Embrapa lança primeira cultivar de pêssego ‘chato’

Pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira: “A BRS Mandinho é fácil de comer, de colocar na merendeira escolar, e substituiria, perfeitamente, as rosquinha ou bolachinhas, por um produto de baixa caloria e saudável”. Foto: Paulo Lanzetta
Pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira: “A BRS Mandinho é fácil de comer, de colocar na merendeira escolar, e substituiria, perfeitamente, as rosquinha ou bolachinhas, por um produto de baixa caloria e saudável”. Foto: Paulo Lanzetta

A Embrapa Produtos e Mercado apresenta, em Dia de Campo, a BRS Mandinho, primeira cultivar de pêssego brasileira do tipo platicarpa (chato), adaptada às condições locais de cultivo, para abastecer o varejo que é suprido por importações da Europa e Estados Unidos, principalmente. O lançamento acontece no Sítio Irmãos Gallo, em Atibaia (SP), no dia 6 de novembro, ocasião em que os produtores poderão acompanhar o desempenho da nova cultivar, além de obter informações sobre a oportunidade de inserção de produtores no nicho de mercado.

A cultivar da variedade platicarpa produz frutas de formato chato, tipo ‘bolachinha’, conhecida nos mercado de idioma espanhol, como paraguayos, e, nos Estados Unidos, como pêssegos tipo ‘donuts’, segundo a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, líder da equipe da Embrapa Clima Temperado (Pelotas, RS) que desenvolveu a nova cultivar.

As pesquisas com a fruta platicarpa foram desenvolvidas durante 20 anos, sendo metade desse tempo dedicada à nova cultivar de pêssego chato apropriado às condições locais de cultivo.  “A cultivar foi obtida por polinização aberta do cruzamento entre a cultivar Chimarrita e a nectarineira Linda (1993), cujos ramos foram enxertados e colocados na coleção da Embrapa, para serem comparados a outras cultivares e seleções”, explica.

Ela acrescenta que a BRS Mandinho é de baixa necessidade em acúmulo de frio hibernal, adaptando-se às condições subtropicais. “A principal vantagem da variedade brasileira é a sua adaptação a áreas com inverno ameno. As importadas, de um modo geral, só podem ser cultivadas em muito poucas áreas com microclimas mais frios, no Brasil.”

A ideia, comenta Maria do Carmo, é oferecer um produto diferenciado, destinado a um nicho de mercado, principalmente o público infantil. “Esse pêssego de tamanho pequeno a médio (cinco centímetros de diâmetro contra os cerca de sete das frutas importadas), é fácil de comer, de colocar na merendeira escolar, e substituiria, perfeitamente, as rosquinha ou bolachinhas, por um produto de baixa caloria e saudável”, diz.

De acordo com o agrônomo da Embrapa Produtos e Mercado, Ciro Scaranari, a BRS Mandinho atende aos quesitos aparência e sabor, exigidos pelos consumidores. “A doçura dos frutos, de polpa firme e cor amarela, se sobressai à leve acidez apresentada, conforme avaliações nas regiões testadas em Santa Catarina (Urussanga e Pedras Grandes), Paraná (Araucária), São Paulo (Jarinu e Paranapanema), Minas Gerais (Barbacena) e Espírito Santo (Domingos Martins)”, informa.

 

Ciro Scaranari, agrônomo da Embrapa Produtos e Mercado: “Estima-se área de 6 mil hectares para cultivares de mesa e é nesse mercado que a cultivar BRS Mandinho irá atuar”. Foto: Divulgação Embrapa Produtos e Mercado
Ciro Scaranari, agrônomo da Embrapa Produtos e Mercado: “Estima-se área de 6 mil hectares para cultivares de mesa e é nesse mercado que a cultivar BRS Mandinho irá atuar”. Foto: Divulgação Embrapa Produtos e Mercado

O Brasil possui cerca de 20 mil hectares de pessegueiros, sendo 70% da área destinada a cultivares para uso industrial (enlatamento). “Estima-se área de 6 mil hectares para cultivares de mesa e é nesse mercado que a cultivar BRS Mandinho irá atuar”, situa o pesquisador. As metas de produção de mudas (por meio de licenciados), segundo Scaranari, equivale a 0,5% desse mercado.

