Commodities em baixa fazem navios virar sucata

O número de navios que estão sendo demolidos cresceu acentuadamente neste ano diante da forte queda no comércio de commodities, o que está levando as companhias de navegação a vender suas embarcações para sucateamento, em vez de operá-las com prejuízo.

A demanda menor da China e de outros grandes importadores está derrubando os preços das matérias-primas e gerando, também, uma crescente capacidade ociosa de navios de carga.

Como resultado, os navios “capesize” — os maiores cargueiros do mundo que transportam commoditites como minério de ferro e carvão — estão cada vez mais sendo enviados para desmanche em ferros-velhos no Sudeste Asiático. As diárias de frete desses navios giram em torno de US$ 5.000,00 desde meados de dezembro, comparado com um valor entre US$ 7.500,00 e US$ 20.000,00 que seria necessário para cobrir os custos, dependendo da idade da embarcação e das condições financeiras do contrato.

Em um relatório divulgado recentemente, a firma de pesquisa londrina Clarkson Research Services informou que cerca de 4.6 milhões de toneladas de peso morto foram vendidas como sucata este ano, um salto de 368% em relação ao mesmo período de 2014. O volume acumulado até agora neste ano já ultrapassa o total do ano passado inteiro, quando 4.2 milhões de toneladas de peso morto de navios “capesize” foram recicladas.

As quedas nos valores dos fretes marítimos, que segundo corretores não devem se recuperar tão cedo, ocorre num momento em que os preços do minério de ferro estão despencando. Na semana passada, eles caíram para o nível mais baixo desde 2008 em meio ao receio de que a fraca demanda chinesa e a crescente produção das minas ampliem ainda mais o excesso de oferta mundial.

O minério de ferro é muito usado em projetos de construção e aplicações industriais. E a divulgação, neste mês, de que o crescimento econômico da China deve recuar de 7,4% em 2014 para 7% neste ano fez o índice Báltico Seco, que monitora as tarifas de frete, atingir seu nível mais baixo nos últimos 30 anos.

“Combine isso a um excesso de capacidade de no mínimo 25% [no segmento] de navios de carga seca a granel que levam minério de ferro para a China e a maioria dos donos [de navios] não tem escolha a não ser vender seus navios como sucata”, diz um corretor que trabalha em Londres. “No passado, levava tempo para alugar um navio “capesize”. Agora, há um disponível a cada minuto, e isso não é exagero.”

Corretores dizem que pelo menos oito transportadoras de carga seca a granel já entraram com pedido de proteção de falência em 2015, um número que pode muito bem dobrar antes do final do ano.

A americana GMS, maior compradora de navios para desmantelamento do mundo, informou num relatório desta semana que mais de 30 navios “capesize” já foram vendidos para reciclagem este ano. A empresa acredita que 2015 será um ano frenético para o sucateamento no segmento de carga seca.

Um corretor de Cingapura diz que os donos desse tipo de navios que têm condições financeiras de mantê-los estão deixando-os parados em portos asiáticos.

“Há pelo menos oito [navios] fora de circulação, o que significa que eles estão ancorados, os motores desativados e a tripulação reduzida a pelo menos a metade para cortar custos”, diz o corretor. “Não víamos algo assim desde a crise econômica mundial de 2009.”

Ele acresentou que as grandes mineradoras, como a BHP Billiton, a Vale e a Rio Tinto ainda estão contratando “capsizes” para transportar commodities da Austrália para a China, “mas são números bem menores do que em novembro e a preços ridiculamente baixos”.

No geral, a atividade de desmanche de navios cresceu 37% este ano, segundo a Clarkson. Estaleiros no subcontinente indiano estão abocanhando a maior parte dos negócios. Em Bangladesh, o sucateamento de navios cresceu 85% em termos de toneladas ante o mesmo período do ano passado, enquanto no Paquistão e na Índia o desmantelamento cresceu 19% e 7%, respectivamente.

“Mesmo que o sucateamento duplique ou triplique, será apenas uma gota no oceano”, diz um corretor de Londres. “Somente este ano, serão entregues mais de 1.000 novos navios.”

 

Fonte: The Wall Street Journal

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