Com produção abaixo do consumo, preços do açúcar devem continuar firmes

“O clima afetou a produção de cana-de-açúcar da Europa, da Ásia e do Brasil, país que responde por 45% do mercado internacional de açúcar e está estagnado, nos últimos cinco anos, também em razão de dificuldades internas”, analisou o presidente da Abag, Caio Carvalho, durante Seminário Internacional do Açúcar. Foto: Gerardo Lazzari/Divulgação
“O clima afetou a produção de cana-de-açúcar da Europa, da Ásia e do Brasil, país que responde por 45% do mercado internacional de açúcar e está estagnado, nos últimos cinco anos, também em razão de dificuldades internas”, analisou o presidente da Abag, Caio Carvalho, durante Seminário Internacional do Açúcar. Foto: Gerardo Lazzari/Divulgação

A produção mundial de açúcar está abaixo do consumo, há dois anos consecutivos, principalmente por causa de problemas climáticos no Brasil, União Europeia, China, Índia e Tailândia, principais produtores da commodity. Em razão desse quadro, os preços do produto estão valorizados no mercado internacional e a tendência é permanecerem firmes.

“O clima afetou a produção de cana-de-açúcar da Europa, da Ásia e do Brasil, país que responde por 45% do mercado internacional de açúcar e está estagnado, nos últimos cinco anos, também em razão de dificuldades internas”, analisou Luiz Carlos Correa Carvalho, mais conhecido como Caio Carvalho, presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag) e da Academia Nacional de Agricultura, da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA).

“Com base nesse quadro, acredito que os preços do açúcar continuem valorizados nos próximos dois anos”, previu Caio Carvalho, durante o Seminário Internacional do Açúcar 2016, realizado em São Paulo, dia 7 de novembro.

O presidente do Conselho da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Pedro Mizutani, também aposta na tendência de valorização do açúcar em 2017, porém em ritmo moderado: “Os preços devem continuar bons, mas, provavelmente, não tão fortes como neste ano”.

 

CRESCIMENTO

A produção mundial de açúcar na safra global 2017/18 pode crescer de 8,5 milhões a 13,5 milhões de toneladas, segundo projeção do diretor-gerente da LMC International, Martin Todd.

Maior produtor mundial de açúcar, apesar do bom momento da commodity, o Brasil deverá ter um ritmo de crescimento modesto e poderá aumentar a produção em até 1 milhão de toneladas, alcançando entre 39 milhões e 40 milhões de toneladas. “Mesmo com a previsão de uma safra menor de cana-de-açúcar, as usinas estão investindo na ampliação da capacidade de cristalização”, disse Todd.

 

Diretor-gerente da LMC International, Martin Todd acredita que a União Europeia pode ampliar a sua produção em 2,5 milhões de toneladas e superar a marca de 20 milhões de toneladas, com o fim do regime de cotas de produção no bloco. Foto: Gerardo Lazzari/Divulgação
Diretor-gerente da LMC International, Martin Todd acredita que a União Europeia pode ampliar a sua produção em 2,5 milhões de toneladas e superar a marca de 20 milhões de toneladas, com o fim do regime de cotas de produção no bloco. Foto: Gerardo Lazzari/Divulgação

Caio Carvalho acredita que, apesar dos bons preços do açúcar, não há expectativa de crescimento da produção de cana-de-açúcar, mesmo que as condições climáticas sejam normais. “Especialistas projetam a safra atual em cerca de 600 milhões de toneladas de cana.”

Conforme Todd, a União Europeia pode ampliar a sua produção em 2,5 milhões de toneladas e superar a marca de 20 milhões de toneladas, com o fim do regime de cotas de produção no bloco. Já para a Tailândia, a previsão de aumento é de 2,5 milhões de toneladas, para 12,5 milhões de toneladas.

“Com a mudança na política pública na UE, a expectativa é de aumento considerável na produção de açúcar com o suporte e o protecionismo do governo, de forma a segurar as importações”, acrescenta Caio Carvalho.

De acordo com o executivo da LMC International, caso as condições climáticas favoreçam, a produção da Índia pode crescer 3,5 milhões de toneladas e chegar a 26 milhões de toneladas.

 

CHINA

Outro grande player do mercado internacional do açúcar, a China tem um déficit de 6 milhões de toneladas e, portanto, continuará importando grande volume de açúcar nos próximos anos. Maurício Nabuco Sacramento, chefe de trading de açúcar da Cofco Agri, controlada pela estatal chinesa de alimentos Cofco e dona de quatro usinas de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, projeta o consumo de açúcar do país asiático em 15,4 milhões de toneladas na temporada 2016/17.

“A estimativa de produção de China é de 9,21 milhões de toneladas de açúcar, frente às 8,66 milhões de toneladas obtidas no ciclo anterior, o que representa um déficit de 6,2 milhões de toneladas”, calcula.

Sacramento acrescenta que a demanda interna também será suprida pelos estoques públicos, estimados em 7 milhões de toneladas. De acordo com o executivo, o governo local já vendeu cerca de 520 mil toneladas dos estoques e a previsão é que as importações chinesas de açúcar se reduzam para 5,7 milhões de toneladas.

O executivo também aponta tendência de aumento do consumo de açúcar no mercado chinês, estimulado pela crescente urbanização.

 

LMC / Canaplan
Chefe de trading de açúcar da Cofco Agri, Maurício Nabuco Sacramento aponta tendência de aumento do consumo de açúcar no mercado chinês, estimulado pela crescente urbanização. Foto: Gerardo Lazzari/Divulgação

ÍNDIA

Presidente da Thiru Arooran Sugars, uma das maiores produtoras de açúcar da Índia, Ram Tyagarajan  afirmou, durante o seminário, que a cana-de-açúcar é uma das mais lucrativas do país, com rentabilidade que chega a superar o algodão em 155%, algumas regiões, porém, enfrenta problemas climáticos, especialmente de disponibilidade de água.

“Por ter um dos custos mais altos do mundo, por causa da interferência excessiva dos governos na política de preços e das dificuldades em obter financiamentos para a ampliação e modernização das usinas, na Índia, a produção de açúcar não é competitiva para exportação”, ressaltou Tyagarajan.

Para se ter uma ideia, ele contou que 10% da produção de açúcar do indiano é obrigatoriamente distribuída à população por um preço que não é corrigido desde 2003.

 

TAILÂNDIA 

Amporn Kanjanakumnerd, diretora de operações da Mitr Phol, empresa produtora de açúcar da Tailândia, destacou a situação do país que possui clima tropical e terras férteis.

“Há cinco anos, o país começou a aumentar a produção e a capacidade das usinas também, mas a ampliação da produção de açúcar está atrelada ao crescimento da produtividade, pois não há terras disponíveis a preços atrativos”, contou.

“A Tailândia está em uma posição invejável, além de se localizar próximo dos grandes consumidores da Ásia, é um dos poucos países com capacidade de expansão de sua produção, o desafio é ter cana”, analisou Todd.

“Como as fazendas são pequenas, não vale a pena investir em mecanização, o que é feito via associações e cooperativas. Portanto, outro desafio é consolidar as pequenas propriedades”, relatou Amporn, acrescentando que somente 10% da safra tailandesa de cana é mecanizada. “Nossa meta é reduzir as queimadas em 20%, até 2020.”

 

Por equipe SNA/SP

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