.

Fonte: Valor

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