Genética provada melhora ganho econômico, ambiental e social na pecuária

Na pecuária de leite, o comparativo de vacas, que foi realizado em Uberlândia (MG), revela que a propriedade com rebanho meio sangue Girolando, com genética provada, alcançou margem líquida por hectare 54% superior a uma fazenda típica. Foto meramente ilustrativa
Na pecuária de leite, o comparativo de vacas, que foi realizado em Uberlândia (MG), revela que a propriedade com rebanho meio sangue Girolando, com genética provada, alcançou margem líquida por hectare 54% superior a uma fazenda típica. Foto: Meramente ilustrativa

Levantamento realizado pela equipe do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), em parceria com a ABCZ (Associação Brasileira dos Criadores de Zebu), comprova as vantagens das margens líquidas e de aspectos ambientais e sociais em propriedades que genética zebuína provada (bovino de corte ou de leite).

O comparativo foi feito em relação às fazendas consideradas típicas (ou modais), que não utilizam animais melhoradores.  A análise ainda avaliou os resultados de oito de propriedades de pecuária de corte em Mato Grosso, São Paulo e Goiás e quatro de pecuária leiteira, sendo duas em Minas e outras duas em Goiás.

“O levantamento comprovou o ganho de produtividade da fazenda como um todo, o que é importante no contexto de valorização da terra e na necessidade de melhor aproveitamento dos recursos naturais”, afirma o professor Sergio De Zen, responsável pelo trabalho da Esalq/USP.

“O levantamento comprovou o ganho de produtividade da fazenda como um todo, o que é importante no contexto de valorização da terra e na necessidade de melhor aproveitamento dos recursos naturais”, afirma o professor Sergio De Zen, responsável pelo trabalho da Esalq/USP. Foto: Divulgação
“O levantamento comprovou o ganho de produtividade da fazenda como um todo, o que é importante no contexto de valorização da terra e na necessidade de melhor aproveitamento dos recursos naturais”, afirma o professor Sergio De Zen, responsável pelo trabalho da Esalq/USP. Foto: Daiane Braga/Divulgação Cepea

VALOR DO TOURO

Um dos cálculos realizados pelo Cepea estimou o valor do touro na pecuária de corte, calculado com base na diferença de peso dos bezerros, no caso de propriedades de cria, e do boi gordo, nas fazendas de recria-engorda e ciclo completo, no momento da venda.

A receita obtida a mais durante a vida útil do touro (sete anos) representa o ganho proporcionado pelo touro de genética provada, podendo ser entendida como valor do touro, na comparação da propriedade que investe em genética com fazenda típica da região, segundo os pesquisadores.

No sistema de cria analisado em Paranatinga (MT), por exemplo, em uma propriedade que apresenta bons índices zootécnicos, o touro nelore adquirido por R$ 10.000,00 teve seu valor de produção avaliado em R$ 39.172,00. Enquanto isso, em uma fazenda menos tecnificada, geograficamente mais próxima, o valor gerado por esse touro foi de R$ 43.130,00. Ou seja, o levantamento constatou que o reprodutor provado geneticamente oferece retorno muito acima do seu preço de mercado.

Na análise que comparou as margens líquidas, o resultado obtido em uma fazenda de ciclo completo em Barra do Garças (MT), que utiliza genética nelore, foi de R$ 1.926 por hectare (soma das margens por hectare durante sete anos trazida ao valor presente de 2014), enquanto em uma propriedade típica, na mesma região, alcançou somente R$ 32,42, de acordo com o Cepea.

“Esta margem reduzida mostra que o negócio tem, basicamente, pago seus custos operacionais totais, enquanto a fazenda com genética têm conseguido recursos para ampliar os investimentos e potencializar o ganho de produtividade”, explica De Zen.

Na análise da atividade de recria-engorda, realizada em uma fazenda que utiliza genética, em Agudos, SP, o levantamento apurou margem líquida de R$ 1.113,00 por hectare, enquanto na região de Araçatuba, com tecnologia semelhante, foi contabilizado resultado negativo de R$ 732,00/ha e em Santa Cruz do Rio Pardo (proximidade geográfica), de R$ 1.682,00 negativos/ha.

Já no Estado de Goiás, em propriedades especializadas em cria, o resultado da genética, em uma fazenda próxima a Rio Verde, foi de R$ 1.092,00/ha; e da modal, com melhores índices técnicos, em Jussara, de R$ 860,00/ha. Por sua vez, em uma fazenda típica de Goiás, localizada em Mineiros, no Sudoeste do Estdo, perto geograficamente da fazenda com genética, foi de apenas R$ 88,94,00/ha.

