Gerenciamento hídrico na suinocultura pode reduzir uso da água em até 50%

Ideia do “Projeto Gestão da Água na Suinocultura Catarinense”, liderado pela Embrapa Suínos e Aves (SC), em parceria com Sindicarne, é regular, por exemplo a altura correta dos bebedouros para evitar desperdício de água. Foto: Divulgação Embrapa
Ideia do “Projeto Gestão da Água na Suinocultura Catarinense”, liderado pela Embrapa Suínos e Aves (SC), em parceria com Sindicarne, é regular, por exemplo, a altura correta dos bebedouros para evitar desperdício de água. Foto: Divulgação Embrapa

Água na medida certa, nem mais nem menos, caso contrário resulta em prejuízo para a suinocultura. E em tempos de crise hídrica, o ecologicamente correto é economizar, mas sem prejudicar os animais e sem doer no bolso do produtor.

Para auxiliar criadores catarinenses, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) Suínos e Aves (SC), em parceria com o Sindicato das Indústrias de Carnes e Derivados de Santa Catarina (Sindicarne), desenvolveu um projeto de gerenciamento hídrico que reduz a utilização da água em até 50% nas instalações rurais.

Com o trabalho técnico, que acompanhou 13 produtores entre os anos de 2011 e 2013, para determinar o consumo de água e a geração de dejetos nos períodos de crescimento e terminação dos suínos, concluiu-se que o consumo médio de água atualmente é de 8,5 litros.

Outros produtores, apontados como “os melhores” neste sentido, usam 4,5 litros. Aqueles que gastam mais chegaram a utilizar 11 litros por dia. Para fazer um comparativo, na década de 1980, conforme a legislação vigente da época, o consumo era de 16 litros por dia.

De acordo com o pesquisador Paulo Armando de Oliveira, um dos coordenadores do projeto da Embrapa em parceria com o Sindicarne, essa disparidade está ligada especialmente ao manejo e aos equipamentos.

“Soluções simples podem render bons resultados e ganho econômico para o produtor. A água desperdiçada influencia diretamente no custo para tratar e distribuir o dejeto.”

Intitulado “Projeto Gestão da Água na Suinocultura Catarinense”, ele começou a ser implantado em junho do ano passado, com financiamento das agroindústrias e pela Associação Catarinense dos Criadores de Suínos (ACCS).

“A proposta é levar a todos os suinocultores do Estado as informações necessárias para fazer com que o consumo de água diário fique dentro da média de 8,5 litros por animal. A água desperdiçada influencia diretamente no custo para tratar e distribuir o dejeto”, ressalta Jean Carlos Vilas Boas, outro coordenador do projeto, representando a Embrapa.

“Neste momento, estamos finalizando os conteúdos técnicos que darão origem aos instrumentos de comunicação e transferência de tecnologia do projeto. Tudo deve estar pronto até junho deste ano”, informa Vilas Boas.

“A proposta é levar a todos os suinocultores do Estado as informações necessárias para fazer com que o consumo de água diário fique dentro da média de 8,5 litros por animal. A água desperdiçada influencia diretamente no custo para tratar e distribuir o dejeto”, ressalta Jean Carlos Vilas Boas, outro coordenador do projeto, representando a Embrapa. Foto: Divulgação Embrapa
“A proposta é levar a todos os suinocultores do Estado (de SC) as informações necessárias para fazer com que o consumo de água diário fique dentro da média de 8,5 litros por animal. A água desperdiçada influencia diretamente no custo para tratar e distribuir o dejeto”, ressalta Jean Carlos Vilas Boas, um dos coordenadores do projeto, representando a Embrapa. Foto: Divulgação Embrapa

ORIENTAÇÃO TÉCNICA

De acordo com ele, a fase seguinte do trabalho será capacitar técnicos e produtores para fazer com que o plano seja aplicado em todas as granjas que produzem suínos no Estado, levando em conta as especificidades de cada uma.

“Ao mesmo tempo, será desenvolvido um material de comunicação para ser colocado dentro das instalações que produzem suínos. A ideia é implantar uma sinalização interna que auxilie o produtor e regular a altura correta dos bebedouros, por exemplo. As agroindústrias farão o treinamento dos produtores, cada uma seguindo sua rotina interna de capacitação técnica. Já os técnicos terão seus conhecimentos em torno do assunto ampliados com o apoio da Embrapa”, detalha.

