Finanças e cenários de mercado: tema de palestra no Conselho de Economia da SNA

Economista Ney Brito diz que, “no processo de finanças, é preciso considerar a relação de troca risco-retorno, a função de produção e a estrutura de preferências no ambiente de risco”. Foto: Divulgação SNA

O professor e economista Ney Brito, a convite do Conselho de Economia da Sociedade Nacional de Agricultura, debateu sobre finanças e mercado, durante encontro realizado no último dia 18 de maio, na sede da SNA, sob a coordenação de Rubem Novaes.

Na ocasião, Brito traçou um histórico da evolução das finanças e abordou alguns conceitos como capital social, eficiência e gestão de risco, com o propósito de analisar os cenários de mercado no contexto atual.

Para o economista, um dos grandes problemas do Brasil é o capital social zero. “Não existe uma visão de que é preciso investir”, salientou, acrescentando que a “eficiência de mercado não se equilibra se não tivermos um nível mínimo de capital social na estrutura vigente”.

 

MOEDA

Brito disse que as finanças podem ser comparadas à moeda com duas faces, onde a cara representa as decisões corporativas segundo as resoluções de mercado, e a coroa significa as decisões de mercado segundo as resoluções corporativas. O meio metálico que une os dois lados pode ser expresso pela gerência de riscos.

“No processo de finanças temos de considerar a relação de troca risco-retorno, a função de produção e a estrutura de preferências no ambiente de risco”, salientou Brito.

Nesse âmbito, o fator expectativa tem um peso considerável. “É preciso ter plena confiança nas expectativas que geram uma carteira de investimentos a ser adotada; caso contrário é necessário mudá-las. É fundamental observar o que mercado quer e saber qual o grau que se tem nessas expectativas”.

O economista abordou ainda a questão da proximidade das finanças com a contabilidade, que segundo ele “sinaliza os efeitos das decisões financeiras no balanço das empresas”. Para Brito, “contabilidade gera informação e toda informação ou evento gera impacto sobre a economia de mercado”.

 

PERSPECTIVAS

Ao final da palestra, o economista apresentou o resultado de suas pesquisas no setor de finanças e traçou um breve quadro das perspectivas de mercado, tomando por base o cenário dos últimos dias.

“Em nível global, há um crescimento melhor, em torno de 3%. Nos Estados Unidos, o Banco Central (Fed) deve subir a taxa de juros duas vezes. Já o Japão está muito dependente do yen. A China desacelera de forma controlada e foca em ajustes no sistema financeiro, e a Europa acelera mais que os Estados Unidos”.

 

Participantes da reunião do Conselho de Economia: Roberto Fendt, Rubem Novaes, Hélio Sirimarco, Paulo Guedes, Antonio Meirelles, Antonio Alvarenga e Antonio Freitas. Foto: Divulgação SNA

RISCOS E IMPACTOS

Ao comentar a palestra de Brito, Antonio Meirelles fez algumas considerações sobre os mercados interno e externo. Ao citar como exemplo a recente incorporação da corretora XP pelo Itaú/Unibanco, Meirelles ressaltou que “qualquer atividade financeira que se faz apenas com a garantia que os papeis oferecem, não é uma boa prática”. No caso da XP, Meirelles afirmou que 98% de sua receita resultam da operação de títulos, letras de crédito, CDBs, etc.

“Esses papeis estão sendo vendidos por uma lista interminável de bancos, e isso tem um risco no médio prazo, de não haver mais papel para vender; e no longo prazo, no caso de algum problema de ordem sistêmica que atinja os bancos”.

Em relação ao mercado externo, Meirelles ressaltou a reforma fiscal de Donald Trump nos EUA. Ele informou que a decisão do presidente americano de reduzir os impostos corporativos em 20%, tributar as importações e zerar o tributo sobre as exportações, irá resultar em uma valorização do dólar de 25%. “Nesse caso, os perdedores serão os americanos que têm ativos em outras moedas e aqueles que têm dívida em dólar”.

Meirelles disse ainda que a América Latina tem quase 100% de toda a dívida na moeda americana, e que os países emergentes da Europa têm dívidas substanciais em euros. “Isso vai gerar um grande impacto”, afirmou o economista, que também falou sobre a desvalorização das moedas frente ao dólar. “As moedas emergentes se desvalorizaram, em média, 35%, no período de 2011-2016, e isso também é impactante”.

O analista também questionou à ocasião os possíveis efeitos da desmobilização dos ativos do Banco Central dos EUA (Fed).

 

IMPOSTOS

Fazendo uma breve análise da economia nacional, Paulo Guedes falou sobre o problema da tributação no Brasil. “Os impostos são altos no país porque não há lideranças empresariais decentes. Neste caso, os empresários ou não pagam taxas, ou conseguem encomendas especiais do governo, ou promovem fusões que concentram mercados, entre outras possibilidades”.

 

SINAIS

No contexto global, Guedes apontou para um cenário onde “a inflação foi travada pelo ingresso de quatro bilhões de pessoas que desistiram do socialismo e ingressaram no mercado de trabalho, seja pela comercialização ou pela migração”. O economista chamou a atenção para o fato de que, hoje em dia, “o capital humano, que passa pelo viés da educação, é muito mais importante que o capital físico”.

“Como a inflação não surgiu, os bancos centrais começaram a monetizar o mercado. Foi a partir daí que estouraram as bolhas”, explicou Guedes, admitindo que, “depois de anos nessa direção, sinais de inflação começam a surgir na Inglaterra e nos Estados Unidos, por exemplo”. No entanto, disse ele, “o futuro é imprevisível”.

Também estiveram presentes à reunião do Conselho de Economia o embaixador José Botafogo Gonçalves; o presidente da SNA, Antonio Alvarenga; o vice-presidente da instituição, Hélio Sirimarco; os diretores Rony Oliveira, Francisco Villela, Antonio Freitas, Márcio Sette Fortes, Tulio Arvelo Duran e Paulo Protásio, e os economistas Arnim Lore, Antonio Meirelles, Ney Brito, Paulo de Tarso Medeiros, Ralph Zerkowski, Roberto Fendt, Sergio Gabizo e Thomás Tosta de Sá.

 

Por equipe SNA/RJ

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