Clima mais seco favorece cultivo de algodão para tecidos de luxo

Pesquisadores da Embrapa selecionaram linhagens de algodão de fibra longa e adaptadas às condições de produção do Brasil.  Foto: Eleusio Freire/Embrapa Algodão
Pesquisadores da Embrapa selecionaram linhagens de algodão de fibra longa e adaptadas às condições de produção do Brasil. Foto: Eleusio Freire/Embrapa Algodão

O algodão de fibras mais longas, adequadas para a produção de tecidos de luxo, pode ser cultivado em todas as regiões do Brasil que mantêm a cultura, mas no Nordeste o clima seco é mais propício, pois evita doenças foliares que costumam atacar este tipo de cultivo. A afirmação é do pesquisador Luiz Paulo de Carvalho, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa Algodão (PB).

“Este algodão (de fibra mais longa) é bastante suscetível a doenças foliares, que ocorrem bastante nas demais regiões do País de clima quente e úmido”, reforça.

Pesquisadores da Embrapa selecionaram linhagens de algodão de fibra longa e adaptadas às condições de produção do Brasil. O resultado foi divulgado, recentemente, na revista Crop Science com o título “Seleção para aumento do comprimento da fibra de algodão em progênies de Acala e tipos não Acala”. De acordo com Carvalho, durante a pesquisa foi alcançada elevada porcentagem de progênies (plantas filhas) de comprimento superior a 32 milímetros.

O algodão de fibra longa, explica o pesquisador, favorece a produção de fios mais finos utilizados pela indústria têxtil na confecção de tecidos de luxo e linhas de costura. Ele ainda ressalta que apenas 3% da produção de algodão no mundo são de fibras longas ou extralongas e está mais concentrada no Egito (que produz o conhecido algodão egípcio), Estados Unidos e Peru

“Em alguns países, há melhor preço para este algodão, pois se paga pela qualidade. Sua finalidade é a fabricação de tecidos finos de melhor qualidade, fabricação de linha de costura”, salienta Carvalho.

Conforme o pesquisador da Embrapa, geralmente o cultivo de algodão de fibras mais longas não é mais dispendioso para o cotonicultor.

“Todos os cuidados dispensados ao cultivo de algodão de fibra média devem ser usados para o de fibra longa. Somente se o algodão de fibra longa for conduzido irrigado é que pode ficar mais dispendioso, devido ao custo da irrigação.”

“Em alguns países, há melhor preço para este algodão, pois se paga pela qualidade. Sua finalidade é a fabricação de tecidos finos de melhor qualidade, fabricação de linha de costura”, salienta o pesquisador da Embrapa Algodão Luiz Paulo de Carvalho. Foto: Saulo Coelho/Embrapa Algodão
“Em alguns países, há melhor preço para este algodão, pois se paga pela qualidade. Sua finalidade é a fabricação de tecidos finos de melhor qualidade, fabricação de linha de costura”, salienta o pesquisador da Embrapa Algodão Luiz Paulo de Carvalho. Foto: Saulo Coelho/Embrapa Algodão

O ENSAIO

O ensaio para separar as linhagens de fibra longa começou no ano de 2008, pela Embrapa Algodão, com o cruzamento das cultivares Guazuncho 2, escolhida pela capacidade de produção, e Acala SJ4, pelo comprimento longo da fibra. A partir daí, foram selecionadas as plantas com maior comprimento de fibra.

“Foram avaliadas aproximadamente 600 plantas no Laboratório de Fibras e Fios (da Embrapa Algodão), sempre selecionando aquelas com maior comprimento de fibra e eliminando as outras. Ao final do experimento, chegamos a 35 linhagens, sendo grande parte de comprimento entre 32 e 34,1 milímetros”, conta o pesquisador.

Uma das vantagens deste material, informa Carvalho, é que ele é originário da espécie Gossypium hirsurtum.

“Esta espécie é produtora de algodão de fibra longa e extralonga. Tem uma resistência maior da fibra em relação ao algodão de fibra média, porque  é uma característica genética destes materiais.”

De acordo com o pesquisador, os materiais ainda serão avaliados em ensaios nos campos experimentais da Embrapa para certificar de que se mantêm as características da fibra. A previsão é de que, em três a quatro anos, seja selecionada uma cultivar de algodão herbáceo de comprimento de fibra próximo a extralonga, indicada para cultivo na região Semiárida.

CLASSIFICAÇÃO

A Embrapa Algodão destaca que as fibras do algodão são classificadas em curta, média, longa e extralonga, medidas em milímetros ou polegadas em HVI (High Volume Instrument), equipamento que faz medições em larga escala de amostras para avaliação de suas características, como comprimento, resistência, uniformidade, índice de fiabilidade, entre outras.

Em torno de 97% da produção mundial de algodão é de fibra curta e média. Os demais 3% produzidos, de fibra longa e extralonga, são produzidos no Egito, Estados Unidos (cada um com cerca de 40% da produção) e Peru. São os famosos algodões egípcios e algodões Pima.

Ainda segundo a Embrapa, o Brasil já cultivou algodão de fibra longa – o algodão arbóreo (Gossypium hirsutum L.r. marie galante) -, mas a variedade tem crescimento perene, o que significa que permanece viva no campo por vários anos, o que dificulta o manejo do bicudo-do-algodoeiro e praticamente já não vem sendo produzida nos últimos dez anos. Os novos materiais têm ciclo anual e facilitam o manejo do bicudo.

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MERCADO

Para Carvalho, o algodão de fibra longa e extralonga é um importante nicho de mercado, especialmente para os pequenos produtores do Semiárido, a exemplo de outros algodões especiais como o colorido e o orgânico.

“O Brasil tem um mercado potencial de cerca de 30 mil toneladas de pluma, que seriam suficientes para suprir esse mercado e deixaríamos de importar esses materiais”, ressalta.

O pesquisador também explica que a fibra de melhor qualidade serve de estratégia para a cadeia produtiva brasileira garantir mais competitividade.

“O algodão tem perdido mercado para as fibras sintéticas derivadas de petróleo. Por isso, o (novo) algodão é uma aposta para garantir a sustentabilidade da cultura, a partir do investimento de fibras naturais de qualidade diferenciada, propiciando melhor remuneração para o cotonicultor”, afirma.

Por equipe SNA/RJ

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