Frutas especiais ganham mais mercado no inverno

“Se houver muito frio a ponto de formar geadas, a produção (de frutas, mesmo as de clima temperado) é prejudicada, porque o efeito do gelo nas células vegetais é devastador”, alerta o engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi. Foto: Divulgação

A chegada do inverno pode trazer diversos transtornos para a produção agrícola, principalmente se for muito rigoroso, como foi observado no início da atual estação, no Brasil. Mas alguns setores específicos dependem deste período, como é o caso da fruticultura, para que as chamadas frutas especiais, de clima temperado possam garantir um mercado maior neste período.

“As frutas de clima temperado precisam de um inverno definido para que, naturalmente, acumulem horas de frio e, em um processo hormonal, diferenciem as gemas vegetativas das gemas florais. Exemplos delas são: ameixas, caquis, maçãs, nectarinas, peras, pêssegos, uvas, além das pequenas frutas, como a amora, framboesa e mirtilo”, explica, em entrevista à equipe SNA/RJ, o engenheiro agrônomo Rodrigo Ismael Veraldi, da Viveiro Frutopia, em São Bento de Sapucaí (SP).

O especialista ainda relata que existem plantas que, naturalmente, produzem frutos no inverno, como os morangos – especialmente, os de dia curto e dia neutro –, o caju, o abacaxi, a laranja e outras frutas cítricas, além de frutos de plantas de ciclo curto, como o melão.

Ele alerta, no entanto, que “se houver muito frio a ponto de formar geadas, a produção é prejudicada, porque o efeito do gelo nas células vegetais é devastador”. “É como guardar uma garrafa de vidro cheia d’água no freezer – certamente, ela irá explodir. Isto ocorre devido ao aumento do tamanho da molécula da água em temperaturas abaixo de zero, que expande o volume ao ponto de danificarem as plantas.”

Engenheiro agrônomo da Central de Abastecimento do Estado de São Paulo (Ceagesp), Gabriel Vicente Bitencourt de Almeida também destaca que, na verdade, a produção das frutas de clima temperado ocorre no verão. “A característica em comum está no fato de elas perderem suas folhas e entrarem em dormência no inverno, saírem da dormência na primavera, produzirem no verão e começarem novamente a perder as folhas no outono. Isto ocorre para que haja uma adaptação evolutiva aos invernos rigorosos do clima temperado”, conta o especialista.

De acordo com Almeida, “quanto mais frio no inverno, melhor a formação de gemas e a brotação na primavera”. “As frutas temperadas vão produzir no final do ano; a maçã, de fevereiro a maio. Agora, estamos no final da safra dos citros e no auge da safra de morango”, informa o engenheiro agrônomo da Ceagesp, em entrevista à equipe SNA/RJ.

 

REGIÕES

Mesmo sendo consideradas de inverno, no Brasil, elas são produzidas onde o clima é mais quente, “propiciando a maturação adequada e é por isto que são comuns no Norte e Nordeste do País”, ressalta o engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi, da Viveiro Frutopia. “Já o morango pode ser encontrado em franca produção no Sul e Sudeste brasileiros”, acrescenta.

Gabriel Almeida, por sua vez, pontua que “a maior parte da maçã é produzida na região Sul, com destaque para três polos: Vacaria (RS), São Joaquim (SC) e Friburgo (SC), além do Estado de Paraná”. “Em Palmas (PR), também são cultivadas, mas em uma área bem menor. O pêssego ganha ênfase na Serra Gaúcha e em São Paulo; e o caqui, em São Paulo”, informa o engenheiro agrônomo da Ceagesp.

 

MERCADO CONSUMIDOR

De acordo com Rodrigo Veraldi, “as frutas de inverno ainda são pouco consumidas pelas famílias no Brasil, não chegando a 57 quilos por habitante ao ano, enquanto na Espanha, por exemplo, o consumo é de mais de 120 quilos por pessoa, segundo informações do Instituto Brasileiro de Frutas (Ibraf)”.

“O Sudeste é a região de maior consumo no Brasil e no inverno, por ocasião das baixas temperaturas, há uma queda no consumo. Já o mercado de nicho de frutas especiais permanece aquecido, mesmo no inverno. Alguns produtores já estão fazendo a inversão do ciclo natural de algumas frutas – como as amoras ou as uvas – e colhendo no inverno, como forma de garantirem melhores preços, já que nesta época não encontramos muitas frutas deste tipo no mercado, exceto as importadas do Hemisfério Norte”, comenta o engenheiro agrônomo da Viveiro Frutopia.

 

o melhoramento genético das frutas levou a variedades que precisam de muito pouco frio no inverno, adaptadas às condições subtropicais, com inverno ameno, como temos em São Paulo”, informa o engenheiro agrônomo da Ceagesp Gabriel Bitencourt. Foto: Divulgação
“O melhoramento genético das frutas levou a variedades que precisam de muito pouco frio no inverno, adaptadas às condições subtropicais, com inverno ameno, como temos em São Paulo”, informa o engenheiro agrônomo da Ceagesp Gabriel Vicente Bitencourt de Almeida. Foto: Divulgação

TÉCNICAS

Gabriel Almeida, da Ceagesp, destaca que “o melhoramento genético das frutas levou a variedades que precisam de muito pouco frio no inverno, adaptadas às condições subtropicais, com inverno ameno, como temos em São Paulo”.

Neste cenário, ele indica o trabalho científico realizado pelos Institutos Agronômicos de Campinas e do Paraná e, recentemente, a Embrapa Clima Temperado, com sede em Pelotas (RS), mas que realiza vários trabalhos em São Paulo.

Ele ainda explica que, para garantir mercados, fruticultores têm utilizado técnicas para “enganar” as frutas com estresse hídrico e uso de calciocianamida. “Por isto, o Nordeste se tornou grande produtor de uvas e também já se consegue, por lá, a produção de caquis e maçãs.”

 

INDICAÇÃO NUTRICIONAL

As frutas, de modo geral, têm alto valor nutricional e não é diferente com as de inverno. “As frutas são fontes de vitaminas, carboidratos, fibras e compostos antioxidantes, além de prevenirem diversas doenças. Também ajudam no bom funcionamento do organismo”, pontua o engenheiro agrônomo Rodrigo Veraldi.

Ele explica que as frutas são absorvidas no intestino, de forma que o ideal é ingeri-las antes das refeições, o que favorece o melhor aproveitamento de suas propriedades nutracêuticas, além de aumentar a sensação de saciedade, evitando as calorias em excesso, que são consumidas no inverno. “Não há restrições de grupos de idade: fruta é bom para todos, o ano todo”, sentencia.

 

Por equipe SNA/RJ

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