Diretor da SNA avalia aumento da procura por indenizações do seguro rural

Com as quebras de algumas safras no ano passado no país, soja e milho representaram boa parte do pagamento de sinistros do seguro rural, em 2016. Foto: Divulgação

As quebras das safras no ciclo agrícola 2015/16 – com destaque para cana-de-açúcar, laranja, milho e soja –, ocasionadas por efeitos climáticos, especialmente pelo fenômeno El Niño, levaram produtores que contrataram o seguro rural, na lavoura passada, a procurarem pelas indenizações pagas pelas seguradoras contratadas.

Números da Superintendência de Seguros Privados (Suspe), com base em dados fornecidos pela Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), mostram que os sinistros diretos no campo superaram a marca de R$ 1,3 bilhão em 2016, um amento de 85,72% em comparação aos cerca de R$ 700 milhões de 2015.

De acordo com a Suspe, os prêmios diretos superaram os sinistros, chegando a quase R$ 1,8 bilhão, conforme publicação do Valor Econômico. Ainda assim, as instituições financeiras, que certamente “não gostam de pagar indenizações”, esperam por melhoras em 2017, principalmente porque o clima, até então, está favorecendo as atuais lavouras.

Diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) e presidente da AgroSecurity, Fernando Pimentel destaca que “o mercado de seguros não é desenvolvido para ganhos e perdas conjunturais”.

“É um negócio de ganho em longo prazo. Esse setor financeiro trabalha com cálculo atuarial, que trata da probabilidade da ocorrência de sinistro. Por exemplo, os problemas com chuvas nas colheitas que, eventualmente, irão impactar as apólices, terão seus efeitos diluídos em culturas que vão colher normalmente, em outras localidades do país”, exemplifica o analista de mercado.

Pimentel destaca que, além disso, o segmento de resseguro, que está por trás das seguradoras e retém a maior parte do risco e do prêmio, distribui seu risco em setores desconectados, como seguros de veículos, de vida, de imóveis, entre outros, e “não sofrem tanto com perdas setoriais, por causa desse mecanismo de compensação”.

“É claro que o ideal seria não ter sinistros a indenizar. Mas refletindo sobre essa lógica, se as pessoas e os negócios não tivessem de conviver com os sinistros, não haveria a necessidade de contratar apólices e o negócio de seguros nem existiria. Pensando dessa forma, é melhor que as perdas existam.”

 

PERSPECTIVAS PARA 2017

A Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) estima que, em 2017, os sinistros diretos do setor rural possam variar entre R$ 400 milhões e R$ 500 milhões. “São oscilações que mostram que o Brasil, que é um continente, é um desafio enorme para as seguradoras”, comentou Wady Cury, presidente da Comissão de Seguro Rural da instituição, em entrevista ao Valor Econômico. O executivo também é diretor-geral de Rural e Habitacional do Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre, líder no segmento de seguro rural no país.

Na opinião do diretor da SNA, “quando tratamos de clima, tratamos de incertezas”. “Ainda não existe um serviço meteorológico que nos permita fazer um prognóstico para o ano. Tendências e certezas são coisas bem distintas, sobretudo, quando falamos de clima”, salienta.

 

“Ainda não existe um serviço meteorológico que nos permita fazer um prognóstico para o ano. Tendências e certezas são coisas bem distintas, sobretudo, quando falamos de clima”, diz o diretor da SNA Fernando Pimentel. Foto: Arquivo SNA

Pimentel concorda com Wady Cury quando ele se refere, indiretamente, ao tamanho do Brasil: “Além da dimensão da área agricultável do nosso país, temos a safra de verão e a safra de inverno, que criam ainda mais complexidade”.

“Outro ponto a ser considerado é que estamos nos trópicos, fator complicador para os estudiosos do clima, pois sofremos mais interferências das temperaturas das correntes oceânicas, em comparação a outros países de clima temperado, que têm temperaturas mais previsíveis em curto prazo”, compara.

 

SOJA E MILHO

Com as quebras de algumas safras no ano passado no país, soja e milho representaram boa parte do pagamento de sinistros do seguro rural. Em 2016, as regiões produtoras de grãos que mais tiveram dificuldades, por causa do clima, foram a do Matopiba (formada por alguns municípios dos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Mas segundo publicação do Valor Econômico, também houve um acréscimo impactante em Goiás, Mato Grosso, Paraná e Rio Grande do Sul, entre outras unidades da Federação.

