Dinheiro Rural: Dez perguntas para Antonio Mello Alvarenga Neto

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Antonio Alvarenga, presidente da SNA. Foto: Felipe Gabriel

 

“O agronegócio deslancharia com a venda de terras para estrangeiros”

Por Marcela Caetano/

O produtor rural Antonio Mello Alvarenga Neto, 63 anos, é um dos homens mais influentes do agronegócio e sempre é procurado pelos grandes empresários do setor para dar suas opiniões sobre os mais diversos temas. Não é para menos. Há seis anos ele comanda a Sociedade Nacional da Agricultura (SNA), uma das principais entidades do setor, próxima de completar 120 anos de história.

Alvarenga Neto também integra a Academia Nacional de Agricultura, da qual fazem parte os ex-ministros Roberto Rodrigues, Izabela Teixeira, Alysson Paolinelli, Rubens Ricúpero, Francisco Turra e Antonio Delfim Neto. Em entrevista à Dinheiro Rural, ele fala sobre infraestrutura, seguro rural e a polêmica autorização para estrangeiros comprarem terra por aqui. Acompanhe:

O governo do presidente Michel Temer pretende fazer mudanças na legislação trabalhista. Que impacto elas teriam no agronegócio?

De uma forma geral, a legislação trabalhista brasileira é uma catástrofe e precisa de mudanças tanto na cidade quanto no campo. Para resolver o problema, é preciso terceirizar. Temos processos trabalhistas demais na Justiça, que é muito paternalista. Além disso, questões como a das horas ‘in itinere’, que é o tempo gasto no trajeto entre a casa do trabalhador a propriedade rural, precisam ser resolvidas. No campo, esse período em que o trabalhador está em trânsito já conta como hora de trabalho. É algo que não faz o menor sentido. E para mudar isso será preciso o apoio do Congresso.

O sr. concorda com a questão da venda de terras para investidores estrangeiros?

Sim. O mundo inteiro quer comprar terras no Brasil porque sabe que o país é um sucesso no agronegócio. Mas hoje os estrangeiros só podem investir em parceria com empresas nacionais e sem maioria de capital. Estão todos aguardando o projeto de lei 4059/12 ser votado na Câmara, onde está na pauta há mais de um ano. Isso é uma questão importantíssima porque o Brasil é um dos poucos países capazes de atender à demanda mundial por alimento, mas não tem dinheiro para isso. Não há como prescindir do capital estrangeiro. Sem receber investimentos, o país não atenderá a meta estipulada pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) de ampliar em 40% a produção de alimentos até 2050. O agronegócio deslancharia com a venda de terras para estrangeiros.

Quais benefícios o setor teria com essa abertura?

Esses investidores têm dinheiro e podem ajudar a construir a estrutura que nos falta. Ao investir na produção, eles também trazem aportes para a infraestrutura e para a agroindústria.

O sr. é a favor da entrada de estrangeiros no país em quais condições?

Em 2010, um parecer da Advocacia Geral da União (AGU) limitou a venda de terras a estrangeiros. Há quem defenda um novo parecer da AGU, mas acredito que isso é frágil. É preciso uma nova lei que estabeleça limites de onde e quanto de terra o estrangeiro pode comprar. Não estamos reivindicando que se venda o Brasil todo a um chinês, mas deve-se fazer uma liberação controlada.

Que outras medidas ajudariam o setor a obter resultados ainda melhores?

Acho que o Brasil precisa exportar mais. O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, está dando segmento ao trabalho de apresentar os nossos produtos no exterior, com uma série de viagens. Ele está certíssimo em fazer isso e mostrar que o Brasil pode comercializar produtos como a carne brasileira, por exemplo, em maior quantidade. Precisamos fazer isso com outros produtos de maior valor agregado.

Como mudar isso?

É bom que o país exporte muito produto primário, mas ainda não é o suficiente. Quando o Brasil vende a matéria- prima, não está de fato vendendo, mas está sendo comprado. Não tem esforço nenhum. O que tem que ser feito é mostrar para o mundo as nossas qualidades e tentar romper as barreiras comerciais para que as exportações aumentem.

Como o sr. avalia a infraestrutra brasileira para escoamento da produção?

Está melhorando deforma lenta. Devagar, os portos do Arco Norte já estão funcionando e ampliando a exportação. Esse ano, por exemplo, não se viu reclamação de filas nos portos. Claro que a infraestrutura ainda demanda muito investimento e o país está quebrado. Mas espero que o Programa de Parcerias e Investimento (PPI), coordenado pelo secretário Moreira Franco, permita o crescimento da área.

Qual a maior dificuldade do agronegócio brasileiro atualmente?

Sem duvida é o seguro rural. O Brasil tem hoje somente 13% de lavoura coberta, ou seja, quase nada. E o produtor rural não pode viver desse jeito. Ele é um empresário que, como os outros, enfrenta os riscos do negócio, como a flutuação no mercado internacional, praga e problema climático. Por isso, os governos, em qualquer lugar do mundo, dão subvenção ao seguro rural. No Brasil, é preciso que se institucionalize um bom seguro rural e que o governo aumente a subvenção do seguro rural, que ainda é infima.

O Centro de Inteligência em Orgânicos, da SNA, tem uma campanha para alertar sobre os “falsos” orgânicos. Como evitar esse tipo de problema?

Isso precisa ser proibido, é um crime e quem faz isso deve ser multado. Essa campanha é parte da função do CI Orgânicos de incentivar o consumo e a produção de orgânicos e mostrar ao consumidor que ele não pode levar gato por lebre. O ideal é que o cliente compre em um local seguro, como um supermercado, onde tenha a garantia de origem.

O que representa o mercado de orgânicos hoje no Brasil?

O segmento está crescendo no mundo inteiro, mas não acredito que será um mercado dominante. No Brasil, este segmento movimentou R$ 2,5 bilhões em 2015 e deverá superar R$ 3 bilhões neste ano. Há uma tendência de o consumidor procurar alimento saudável e cultivado com responsabilidade social, o que os orgânicos oferecem. Além disso, o há uma vantagem para o produtor, já que o mercado de hortigranjeiros tende a remunerar melhor esses produtos. Há um público para esses produtos e não podemos prescindir de atendê-lo.

 

Fonte: Dinheiro Rural, novembro de 2016

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