LEITE

Na pecuária de leite, o comparativo, realizado na região de Uberlândia (MG), revelou que a propriedade com rebanho meio sangue Girolando, com genética provada, alcançou margem líquida por hectare 54% superior a uma fazenda típica.

Já em Piracanjuba, na região de Luziânia (GO), a fazenda com genética obteve margem líquida 164% maior que a típica. Na análise dos pesquisadores do Cepea, as diferenças positivas das propriedades leiteiras com genética provada resultam da combinação de fatores comomaior produção por vaca, maior período de lactação, menor intervalo entre partos e maior preço obtido pelo leite.

RECURSOS AMBIENTAIS E SOCIAIS

Visando comparar quantitativamente a diferença da eficiência ambiental, a equipe Cepea criou uma cesta, com base no intervalo entre partos (meses), idade da primeira cria (meses), crias produzidas por vaca, taxa de natalidade, taxa de lotação em área de pasto e idade de abate do boi gordo ou produção de leite. Segundo o levantamento, na média, as propriedades da pecuária de corte que utilizam genética provada têm eficiência ambiental 41% superior às típicas e, no caso da atividade leiteira, a diferença positiva é de 14,3%.

No âmbito social, o trabalho mostrou que as propriedades que utilizam genética zebuína provada geram mais empregos por área e os funcionários recebem maiores salários.

“Com base no salário e no número de funcionários por hectare, o ganho social é estimado em 50%, no corte e 38%, no leite”, calcula De Zen.

analista de mercado do Cepea, Mariane Crespolini dos Santos, que participou do projeto, ressalta a importância da produção inteligente, com boas práticas de conservação de solo, manejo de pastagem, preservação de florestas e matas ciliares, além de incentivos econômicos para a conservação dos recursos naturais, como o pagamento por serviços ambientais.

Neste sentido, ela conta que as propriedades visitadas que utilizam animais provados têm elevados índices de produtividade, resultado da genética, de boas práticas, suplementação mineral bem feita e treinamento de mão de obra.

“Todas as fazendas que utilizam as boas práticas buscam a genética como uma aliada, porque é ela (a genética) que dá o acabamento final, que garante o total uso eficiente dos recursos”, garante Mariane Crespolini dos Santos, analista do Cepea. Foto: Divulgação/Cepea
“Todas as fazendas que utilizam as boas práticas buscam a genética como uma aliada, porque é ela (a genética) que dá o acabamento final, que garante o total uso eficiente dos recursos”, garante Mariane Crespolini dos Santos, analista do Cepea. Foto: Daiane Braga/Divulgação

“Todas as fazendas que utilizam as boas práticas buscam a genética como uma aliada, porque é ela (a genética) que dá o acabamento final, que garante o total uso eficiente dos recursos”, ressalta.

Mariane acrescenta que, ambientalmente, as propriedades com genética utilizam muito bem seus recursos.

“Não há desperdícios, os animais são terminados em menor tempo e há melhor conversão alimentar, o que resulta em ganho de produtividade, o que é sentido diretamente no bolso do produtor. Claro que o custo total aumenta, mas o retorno econômico é quatro vezes maior”, comenta ela, acresentando que os benefícios são estendidos para toda a sociedade e tem um impacto maior e melhor do que iniciativas, como o “Segunda sem carne”.

Mariane, que está no Japão representando o Cepea em um evento mundial sobre carnes, destaca a importância das questões ambientas e sociais para o Brasil como grande fornecedor de carne bovina para atender à demanda mundial.

“Enquanto os países desenvolvidos apresentaram no evento problemas relacionados à produção, como, por exemplo, a falta de terra, as questões de comércio (ter ou não ter barreiras) e mercados novos (China, Filipinas, Indonésia, entre outros), os países sul-americanos incluíram a sustentabilidade, e aqui destaco não apenas a ambiental, mas, principalmente a questão social”, conta.

Em sua palestra, ela mostrou aos presentes que o Brasil tem muito espaço para crescer, sem aumentar ou até liberando área de pasto para outras culturas.

“Questionada sobre o quanto o País ainda poderia ampliar sua produção e produtividade, respondi que não temos como medir, porque a nossa produtividade ainda é tão baixa, mas que podemos crescer aumentando lotação de animal por hectare de pasto, reduzindo as taxas de mortalidade do rebanho, abatendo animais mais jovens, entre outras iniciativas”, relata.

Por equipe SNA/SP

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