Confinamento de bois deverá crescer no país

Depois da onda de fusões e aquisições deflagrada em 2007 no setor frigorífico, a cadeia produtiva da carne bovina no Brasil deve passar por novas modificações profundas nos próximos dez anos. Essa é a expectativa do banco holandês Rabobank, um dos principais financiadores privados do setor de agronegócios.

Conhecido por sua pecuária baseada na criação extensiva do gado bovino, com os animais tratados soltos no pasto, o Brasil já está pronto para fazer o sistema intensivo de engorda – conhecido como confinamento – “decolar”, avalia o banco, em relatório assinado pelos analistas Renato Rasmussen, Adolfo Fontes e Bill Cordingley.

 

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Pelas projeções do Rabobank, a participação da carne bovina oriunda de gado criado nos confinamentos passará do atual patamar de 10% para quase 20% em 2023, saltando de 0,9 milhão de toneladas de carne bovina para 2,5 milhões de toneladas (ver gráfico). “Acreditamos que a indústria brasileira de carne bovina está à beira de uma mudança na direção de uma rápida intensificação”, aponta o relatório.

Fazendo coro ao otimismo que os frigoríficos nacionais têm sobre o futuro do setor no país, o Rabobank avalia que o Brasil, já o maior exportador global de carne bovina, reúne condições únicas para atender a crescente demanda global por carne bovina. Para tanto, porém, a pecuária brasileira terá de elevar sua produtividade, que hoje é baixa na comparação com EUA e Austrália, os principais concorrentes do Brasil.

É nesse contexto, portanto, que o Rabobank projeta o avanço dos confinamentos. “A resposta para o Brasil aumentar a produção de carne bovina é a intensificação dos confinamentos”, diz o banco. Com a criação de bovinos em confinamentos na última fase de engorda – etapa em que o boi magro é alimentado até se tornar boi gordo – o peso médio do animal abatido nos frigoríficos é não só mais alto como a idade de abate é menor, elevando a produtividade.

Para elevar a criação de gado em confinamentos, a pecuária brasileira terá de investir em novas unidades. Pelas contas do banco, o país pode dobrar a atual capacidade estática de confinamento para 4,5 milhões de cabeças de bovinos até 2023, o que demandaria investimentos entre US$ 250 milhões e US$ 500 milhões nos próximos dez anos.

Com uma capacidade estática de 4,5 milhões de cabeças de gado, os confinamentos poderiam engordar 9 milhões de bovinos por ano, considerando duas etapas de confinamento. Atualmente, o sistema de confinamento no Brasil é usado predominantemente no período da entressafra, amenizando a menor oferta de gado criado no pasto.

Na avaliação do Rabobank, a necessidade de ampliar a produção de carne bovina no país não será o único fator de indução dos confinamentos nos próximos anos. Áreas de pastagens já vêm cedendo espaço nos últimos anos para a agricultura, em muitos casos mais rentável. Considerando ainda as restrições ambientais para que a pecuária avance sobre áreas de florestas, a solução é produzir gado em menor área, o que favorece os confinamentos.

Além disso, o cenário de menores preços dos grãos como soja e milho – os principais insumos da ração dos bovinos no confinamento – nos próximos anos também é um duplo incentivo. De um lado, a atividade de confinamento é beneficiada pelo menor custo da dieta. De outro, agricultores também poderão ingressar na atividade de confinamento como forma de agregar valor. O Rabobank estima que a demanda adicional por grãos para ração totalizará 19,1 milhões de toneladas no ano de 2023.

 

Fonte: Valor Econômico

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