Em defesa dos títulos do agronegócio

As discussões em torno do crédito rural continuam em alta. A crescente diminuição dos recursos públicos para custeio da produção agropecuária é inegável, mas o avanço do financiamento privado não tem acontecido no mesmo ritmo. E um dos principais problemas, de acordo com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), é que ainda falta conhecimento por parte do produtor sobre os títulos do agronegócio à disposição.

“O maior problema ainda é o pouco conhecimento. Eu entendo que as cooperativas precisam investir nesses títulos. As cooperativas têm centenas de milhares de associados e podem usar uma parte dos estoques de dívida desses produtores com elas para começar a embutir o CDCA [Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio] ou participar de operações de CRA [Certificado de Recebíveis do Agronegócio]. Pode ser nesse cenário que o crédito oficial [com juros subsidiados pelo Tesouro], que beneficia tanto as cooperativas, não esteja tão disponível no futuro”, afirmou o diretor da Wedekin Consultores, Ivan Wedekin, em seminário promovido pela Febraban ontem na capital de São Paulo.

No cenário atual, cerca de 90% do custeio das lavouras é alimentado com recursos oriundos dos depósitos à vista nos bancos e pela poupança. Esse financiamento tem diminuído. Em parte pela situação macroeconômica do país, mas também por uma mudança do comportamento do correntista.

“Há o mito de que toda a redução do dinheiro disponível para o crédito agrícola dos depósitos à vista se deve ao problema econômico. Isso não é verdade. Existe um feito muito grande que vem da transferência automática do dinheiro das contas para alguma aplicação”, disse o consultor Ademiro Vian, ex-diretor da Febraban.

Dentre as possibilidades de recursos privados à disposição, as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) são as que mais estão sendo demandadas, apesar das críticas com relação os altos juros do papel. “Já na safra passada foram R$ 15 bilhões de LCAs que viraram crédito rural. No período de 12 meses encerrado em setembro deste ano, a LCA foi responsável por aproximadamente 10% do crédito rural e, dentro do crédito rural, por 31% do crédito de comercialização. Virou um dos principais instrumentos do crédito de comercialização”, destacou Ivan Wedekin.

Na visão de Ademiro Vian, o custeio privado até tem caminhado, mas o principal problema que deve ser o mote das próximas discussões é como direcionar o financiamento nos ramos que trazem renda para o produtor. “O financiamento privado vem crescendo e tende a tomar o espaço do financiamento oficial. O ponto agora é que precisa discutir uma política agrícola”.

 

Fonte: Valor

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