Embrapa apresenta estudo sobre o perfil da agropecuária paulista

Mapeamento realizado pela Embrapa mostra a expansão da cana-de-açúcar e a redução das áreas ocupadas pela pecuária, pelas culturas anuais, sobretudo grãos, e pela citricultura

Ao longo de um período de quase 30 anos, a Embrapa Monitoramento por Satélite, de Campinas (SP), por meio do projeto de pesquisa CarbCana, avaliou a mudança de perfil na produção agropecuária na área agrícola das bacias dos rios Mogi-Guaçu e Pardo, através de imagens de satélite, visitas e entrevistas a campo.

A região abrange 125 municípios, com uma área de 52 mil quilômetros quadrados, e se localiza em um dos principais polis produtores do País. O mapeamento realizado pela Embrapa mostra a expansão da cana-de-açúcar e a redução das áreas ocupadas pela pecuária, pelas culturas anuais, sobretudo grãos, e pela citricultura.

Segundo o pesquisador da entidade, Carlos César Ronquim, a principal alteração foi o avanço da área pela cana-de-açúcar sobre as áreas de pastagem, culturas anuais (principalmente grãos) e citros. “A cana também retirou área da cafeicultura em grande parte dos municípios, mas, nos últimos anos, o café aumentou muito em municípios do leste paulista, próximo à divisa com Minas Gerais, conquistando áreas de pastagem, e isso resultou em um ganho de área para a atividade cafeeira”, detalha.

Ronquim afirma que, nesse período de quase três décadas, a cultura canavieira remunerou o capital investido acima da média de mercado em comparação com as demais atividades agrícolas. “Isso, alavancou os preços dos arrendamentos de terra, tornando acirrada a concorrência com outras culturas, mesmo a soja e o milho, ‘commodities’ altamente valorizadas no mercado internacional”, explica o pesquisador.

De acordo com Ronquim, o que se pode perceber através do estudo é que o agronegócio ligado a agroindústria é o setor que consegue se manter e se expandir sobre áreas agrícolas, pois gera maior lucro e desaloja outras culturas menos rentáveis.

“A cana é o principal exemplo e ocupa áreas de pastagens porque a pecuária apresenta uma menor rentabilidade. Muitos canaviais pertencem às usinasm que compram muitas terras, pois conseguem se autofinanciar. As áreas de pastagem e culturas anuais estão, em sua maioria, nas mãos de produtores rurais”, justifica.

PERSPECTIVAS

Segundo o pesquisador da Embrapa Monitoramento por Satélite, Carlos César Ronquim, nos últimos 30 anos, a cultura canavieira remunerou o capital investido acima da média de mercado em comparação com as demais atividades agrícolas. Foto: divulgação

Na opinião do pesquisador, as mudanças que poderão ocorrer devem estar relacionadas à cana-de-açúcar. “A cana ainda tem espaço para crescer, mas a fronteira agrícola da região de estudo está bem menor. A expansão ou a velocidade de expansão depende também dos condicionantes econômicos e políticas governamentais”, diz.

Para Ronquim, após o período de maciços investimentos, o setor canavieiro entrou em crise com o fechamento de muitas usinas e endividamentos, mas, atualmente, o setor respira mais aliviado em consequência dos bons preços do açúcar no mercado internacional, do câmbio favorável para exportação e de melhores políticas governamentais para o etanol.

“Deve-se destacar também que na área dos 125 municípios estudados a partir desse ano, 2017, cerca de 150 mil ha (7,1% da área das bacias) cultivadas com cana-de-açúcar poderão receber uma nova cultura ou destinação. Estas áreas estão sendo cultivadas em declividades superiores a 12%”, avalia o pesquisador e explica que com a eliminação total da queimada no Estado a partir de 2017, a colheita da cultura deverá ser completamente mecanizada, método difícil de ser aplicado em plantações com declives superiores a 12%. “Portanto, a cana deverá sair dessas áreas, processo de uso e ocupação inverso ao que vem ocorrendo até agora”, acrescenta.

O estudo mostrou ainda que o café poderá se expandir, mas em uma área restrita do leste paulista e sobre áreas de pastagens. “A cafeicultura ainda pode avançar em grande parte dos municípios do leste paulista, na divisa com Minas, sobre áreas de pastagens, Nessa região, de 332,9 mil hectares de pastagens, 166,8 mil estão em altitudes superiores a 800 metros e declividade menor que 20%, o que possibilita a colheita mecânica e produção de café de elevada qualidade”, ressalta o pesquisador.

PRINCIPAIS MUDANÇAS

Segundo o pesquisador da Embrapa, as principais mudanças reveladas pelo estudo são:

CANA – A cana-de-açúcar foi a cultura que provocou toda essa alteração nesses quase 30 anos, ocupando quase o dobro da área. Atualmente essa cultura ocupa 44% da região de estudo.

PASTO – A maior ocupação da cana se deu sobre áreas de pastagens. Há 30 anos as pastagens detinham a maior área da região e atualmente ocupam menos que a metade. A criação de gado migrou para outros estados do Centro-Oeste e Norte do País.

GRÃOS – As culturas anuais reduziram-se quase a um terço do que representavam no período de estudo. Destacam-se na produção de grãos as microrregiões próximas aos municípios paulistas de Guaíra e Casa Branca, que se destacam como polos de agricultura irrigada. Enquanto em Guaíra a área irrigada foi de 13,2 mil hectares, distribuídos em 309 pivôs, em Casa Brancam foi 12,1 mil hectares e 265 pivôs. A reforma da cana também contribui com a produção de grãos, em especial amendoim e soja. A área das bacias concentra a maior produção de amendoim do Estado.

CITROS – A citricultura também perdeu muita área para a cana, principalmente em toda a parte oeste da área de estudo. A cidade de Bebedourom antes era conhecida antes como a capital da laranja, é um bom exemplo. A redução da área plantada em municípios desta microrregião provocou o fechamento de unidades de processamento de laranja. O baixo retorno financeiro agravado pela alta incidência da doença guanglongbing (HLB) ou greening são os principais fatores para a venda ou arrendamento das áreas de citros para as usinas.

Por Equipe SNA/SP

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