Equinos: cuidados com os carrapatos no ambiente

Algumas espécies de carrapato podem sobreviver vários meses na fase de vida livre. Foto: Divulgação
Algumas espécies de carrapato podem sobreviver vários meses na fase de vida livre. Foto: Divulgação

No Brasil, os carrapatos estão amplamente distribuídos em todas as regiões. São obrigatoriamente hematófagos e exercem diversos efeitos prejudiciais no organismo do hospedeiro, que vão desde a lesão cutânea, anemia, inoculação de toxinas e, eventualmente, indução à morte. Obviamente, tais efeitos variam conforme a espécie de carrapato e a área geográfica.

Estes ectoparasitas são potencialmente transmissores de agentes patogênicos e têm despertado o interesse na saúde pública por causa da participação na transmissão de doenças aos humanos, tidas como emergenciais e reemergenciais, muitas vezes letais. Os carrapatos, quando infectados por estes agentes, possuem a capacidade de transmissão de uma fase de vida para outra, levando seus descendentes a serem reservatórios potenciais de patógenos.

 

EQUINOS

Daremos ênfase a espécies de carrapatos que acometem equinos, que normalmente são parasitados por duas espécies de carrapatos: Dermacentor nitens, que prefere se fixar principalmente nas orelhas, narinas, crina e cauda; e Amblyomma cajennense, conhecido como carrapato-estrela, rodoleiro, micuim vermelhinho, que se distribui por todo o corpo do animal e está associado a doenças, como babesioses em equinos (Babesia caballi e Theileria equi).

O carrapato A. Cajennense, mesmo preferindo os equinos, parasita outras espécies de animais, inclusive os humanos. Pode sobreviver vários meses na fase de vida livre e necessita de três hospedeiros para realizar seu ciclo de vida. Desta forma, possui capacidade de disseminar agentes causadores de doenças como a Febre Maculosa Brasileira (FMB ), que tem sido uma das zoonoses mais estudadas no Brasil.

A FMB apresenta-se como doença infecciosa aguda, de gravidade variável, determinada por Rickettsia rickettsii e, pelo que se conhece até o momento, transmitida por carrapatos do gênero Ambyomma spp. A ecologia e a distribuição do carrapato vetor determinam os principais aspectos epidemiológicos desta enfermidade.

Pelo quadro clínico da Febre Maculosa Brasileira, podemos considerá-la uma doença que acomete vários órgãos do corpo humano, que apresenta uma evolução dos sintomas de forma variável, desde situações com sintomas brandos sem manchas avermelhadas até aquelas que pode levar à morte. Inicia-se geralmente de forma abrupta, com manifestações inespecíficas tais como febre, mal-estar generalizado, cefaleia, dor muscular e regiões avermelhadas. Os sinais e sintomas clínicos podem variar dependendo do tipo de comprometimento: gastrintestinal com náusea, vômito, dor abdominal, diarreia e, eventualmente, comprometimento hepático com icterícia; manifestações renais causando impacto no sistema de excreção; pulmonar com tosse; e edema pulmonar.

O exantema (erupção avermelhada na pele) é o sinal mais importante da febre maculosa. Aparece geralmente entre o terceiro e o quinto dia de doença, podendo estar ausente em 15% a 20% dos pacientes, o que dificulta e retarda o diagnóstico.

Todas as espécies de riquétsias do grupo da FMB , conhecidas até o momento, mantêm seu ciclo de vida na natureza entre o carrapato vetor e algumas espécies de mamíferos silvestres, chamados de hospedeiros amplificadores. Desta forma, o efeito amplificador que alguns hospedeiros silvestres desempenham deve existir para assegurar a manutenção da bactéria na natureza.

No Brasil, existem casos registrados de febre maculosa em vários Estados, em especial na região Sudeste. Na região Centro-Oeste, embora existam as condições ideais para circulação do agente, somente em Mato Grosso do Sul foram identificadas bactérias do grupo da Febre Maculosa Brasileira infectando carrapatos das espécies A. Calcaratum e A. nodosum. Em ambos os casos identificou-se Rickettsia parkeri-like, que é patogênica para seres humanos e determina sinais clínicos mais moderados.

 

MEDIDAS DE CONTROLE

O controle do carrapato somente nos equinos não resolve o problema, pois outras espécies podem manter a população desta espécie. As larvas e as ninfas aparecem nos meses mais frios. Neste período, uma série de tratamentos carrapaticidas com base nas especificações do fabricante, a intervalos semanais, deve ser realizada nos animais (equinos e bovinos, conforme o caso) com o direcionamento para a espécie de carrapato A. cajennense. Deve-se avaliar as pastagens, com relação à infestação, até considerar-se com baixa infestação.

Os animais precisam retornar ao mesmo pasto infestado para se reinfestarem, reduzindo a população de carrapatos nas pastagens e promovendo o tratamento carrapaticida para desinfestar os animais novamente. Nos meses mais quentes ocorre a predominância dos adultos, quando o controle pode ser realizado por catação manual ou rasqueamento nos equinos e realizando a queima ou tratamento com carrapaticida dos carrapatos retirados.

É importante separar bovinos de equinos e estes de capivaras ou outros animais silvestres quando possível. Cães e cavalos podem, com maior facilidade, levar adultos para as instalações e, neste caso, é necessário ser realizada a pulverização das instalações semanalmente para o seu controle. É necessário tratar os cães com orientação específica para a espécie. É preciso também roçar os pastos bem próximo ao solo, para que o sol possa aumentar a temperatura e diminuir a umidade no ambiente do carrapato, reduzindo o seu tempo de vida, além de controlar o carrapato nos animais que forem introduzidos na propriedade.

 

CUIDADOS PESSOAIS

Para evitar a possibilidade de contaminação pela FMB , alguns cuidados devem ser tomados para reduzir a possibilidade de picada e fixação dos carrapatos nos humanos. São eles:

  • Uso de roupas claras, camisa de manga comprida e botas de cano longo com a proteção de fita adesiva entre a calça e a bota;
  • Vistoriar o corpo e retirar os carrapatos imediatamente após terminar a atividade de campo;
  • Matar os carrapatos com fogo, água fervente ou álcool e não esmagar entre as unhas para não correr o risco de contaminação. Para retirar os carrapatos da roupa pode ser usada fita adesiva e, em seguida, ferver as roupas antes de lavar.
Ciclo do Amblyomma cajennense. Foto: Divulgação
Ciclo do Amblyomma cajennense. Foto: Divulgação

Se dias após o contato com carrapatos aparecerem sintomas como gripe forte (febre, desânimo, dores no corpo), falta de apetite e/ou manchas na pele, a pessoa deve logo procurar um médico e informar sobre o contato com carrapatos.

É importante lembrar que as larvas e ninfas são os principais responsáveis pela transmissão da FMB.

 

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Fonte: Revista A Lavoura – Edição nº 713/2016

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