Segundo Vilas Boas, “o foco dos cursos de capacitação será o ‘como fazer’ para que a gestão da água melhore dentro das propriedades. Apesar desse conhecimento não ser complexo, pela primeira vez ele estará reunido nos detalhes necessários dentro de publicações e treinamentos específicos. Temos grande expectativa de que esse projeto mudará a relação da atividade com a água em Santa Catarina”.

Conforme o pesquisador e um dos coordenadores do projeto da Embrapa, Paulo Armando de Oliveira, “as informações serão de domínio público, sendo que os Estados ou pessoas interessadas no uso de boas práticas de gestão da água nos sistemas produtivos de suíno poderão consultar a Embrapa para obterem maiores informação sobre o assunto”.

CONHECIMENTO

De acordo com Oliveira, não existe o bom ou o mau uso da água nos sistemas produtivos,  “o que existe é a falta de conhecimento sobre o assunto e, principalmente, sobre o consumo da água na cadeia produtiva e de como poder otimizar melhor seu uso criando ferramentas de gestão e de informação para os tomadores de decisão”.

Ele destaca que atualmente, na suinocultura, a Embrapa desenvolveu vários projetos de pesquisa, em parceria com a iniciativa privada, visando a determinação do consumo e gestão da água na suinocultura.

“Os resultados destes trabalhos possibilitaram o desenvolvimento de modelos capazes de determinarem com exatidão o consumo da água na produção de suínos e a possibilidade de planejarmos melhor sua gestão, nos sistemas produtivos. O conhecimento gerado nos permite predizer quanto é o consumo de água para cada fase produtiva da suinocultura e de melhor planejarmos o acompanhamento do seu uso nos diferentes sistemas de produção.”

MODELOS DE PREDIÇÃO

Oliveira destaca ainda que “o desenvolvimento de modelos de predição e de monitoramento associados ao uso de ferramentas, desenvolvidas pela Engenharia de Sistemas e de Automação, permite acompanharmos e gerenciarmos a distância online as granjas produtoras de suínos, com a possibilidade de em tempo real sabermos o consumo momentâneo da água na produção animal, em cada fase produtiva”.

Conforme o pesquisador, “com o uso destas ferramentas podemos melhor executarmos os planos de gestão da água na produção de suínos e aves e acompanhamos os problemas de desperdício e de baixo consumo associado a possíveis problemas de saúde do rebanho”.

"O que falta no Brasil é um planejamento técnico para otimização do uso correto dos recursos hídrico, ou seja, um Plano de Gestão da Água na produção de Suínos e Aves e também nos centros urbanos. O aproveitamento da água da chuva é um grande exemplo de como podemos utilizar de forma racional a água, tanto no meio rural como urbano", diz o pesquisador da Embrapa Paulo Armando, outro coordenador do projeto. Foto: Divulgação
“O que falta no Brasil é um planejamento técnico para otimização do uso correto dos recursos hídrico, ou seja, um Plano de Gestão da Água na produção de Suínos e Aves e também nos centros urbanos. O aproveitamento da água da chuva é um grande exemplo de como podemos utilizar de forma racional a água, tanto no meio rural como urbano”, diz o pesquisador da Embrapa Paulo Armando, outro coordenador do projeto. Foto: Divulgação

CRISE HÍDRICA

Na opinião de Oliveira, “o que existe no Brasil não é crise de abastecimento de água, pois no território nacional temos uma precipitação anual entre 1.800 a 2.200 mm, o que diria o povo de Israel onde a precipitação anual é de 650 mm, sendo que eles desenvolveram um sistemas de irrigação e drenagem que é referência”.

Para o pesquisador, “o que falta no Brasil é um planejamento técnico para otimização do uso correto dos recursos hídricos, ou seja, um Plano de Gestão da Água na produção de suínos e aves e também nos centros urbanos”.

“O aproveitamento da água da chuva é um grande exemplo de como podemos utilizar de forma racional a água, tanto no meio rural como urbano. O uso racional da água nos sistemas de produção evitando o desperdício e sua contaminação é outra prática que deveria ser melhor divulgada no meio rural.”

Por equipe SNA/RJ

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