Discussão sobre emissão de CO2 se voltará ao manejo do solo, diz executivo da JBS

Segundo Márcio Nappo, da JBS, a grande discussão sobre a emissão de gás carbônico não será na área do transporte e do desmatamento, mas do manejo do solo em agricultura
Segundo Márcio Nappo, da JBS, a grande discussão sobre a emissão de gás carbônico não será na área do transporte e do desmatamento, mas do manejo do solo em agricultura

 

Existem cálculos que colocam o Brasil, hoje, como líder inconteste de um programa sólido de redução de efeito estufa. A afirmação é do diretor de sustentabilidade da JBS Brasil, Márcio Nappo, feita durante a 1ª edição latino-americana do Sustainable Foods Summit (Cúpula de Alimentos Sustentáveis), realizada em São Paulo. Segundo ele, esta posição se dá graças à redução em mais de 70% do desmatamento na região Amazônica, nos últimos 10 anos, que permitiu a redução de emissão de gases na atmosfera.

A Europa, explicou, tem trabalhado muito nessa questão da redução de gás de efeito estufa, investindo maciçamente na mudança de sua matriz energética, através do uso cada vez maior de bioenergias, de biocombustíveis e eficiência energética. O Brasil, destacou, “com essa redução expressiva do desmatamento, economizou mais carbono jogado na atmosfera do que o próprio continente europeu como um todo”.

De acordo com Nappo, ainda há uma discussão muito grande no mundo sobre a questão do aquecimento global e emissões de carbono e que o exemplo brasileiro é, muitas vezes, visto só pelo aspecto negativo e que os aspectos positivos conseguidos nos últimos anos não são tão mencionados.

PECUÁRIA

Nappo lembrou que a pecuária é um dos grandes focos de discussão dentro do capitulo do aquecimento global, quer seja pela questão de conversão de florestas, o famoso uso do solo, desmatamento, quer seja pela questão da conversão entérica do boi que come capim e produz metano a partir de seu processo de digestão. Mas, em sua opinião, trata-se de uma discussão interessante, porque ao mesmo tempo em que o Brasil reduziu o desmatamento dentro da pecuária, a ênfase maior é dada à questão da emissão e não ao sequestro.

“Vários estudos mostrando, por exemplo, que a brachiaria, a gramínea mais usada no Brasil para pastagem, é um tipo de planta de raiz longa que, bem manejada, é um tremendo conversor de gás carbônico em matéria orgânica dentro do solo. Pouca gente sabe que há três vezes mais carbono absorvido no solo que na atmosfera, isso é fronteira de discussão”, exemplificou.

Segundo o executivo, a grande discussão sobre a emissão de gás carbônico não será na área do transporte e do desmatamento, mas do manejo do solo em agricultura. “Esse é o tópico que ainda não emergiu e do qual, de novo, o Brasil possui liderança dentro dos processos de plantio direto e dentro do que deve ser a próxima revolução silenciosa da agricultura brasileira, que é a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, com a qual vamos vai produzir carne e grão na mesma propriedade fazendo ao máximo o uso do solo de maneira altamente produtiva e cumprindo as metas do Código Florestal”, preconizou.

Nappo citou a Moratória da Soja, ação criada, em julho de 2006, pela Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) e a Associação Brasileira dos Exportadores de Cereais (ANEC) com o objetivo de não comercializar nem financiar a soja produzida em áreas que foram desmatadas no Bioma Amazônia. Segundo a Abiove, a Moratória atendeu as demandas de grupos ambientalistas e de clientes do Brasil que passaram a exigir regras sustentáveis para o cultivo e a comercialização da oleaginosa.

MORATÓRIA DA CARNE

À exemplo da soja, foi criada a Moratória da Carne, porém, disse o diretor de sustentabilidade JBS, a adesão, até o momento, é só de 30%. “Esse é um pleito dos players do setor, em particular da JBS. Mas isso cria, na verdade, um desequilíbrio no mercado, porque quando vou comprar boi é um desespero, tem mais gente querendo comprar matéria-prima do que matéria-prima disponível no mercado. Existe uma série de restrições de qualidade, sanidade e sustentabilidade, além do famoso abate clandestino, o abate informal, que não tem regra nenhuma”, afirmou.

E exemplificou: “É como aquela discussão a que assistimos na cidade entre o CD comprado na loja e o CD pirata. O CD pirata é muito mais lucrativo para o vendedor e para o consumidor porque ele não paga imposto. O boi pirata, se é que dá para a gente falar assim, aquele que não segue regra nenhuma, sanitária, sustentabilidade, também tem uma vantagem econômica muito grande em relação àquelas empresas que querem trabalhar dentro da legalidade, dentro da sustentabilidade. No fundo, é um pouco isso”.

E concluiu dizendo que, “por mais que a JBS faça sua parte 100%, cada vez melhor, não é isso que vai disciplinar o setor, é preciso trazer mais players. E isso depende, em particular, de outros players que estão na origem desses acordos, como o Ministério Público Federal e a sociedade civil”.

Por Equipe SNA/SP

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