Estadão: Pecuária e avicultura investem em processos sustentáveis para atender consumidores mais exigentes

A busca por mais saúde está provocando mudanças nos hábitos alimentares das pessoas. Saber o que está no seu prato – de onde a comida veio, como foi processada e transportada, faz parte do novo mindset dos consumidores e explicam boa parte da ascensão de marcas que se preocupam com esses aspectos.

O relatório “As Tendências Globais em Alimentos & Bebidas 2018”, da Mintel, reitera que a falta de confiança generalizada aumento a necessidade de que produtores se comuniquem de maneira clara com seus clientes sobre seus ingredientes, processos e cadeias.

Globalmente, entre setembro de 2016 e agosto de 2017, 29% dos lançamentos de alimentos foram de produtos mais naturais (orgânicos, sem aditivos ou OGM). A exigência por ética e sustentabilidade no setor cresceu de 1% em 2007 para 22% em 2017, de acordo com a mesma pesquisa.

Dentro da pecuária e avicultura, a cobrança vem de diversos aspectos: criação mais saudável dos animais, sem gaiolas e com mais espaço, alimentação e rações mais naturais, e redução no uso de antibióticos e químicos. Linhas de carne e frango mais sustentáveis não são mais um nicho, e sim uma tendência geral do mercado.

Para Sylvia Wachsner, coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), a prova disso é que grandes grupos tem tomado ações nesse sentido. Um exemplo é a BRF: em parceria com a ONG World Animal Protection, a empresa estabeleceu diversos objetivos para melhorar suas práticas no fornecimento e produção de alimento.

Isso inclui trabalhar com o bem-estar dos animais, como granjas com mais espaço e alimentação de qualidade, e também a gradativa redução da utilização de antimicrobianos. O crescimento de empresas como a Korin, reconhecida por suas práticas sustentáveis pelo Prêmio Eco, também representa esse novo paradigma na produção.

A questão da redução de antibióticos é uma das pautas mais relevantes nesse aspecto. Com o uso indiscriminado de medicamentos na criação de bois e frangos preocupa órgãos internacionais, inclusive a Organização das Nações Unidas. A FAO, que promove o diálogo sobre alimentação e agricultura na ONU, aponta que o crescimento no uso de antibióticos em animais eleva o risco de aumento na resistência das bactérias.

Com isso, os medicamentos se tornam ineficientes, colocando a saúde dos animais e das pessoas em risco. As chamadas superbactérias significam doenças mais difíceis de curar. A FAO trabalha com a estimativa que 700 mil mortes por ano tem alguma relação com a resistência a antibióticos e avalia que esse número pode chegar a 10 milhões em 2050.

Uma das críticas da organização é que poucos países no mundo têm dados coletados sobre o uso de medicamentos em animais de criação. Com as informações de apenas 42 países, a estimativa é que o consumo de medicamentos pelo setor da pecuária tenha sido de 63 mil toneladas. Uma das principais recomendações da organização é justamente promover boas práticas no setor, reduzindo as chances dos animais ficarem doentes.

Pensar em bem-estar, espaço para criação, liberdade, alimentação é uma das chaves. Enquanto os consumidores puxam essas mudanças, o mercado retroalimenta a necessidade dessas discussões também nos negócios B2B. Em 2015, por exemplo, o McDonald’s dos Estados Unidos anunciou que deixaria de comprar carne de frango com antibióticos.

 

Fonte: Estadão, 22/01/18

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