Gestão integrada de riscos pode reduzir perdas no setor agrícola

Presentes ao seminário Avaliação de Riscos na Agropecuária: professor Antonio Buainain (Unicamp), economista Cláudio Contador; diretor da SNA, Fernando Pimentel; professor Rodrigo Lanna (Unicamp) e Natália Oliveira (Escola Nacional de Seguros). Foto: Isabel Correia

 

Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Banco Mundial apontam que a média anual de perdas na produção agrícola brasileira, em razão de riscos extremos que poderiam ser amenizados, está em torno de R$ 11 bilhões, o que corresponde a cerca de 1% do PIB do agro. Estudo recente da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) revela que um quarto dos danos ambientais que ocorreram no mundo nas últimas décadas recaiu sobre o setor agrícola.

No caso do Brasil, a adoção de um sistema de gestão integrada de riscos pode reduzir eventuais perdas tanto para produtores quanto para quem financia a produção. O sistema , desenvolvido pelos professores Rodrigo Lanna e Antonio Buainain, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), foi apresentado no seminário Avaliação de Riscos na Agropecuária.

O evento, organizado pelo economista Cláudio Contador, da Escola Nacional de Seguros, foi realizado na quinta-feira (31/8), no auditório da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

 

ANÁLISE E PRÁTICA

“O Banco Mundial propõe uma metodologia para a gestão integrada e holística de riscos, que inclui a sua avaliação , análise de soluções, operacionalização de instrumentos, implantação e monitoramento”, disse Lanna.

Segundo ele, “é preciso mensurar os riscos, avaliar sua frequência ou probabilidade e seu grau de impacto para estabelecer prioridades ou soluções, mas também é preciso pensar como usar os recursos, que costumam ser escassos e analisar a questão do custo x benefício”.

O palestrante salientou que, além da gestão, é importante que se faça um trabalho de prevenção de riscos e também de análise da percepção do risco por parte do produtor.

“Fatores como idade, grau de escolaridade, endividamento e preferências por operações de mercado contribuem para compor essa percepção, bem como questões comportamentais”, disse ele. “Um produtor com excesso de confiabilidade nos preços ou na administração, por exemplo, geralmente não fará gestão de riscos”.

Em linhas gerais, Rodrigo disse que o sistema de gestão favorece a grande produtividade, na medida em que diminui os riscos de produção; protege as pessoas que dependem da agricultura, preserva as receitas para o governo, assegura alimento para a população e garante adaptação ao quadro de mudanças climáticas.

 

SISTEMA FINANCEIRO

Em relação aos agentes de financiamento, o diretor da SNA, Fernando Pimentel, afirmou que o sistema financeiro, um dos braços para o custeio do produtor no Brasil, não trabalha com gestão de riscos. “Os bancos não têm problemas em correr riscos, desde que eles entendam esses riscos e que possam mensurá-los”, disse, lembrando que somente 8% da área cultivada no país tem seguro de riscos agrícolas.

Pimentel destacou que “55% dos recursos para financiamento se originam de tradings, cooperativas, operações de ‘barter’ (troca) e outras fontes, e não do sistema financeiro”.

Segundo o diretor da SNA, o grau de incerteza gerado pelos riscos causa um efeito negativo nas instituições financeiras. “O que afastou os bancos do crédito rural foi o impacto de fatores externos sobre a fonte primária de pagamento, incluindo riscos de câmbio, bolsa, pragas, etc. Os bancos não gostam de assumir o risco do produtor”, declarou Pimentel.

“Tanto é que são obrigados a financiar a agricultura. 30% dos depósitos à vista dos bancos devem ser direcionados para o crédito rural”, disse ele, acrescentando que “algumas instituições não têm acesso ao produtor rural e preferem financiar cooperativas e tradings”.

 

SIMETRIA DE INFORMAÇÕES

Outro problema apontado por Pimentel é que os bancos temem o problema da simetria das informações. “Existe a possibilidade de que o produtor, ao fazer seu cadastro, insira números ou dados que dificilmente possam ser verificados por essas instituições”.

Para o diretor da SNA, hoje em dia há uma dificuldade dese contabilizar e registrar dados de produção. “Temos problemas com a gestão de compras. São incertezas geradas até mesmo pelo produtor, que não insere números e dados de forma correta em seu cadastro, por razões subjetivas ou de interpretação”.

Com o objetivo de melhorar esse quadro, Pimentel informou que em Brasília foi iniciada uma discussão junto ao Banco Central (Bacen), para a criação de uma Central de Registros de Títulos Agrícolas, a exemplo da que já existe na Ucrânia.

A iniciativa reflete a atual preocupação do Bacen em relação ao modelo utilizado pelo sistema financeiro para o setor agrícola. Por meio da central de registros será possível acessar informações completas sobre todos os dados e movimentações dos produtores, como forma de conferir mais segurança à concessão de crédito. “Há uma necessidade de reordenação do crédito agrícola no país”, reforçou Pimentel.

 

SUBVENÇÃO

Ele lembrou ainda que 52% dos financiamentos no país são subvencionados – o que implica em uma alta taxa de juros, e afirmou que o Banco Central quer mudar este sistema.

“A taxa de juros deve ser definida pelo mercado. Aí você dá segurança ao financiador, já que seu risco pode ser mensurado. Ao invés de subvencionar a taxa do crédito rural, é preciso transformar esse recurso em subvenção do seguro rural. Isso vai atrair a atenção dos bancos, eliminando operações intermediárias”, disse Pimentel.

Participando do seminário, o presidente da SNA Antonio Alvarenga destacou que “ninguém está mais exposto a riscos que os produtores rurais” e que eles “são os verdadeiros heróis em assumir e superar esses riscos, para continuar produzindo”.

 

Por equipe SNA/Rio

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