“Bahia já apresentou problemas no início da atual safra, mas não na intensidade da safra passada. No entanto, o produtor acumula perdas e qualquer má notícia, mesmo que seja uma pequena quebra, já assume importância na região. Quanto ao Piauí, Maranhão e Tocantins, as perspectivas são bem melhores que as do ano passado, fato que deve trazer um alívio para os agricultores daquelas regiões”, comenta o diretor da SNA.

 

APÓLICES COM SUBVENÇÃO

Ainda conforme a FenSeg, dos prêmios diretos registrados em 2016, as apólices com subvenção do governo federal representaram uma fatia de quase  R$ 1 bilhão ou 55% do total. Esse valor inclui os subsídios pagos pelo Executivo, que somaram R$ 400 milhões, e a parte que é de responsabilidade dos próprios contratantes, os produtores rurais.

De acordo com publicação do Valor Econômico, essa participação não deve ser muito diferente em 2017, pois, por enquanto, o orçamento do governo federal prevê, novamente, subvenções em torno de R$ 400 milhões. Ainda segundo o jornal, “dez entre dez fontes do segmento reclamam que o valor continua baixo e suscetível a recorrentes contingenciamentos”.

“Apesar de ser relativamente baixa, essa subvenção do governo federal é o que mantém o seguro rural ainda operacional no país. Existe uma Câmara – denominada Câmara de Crédito, Comercialização e Seguro, coordenada pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) – que está buscando uma solução integrada entre crédito e seguro, para aumentar a participação da subvenção e atrair mais recursos privados para o crédito. São muitas entidades contribuindo com ideias. Mais adiante, devemos ter novidades”, antecipa o diretor da SNA.

Ainda em entrevista ao Valor Econômico, o executivo da FenSeg Wady Cury disse que se o governo oferecesse R$ 1,2 bilhão em subvenções, o Brasil teria demanda para novas contratações, principalmente porque, em comparação ao todo, são poucos os produtores que contratam o seguro rural.

“Nesse caso, cobriríamos de 60% a 70% do que imaginamos ser nosso público alvo, que não inclui nem o produtor rural muito pequeno, que já tem outras ferramentas de proteção à disposição, nem pelo muito grande, para o qual a subvenção não faz grande diferença”, afirmou Cury ao jornal.

 

Presidente da Comissão de Seguro Rural da FenSeg e diretor-geral de Rural e Habitacional do Grupo Segurador Banco do Brasil e Mapfre, Wady Cury diz que se o governo oferecesse R$ 1,2 bilhão em subvenções do seguro rural, o Brasil teria demanda para mais contratações. Foto: Divulgação

INICIATIVAS

Cury também anunciou que, após as perdas na safra 2015/16, as discussões em torno do seguro rural ganharam mais força: “O grupo de trabalho formado por seguradoras e fabricantes e distribuidoras de insumos foi restabelecido e já temos reuniões agendadas até o início de abril”.

Para o diretor da SNA Fernando Pimentel, as iniciativas não estão (e não devem estar) centradas apenas no seguro. “Existe um orçamento global do governo direcionado para a subvenção de seguro e também de taxa de juros para o custeio agrícola.”

Ele informa que as instituições governamentais e a Câmara de Crédito, Comercialização e Seguro do Mapa buscam, junto aos ministérios envolvidos, “otimizar da melhor forma esses recursos limitados, com a finalidade de atrair mais capital privado para o custeio agrícola”.

“A tarefa não é simples, pois será necessário melhorar a governança de crédito, ao passo que se reduz o risco das perdas por sinistros. Vale lembrar que, na América do Norte e Europa, quem financia os produtores são os bancos privados. Lá, eles contam com o seguro para quase 100% das áreas; aqui, não passamos de 8%. Esse é nosso maior desafio: dar mais cobertura e melhorar a segurança jurídica, como forma de atrair os principais financiadores privados.”

 

Por equipe SNA/RJ com informações do Valor Econômico

Facebook
Twitter
LinkedIn
WhatsApp