A BRS Mandinho vem para substituir ou competir com cultivares importadas da Europa e Estados Unidos. O pesquisador aponta três grandes possibilidades de êxito, na substituição de importações: “A adaptabilidade ao cultivo (pouca exigência em frio hibernal, necessário para indução do florescimento e frutificação, estimada em apenas 150 horas de frio, abaixo de 7,2ºC); o sabor (as importadas, embora de ótima aparência, pecam nesse quesito) e o preço, certamente abaixo das importadas.”

Nos supermercados, a novidade começa a chegar somente em 2017, quando as primeiras mudas devem iniciar a produção de frutos. Mas os fruticultores interessados em adquirir mudas da cultivar (a partir de julho de 2015) deverão fazê-lo junto aos viveiristas licenciados (informação na Embrapa Fruticultura de Clima Temperado).

 

BRS FASCÍNIO

Durante o Dia de Campo, os produtores ainda poderão acompanhar a performance da BRS Fascínio, também desenvolvida pela da Embrapa, de fruto firmes, grandes, doces e de polpa branca esverdeada com traços de vermelho, de formato cônico com ponta. “Devido ao tamanho e á cor das frutas, é bastante atrativo ao consumidor”, comenta.   

A cultivar foi lançada em 2012 e os primeiros frutos chegam aos supermercados de regiões abastecidas pela Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), em novembro e dezembro deste ano.

“O tamanho da fruta, a baixa acidez e a firmeza da polpa (não se ‘esborracha’ ao apertá-la, no ponto de colheita, portanto, é mais resistente ao transporte do que a maioria das cultivares de polpa branca) e a boa produtividade são características marcantes dessa cultivar”, observa Maria do Carmo. Ela acrescenta que o caroço em relação à polpa é pequeno e é semi-aderente. A floração e a maturação são mais tardias que BRS Kampai e BRS Rubimel, cultivares anteriormente lançadas pela Embrapa.

Segundo a pesquisadora, a produção variou, conforme as condições do ano. Em plantas adultas, em Pelotas houve uma produção de 58,8 kg/planta. Em Jarinu, as produções foram maiores, chegando a 90 kg/planta. “A produtividade, não é a característica mais importante desta cultivar. Provavelmente, o tamanho das frutas e a firmeza da polpa que é branca e doce, sejam os atributos que mais chamam a atenção”, ressalta.

Conforme explica a pesquisadora, em 2004 novas plantas (clones) foram também plantadas em Jarinu, em uma unidade de observação, localizada na propriedade de NorivalGallo. “Em Jarinu há 400 plantas em teste, que demonstraram boa adaptação àquela região.” As frutas da BRS Fascínio são recomendadas para consumo in natura, já que o mercado paulista tem preferência por pêssegos de polpa branca, doce, com baixa ou nenhuma acidez perceptível e tamanho grande.

Desde o lançamento dessa cultivar, em 2012, foram ofertadas ao mercado cerca de 100 mil mudas, o equivalente a 3% do mercado. “Essa participação em apenas dois anos de lançamento é muito expressiva e deve-se ao fato de a cultivar apresentar frutos grandes, de ótimo sabor, maturação em época com poucos concorrentes e estratégias de organização da produção, exercida pela Embrapa em seu programa de licenciamento de viveiristas”, avalia Scaranari.

Essas duas variedades, as de mais recentes lançamentos, somam-se a outras cinco lançadas nos últimos sete anos pelo programa de melhoramento de prunaceas (pêssego, nectarina e ameixa) liderado pela unidade Embrapa Clima Temperado, com grande rede de validação nas regiões Sul e Sudeste do País, sob gestão da Embrapa Produtos e Mercado. “Essa configuração de atuação vem obtendo sucesso no setor, que carecia de ofertas contínuas de cultivares de qualidade.”

Segundo Scaranari, a produção de pessegueiros de São Paulo é quase toda comercializada nos centros atacadistas como o Ceagesp.  Na safra 2013/2014 esse centro atacadista escoou 17,8 mil toneladas de pêssegos e mil toneladas de nectarina.

De acordo com informações de técnicos da Ceagesp, a fruta de São Paulo entra no mercado antes da que é colhida no Rio Grande do Sul, portanto, não competindo com os produtores deste Estado, ou seja, quando a safra paulista termina, o produto gaúcho é um dos que abastecem o mercado. “O consumidor preza pela qualidade na hora da compra”, avalia Scarani.

Ele informa que as cultivares da Embrapa, entre elas a Rubimel, “têm sido muito bem aceitas e obtém preços acima de outras cultivares”.

Por equipe SNA/SP

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