‘Crise deve ser relativizada, no caso do agro’, diz Fernando Pimentel

“O cadastro de produtividade (para servir de suporte ao seguro rural) será positivo, haja vista que a referência utilizada pelas seguradoras tem sido a estatística do IBGE, que já se mostrou discrepante com a realidade em safras anteriores”, avalia o diretor da SNA Fernando Pimentel. Foto: Divulgação
“O crédito é um fator de preocupação, pois ainda não se sabe como será a disponibilidade nas agências de banco”, diz o diretor da SNA Fernando Pimentel. Foto: Divulgação

Os médios e grandes produtores rurais do Brasil fecharam acordos de financiamentos agrícolas, entre julho de 2015 e março deste ano, na ordem de R$ 100 bilhões, resultando em um crescimento de 4% em comparação ao período anterior. Para o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), “o resultado mostra que os agricultores continuam apostando no setor, contribuindo para a economia brasileira”, que vive um momento bastante delicado.

Na avaliação do diretor da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA) Fernando Pimentel, “a crise deve ser relativizada, no caso do agro”. “Em outros  segmentos, a atual crise impacta mais pela falta de crédito e demanda. A produção agrícola, pelo seu caráter de essencialidade, não sofreu qualquer impacto na demanda”, afirma.

Para ele, a demanda do agro segue de normal a aquecida, tanto para as mercadorias de consumo doméstico quanto para as commodities de exportação. Mesmo assim, destaca que “o crédito é um fator de preocupação, pois ainda não se sabe como será a disponibilidade nas agências de banco”.

“Isto porque, na maioria das vezes, o que é reportado nos planos agrícolas não se materializa totalmente no balcão das agências. As maiores exigências de garantias e o crédito mais restritivo têm sido a realidade no campo. E este crescimento (dos financiamentos agrícolas) é uma boa notícia. Se tiver crédito, o produtor vai pegar.”

 

RECURSOS PROGRAMADOS

De acordo com o Mapa, o volume referente a créditos de custeio, comercialização e investimento representa 53% dos recursos programados para o Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2015/16, que gira em torno de R$ 187,7 bilhões.

O Ministério da Agricultura ainda aponta que, nos nove primeiros meses da safra atual, as operações de custeio e comercialização na agricultura empresarial somaram R$ 82 bilhões, sendo R$ 69,5 bilhões a juros controlados (entre 8,75% e 7,75%). Os financiamentos com juros livres quase dobraram, ao passarem de R$ 6,7 bilhões para R$ 12,4 bilhões. Deste total, R$ 6,6 bilhões vieram das emissões de Letras de Crédito do Agronegócio (LCAs).

O diretor da SNA explica que os recursos de juros livres são mais caros em comparação ao subvencionado pelo Sistema Nacional de Crédito Rural (SNCR). “Esta modalidade deve crescer em relação ao crédito subsidiado, pelo fato de ela depender dos depósitos à vista e da poupança rural. Os depósitos à vista, em face da crise pela qual passa o País, vêm caindo. Desta forma, a alternativa será o crescimento do recurso livre.”

Quanto às LCAs, destaca Pimentel, “elas também devem crescendo enquanto existir a isenção de IR (Imposto de Renda) para o investidor”. “No campo, a Letra de Crédito do Agronegócio é repassada como recursos livres, ou seja, só muda sua forma de captação da instituição financeira.”

Segundo o diretor da Sociedade Nacional de Agricultura, também “merece destaque o dispêndio a juros controlados nas operações de crédito de custeio e comercialização de R$ 69,5 bilhões, que corresponde a 72% do montante programado para a atual temporada (R$ 96,5 bilhões)”.

Pimentel comenta que os juros controlados são mais vantajosos que os juros livres. “O primeiro caso se refere a linhas que contam com a subvenção de taxa aprovada pelo CMN (Conselho Monetário Nacional) e custeadas pelo Tesouro Nacional, que compensa os bancos participantes do SNCR, pelas diferenças de taxas em relação às taxas de mercado, que são as do recurso livre.”

 

PRONAMP

Dados do Ministério da Agricultura também mostram que, dos R$ 64,1 bilhões em crédito de custeio, 80,6% foram contratados por grandes produtores e 19,4% por produtores beneficiários do Programa Nacional de Apoio ao Médio Produtor Rural (Pronamp).

Segundo o Sistema de Operações do Crédito Rural e do Proagro (Sicor), do Banco Central (BC), os financiamentos de custeio da safra, de julho de 2015 a março deste ano, tiveram alta de 22,4%, considerando as aplicações a juros controlados e juros livres. Conforme o Mapa, este aumento foi liderado pelos bancos públicos, que ampliaram suas aplicações em 42%, enquanto os bancos privados tiveram redução de 7%. As operações a juros livres somaram R$ 6,7 bilhões, enquanto as de juros controlados alcançaram a marca dos R$ 57,4 bilhões (90% do total).

As instituições financeiras públicas elevaram em 42% seus financiamentos de custeio destinados aos beneficiários do Pronamp, enquanto as particulares tiveram alta de 29%. De acordo com o Mapa, “os bancos privados estão mais conservadores que os bancos públicos (tradicionais financiadores de safras)”.

Os produtores Pronamp não intermediários entre os empresariais e os do Programa Nacional da Agricultura familiar (Pronaf) “gozam também de taxas intermediárias”, isto porque “os produtores familiares têm as taxas mais baixas do crédito controlado”.

“Os bancos privados estão mais conservadores em todos os segmentos de crédito e no crédito rural não é diferente”, resume Pimentel.

 

INVESTIMENTOS FUTUROS

Outros dados do Mapa apontam que a procura pela linha de investimentos, no acumulado de julho de 2015 a março deste ano, totalizou R$ 18 bilhões, contra R$ 27 bilhões do ciclo agrícola passado. De acordo com a Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, esta a redução estava prevista na ocasião do lançamento do Plano Agrícola e Pecuário (PAP) 2015/16, em junho do ano passado.

“Os produtores, em sua maioria, vão adiar os investimentos e devem se limitar a custear a próxima safra. Isto é normal em períodos de retração de preços, embora este quadro possa mudar em face das altas nos grãos nos últimos dias”, comenta o diretor da SNA Fernando Pimentel.

Para ele, em caso eventual de quebra na safra dos Estados Unidos, “isto poderia mudar bem o atual cenário, aumentando o otimismo e o estímulo para a ampliação das áreas agrícolas”.

A retração de programas, como o PSI (Programa de Sustentação do Investimento), também explica o posicionamento do produtor, diz Pimentel. “As taxas para investimentos pioraram e isto adia os planos de muita gente para a troca de máquinas e equipamentos e construção de silos. O insucesso das lavouras em algumas regiões de fronteira do País – como no Matopiba (formado pelos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que demandam por mais recursos de investimentos, também contribuiu para esta retração.”

 

Por equipe SNA/RJ

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