Ferrugem asiática provoca suspensão da safrinha de soja no Paraná

Por causa do aumento de ataque da ferrugem asiática, A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) proibiu o plantio da segunda safra de soja, a safrinha, na temporada 2016/17, sobre as lavouras recém-colhidas. Foto: Divulgação
Por causa do aumento de ataque da ferrugem asiática, a Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) proibiu o plantio da segunda safra de soja, a safrinha, na temporada 2016/17, sobre as lavouras recém-colhidas. Foto: Divulgação

A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) proibiu o plantio da segunda safra de soja, a safrinha, na temporada 2016/17, sobre as lavouras recém-colhidas. O vazio sanitário – período de ausência de plantas vivas – visa amenizar os efeitos da ferrugem asiática, causada pelo fungo Phakopsora pachyrhizi  que atinge a oleaginosa e tem criado resistência aos defensivos agrícolas atuais.

De acordo com o novo calendário, o prazo para colheita ou interrupção do ciclo vai até 15 de maio, quando todas as áreas de soja do Paraná precisam estar colhidas ou as plantas dessecadas. A partir desta data, até 15 de setembro ocorre o vazio sanitário. A semeadura da safra deverá ocorrer entre 16 de setembro e 31 de dezembro.

Segundo o vice-presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Hélio Sirimarco, a definição de um calendário que inviabiliza a soja safrinha tem como objetivo manter o plantio concentrado em uma mesma época, reduzindo a possibilidade da ferrugem asiática. “A medida busca também minimizar a resistência do fungo aos fungicidas”, explica.

Ele acrescenta que, quando a ferrugem asiática surgiu no Brasil (na safra 2000/2001), os produtos tinham efeito sobre o fungo, mas perderam a eficácia. “Então, diminuindo o período de plantas vivas no campo, reduz-se o uso de agrotóxicos, que ficarão mais eficientes nos próximos anos.”

Na opinião do vice-presidente da SNA, algumas medidas precisam ser tomadas para que os países do Mercosul tenham ações similares e de concordância em relação às pragas. “Existe uma preocupação das autoridades brasileiras em relação ao Paraguai. Estão sendo discutidas medidas que teriam validade em todos os países do Mercosul”, observa.

Segundo Sirimarco, dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento (SEAB) revelam que a soja estava ganhando espaço no Paraná nos últimos anos. Na última temporada, a área plantada no Estado foi de 132 mil hectares, 21% maior acima à da safra anterior. Em 2007/2008, a cultura ocupava apenas 47 mil hectares. No Brasil, a estimativa é de que a soja safrinha ocupe cerca de 750 mil hectares.

De acordo, com Sirimarco, os produtores aceitaram bem a decisão, pois é uma recomendação do setor produtivo que a soja não seja plantada em períodos prolongados. “Não se pode arriscar um negócio tão grande por falta de manejo correto”, enfatiza.

 

Ricardo Abdelnoor
Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja, Ricardo Vilela Abdelnoor afirma que a limitação da data de plantio é uma das estratégias que podem reduzir essa pressão de seleção para resistência do fungo Phakopsora pachyrhizi aos fungicidas. Foto: Divulgação Embrapa

MAIOR NÚMERO DE APLICAÇÕES

Chefe-adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja de Londrina (PR), Ricardo Vilela Abdelnoor afirma que, atualmente, a soja vem sendo cultivada em uma larga janela de plantio. “Com isso, lavouras plantadas mais tardiamente recebem uma grande quantidade de inóculo do fungo da ferrugem proveniente de outras lavouras mais adiantadas e, em consequência, necessitam de maior número de aplicações de fungicidas para o controle da doença”, observa.

De acordo com o pesquisador, a Embrapa Soja entende que medidas que previnam a ocorrência de situação de lavouras com alta pressão de inóculo devem ser adotadas. “A limitação da data de plantio é uma das estratégias que podem reduzir essa pressão de seleção para resistência do fungo Phakopsora pachyrhizi aos fungicidas que ainda possuem eficiência no controle da ferrugem da soja”, diz.

De acordo com a Embrapa, as áreas plantadas após janeiro representam 1% das lavouras semeadas no Paraná. No entanto, segundo Abdelnoor, apesar da pequena área em relação à área total de soja do Estado, essas lavouras recebem em média seis aplicações de fungicida em função da incidência precoce da ferrugem ocasionada pelo excesso de inóculo que vem das áreas semeadas mais cedo.

“Esse excessivo número de aplicações exerce alta pressão de seleção para resistência, podendo selecionar populações do fungo menos sensíveis aos fungicidas que incidirão sobre as áreas plantadas na safra seguinte, dificultando ainda mais o controle da doença”, analisa.

Abdelnoor acrescenta que a definição da data de semeadura pode até impactar em alguns agricultores que desejem plantar soja safrinha, “mas todos serão beneficiados, pois os poucos fungicidas ainda eficientes para o controle da doença poderão ser preservados”.

 

CONSÓRCIO ANTIFERRUGEM 

A Embrapa Soja, por meio do Consórcio Antiferrugem, tem divulgado estratégias antirresistência que incluem a rotação de fungicidas com diferentes modos de ação, além de limitar a duas aplicações os fungicidas contendo o grupo químico carboxamidas (ISDH).

Como forma de auxiliar no controle dessa doença, a Embrapa e outras empresas têm programas de melhoramento para incorporar genes de resistência à ferrugem às cultivares de soja, mas, assim como os fungicidas, o fungo pode quebrar essa resistência se um bom manejo não for adotado. “Medidas semelhantes à utilizada para os fungicidas são recomendadas para reduzir a pressão para quebra da resistência das cultivares”, afirma o pesquisador.

Atualmente, os fungicidas utilizados para o controle da ferrugem da soja se baseiam em três modos de ação, sendo que os mais eficientes são combinações de dois ou três desses modos de ação. “Fungicidas com modos de ação isolados não são recomendados e mesmo as melhores combinações vêm perdendo a eficiência ao longo dos últimos anos”, comenta.

Ele ainda informa que não há previsão de fungicidas com novos modos de ação com alta eficiência para serem registrado nos próximos 10 anos. “Existem alguns produtos em teste e em fase de registro, com registro especial temporário (RET), que são combinações diferentes dos fungicidas já disponíveis no mercado.”

 

Por equipe SNA/SP

 

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