Coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos afirma que mapeamento do setor precisa melhorar

Sylvia Wachsner Foto: Russ Campbell
Sylvia Wachsner acredita que falta de dados oficiais sobre exportação de orgânicos é um dos obstáculos para novos investimentos. Foto: Russ Campbell

 

No final de 2012, segundo dados do Ministério da Agricultura, o Brasil contava com cerca de 5,5 mil produtores agrícolas que trabalhavam segundo as diretrizes dos sistemas orgânicos de produção. Em 2013, foram 6.719 produtores – 42% localizados nas regiões Norte e Nordeste do país – e 10.064 unidades de produção orgânica em todo o país.

O mapeamento do setor avança, porém outros aspectos precisam ser apurados. É o que observa a coordenadora do Centro de Inteligência em Orgânicos (CI Orgânicos) da Sociedade Nacional de Agricultura, Sylvia Wachsner. “Verifiquei os dados recentes do Cadastro Nacional dos Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura, e percebi que a produção é classificada nos parâmetros de primária vegetal, animal ou extrativismo sustentável orgânico. Ou seja, ainda não sabemos que produtos e quais são os volumes produzidos. São inúmeras as variedades, mas as autoridades deveriam começar a obter dados mais detalhados das principais culturas, como por exemplo frutas, grãos, hortigranjeiros, cereais, etc”, explica Sylvia.

Por outro lado, segundo a coordenadora do CI Orgânicos, ainda existe uma carência de dados oficiais relativos à exportação de orgânicos. “As informações que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior divulgava até uns anos atrás já não estão mais disponíveis. A falta de dados oficiais estimula a circulação de todo tipo de ‘achismos’ e previsões que resultam em obstáculo para novos investimentos”.

Controle Social

Em matéria de avaliação, Sylvia acredita no desempenho das Organizações de Controle Social (OCS). “A lei brasileira da produção orgânica estabeleceu que agricultores familiares organizados e vinculados a associações ou grupos, podem, para venda direta ao consumidor, optar por cadastrar-se no Ministério da Agricultura, e comercializar seus produtos como orgânicos. O relacionamento entre o produtor e o consumidor – que verifica nas propriedades a maneira pela qual é realizada a produção, torna-se a ‘garantia social’  das OCS. Existem mais agricultores avaliados por OCS, por tratar-se de produtores familiares que comercializam nas feiras municipais pequenas quantidades de produtos, e  optam por utilizar práticas agroecológicas.  OCS não constituem certificação orgânica, como é a certificação por auditoria ou participativa, mas eu diria que é um primeiro passo para a utilização de práticas agrícolas mais sustentáveis”.

Pendências

Sylvia defende a ideia de que o incremento dos produtores irá favorecer o desenvolvimento de novas pesquisas em agroecologia e produção orgânica. “Enquanto isso, teremos muito chão a percorrer até que possamos vislumbrar uma cadeia realmente consolidada”, afirma a especialista, que chama a atenção para algumas das necessidades do setor. “As agroindústrias se queixam da falta de certos ingredientes que impede a produção constante de alguns alimentos. Nossa produção de laticínios, sobretudo de leite, está começando. Falta milho orgânico, assim como rações para alimentação animal. Faltam veterinários capacitados. Necessitamos de pesquisa para produzir sementes orgânicas de qualidade. Não temos insumos, equipamentos apropriados e extencionistas capacitados”.

Soma-se às limitações descritas o problema da produção sazonal, que é concebida de forma mais rudimentar. “Contamos com uma boa demanda por produtos orgânicos. Nas feiras e supermercados são os hortigranjeiros os mais oferecidos, mas devido a essas limitações, os preços ainda são maiores em comparação aos alimentos convencionais”, esclarece Sylvia.

Mercado aquecido

Porém, em ano de Copa do Mundo, o mercado de orgânico estará bem aquecido, garante a coordenadora do CI Orgânicos. “Teremos quiosques nas doze cidades sedes que irão oferecer produtos orgânicos e da agricultura familiar.  Nessas vitrines, os produtores poderão introduzir suas marcas e os consumidores experimentar os produtos”.

Outro mercado importante é o da merenda escolar, ressalta Sylvia. “No Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), as prefeituras pagam a margem de 30% a mais pela compra de orgânicos.  Também conheço cooperativas de agricultores familiares satisfeitas com os alimentos orgânicos que comercializam”.

 

Por Equipe SNA/RJ

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